Estudos sugerem que a endometriose esteja relacionada a uma maior chance de parto prematuro, pré-eclâmpsia, hemorragia anterior ao parto e necessidade de opção pela cesariana. Todos esses são fatores que podem trazer risco para a saúde e a vida da gestante e do bebê.

Por isso, a SBE – Sociedade Brasileira de Endometriose e Cirurgia Minimamente Invasiva alerta que a endometriose, doença que atinge 10% da população feminina, é uma das condições que merecem cuidado no trabalho de atenção à saúde materna.

Presidente da SBE, a médica ginecologista Helizabet Salomão Abdalla Ayroza Ribeiro explica que ainda não é conclusiva a correlação entre a doença e os riscos para a gestante, mas ela pode estar associada à inflamação que a endometriose provoca no organismo.

“Saber que existe uma hipótese de aumento do risco de complicações reforça a recomendação para as gestantes tenham acesso a um pré-natal completo e estejam especialmente atentas à saúde durante a gravidez”, afirma.

Desde o início da gestação, a paciente com endometriose deve informar sobre a condição para o médico que a acompanha. Além disso, a recomendação é comparecer a todas as consultas e exames do pré-natal, se alimentar de forma saudável, fazer atividades físicas e procurar ajuda médica em caso de qualquer suspeita de que algo não vai bem.

De acordo com o Ministério da Saúde, uma a cada 10 mulheres é diagnosticada com endometriose, doença crônica e dolorosa, que afeta sua qualidade de vida, levando-a, muitas vezes, à depressão, entre outros sintomas.

Muitas doenças levam anos para serem diagnosticadas nas mulheres, não somente por falta de acesso à saúde, mas também pela falta de informação, o que pode trazer sérias complicações.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o diagnóstico da endometriose leva em média dez anos para ser feito. Essa é a maior dificuldade para o tratamento da endometriose, já que as dores causadas pela doença podem ser confundidas com dores rotineiras do ciclo menstrual.

Lembrado neste domingo (28/5), o Dia Nacional pela Redução da Mortalidade Materna revela que esse grave problema de saúde pública que afeta as mulheres brasileiras – oito morrem por dia por complicações do parto – é influenciada por fatores modificáveis e, portanto, podem ser evitados.

As condições socioeconômicas da população e o acesso a serviços de saúde são fundamentais para detectar antecipadamente doenças ou condições que tenham o potencial de trazer complicações.

Infarto, câncer de mama e depressão desafiam

Doenças isquêmicas do coração, como o infarto, são as principais causas de morte de mulheres, segundo dados são do Global Burden of Diseases (GBD). E o principal fator de risco para a incidência dessas doenças é a pressão alta, a recomendação é que a pressão não passe dos 13 por 8.

Embora seja considerada uma doença silenciosa, entre os sintomas mais comuns estão enjoos, tonturas, cansaço, visão embaçada, dificuldade para respirar, dor no peito, dor de cabeça forte, sangramento pelo nariz, zumbido nos ouvidos e ansiedade excessiva.

Além disso, somente em 2022, foram estimados 66.280 casos de câncer de mama e 16,5 mil de câncer de colo de útero, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Entre os tipos de câncer que mais atingem as mulheres, estão ainda o de pulmão e de colo de útero, além de outros tumores exclusivamente femininos.

“O câncer costuma apresentar sintomas quando já está muito avançado, por isso, sempre reforçamos a importância dos exames preventivos. Quanto mais cedo for detectado, maiores as chances de cura”, destaca a médica Kathiane Lustosa, diretora da Clínica Salvata, espaço em Fortaleza (CE) sobre a saúde e qualidade de vida da mulher.

Outros agravos que acometem bastante as mulheres são a infecção urinária, a fibromialgia, a depressão e a obesidade. O mais indicado para a prevenção e o tratamento de doenças como HPV, endometriose, câncer de mama e de colo de útero, fibromialgia, depressão e obesidade – que figuram entre as maiores incidências de agravamento e morte entre mulheres no Brasil – são consultas e exames regulares.

São práticas que podem fazer a diferença na saúde da mulher, já que o diagnóstico tardio pode prejudicar o processo de tratamento e cura. Mas um dos maiores desafios da saúde pública é oferecer serviços de qualidade à saúde integral da mulher.

“Muitas mulheres estão à frente dos cuidados com outros membros da família, seja pais, filhos ou maridos, e acabam deixando a própria saúde em segundo plano. Cuidar de que cuida é primordial. Consultas e exames periódicos preventivos não podem ser negligenciados”, reforça a médica Andreisa Bilhar, também diretora da Clínica Salvata.

Com relação à mortalidade materna, entre os principais pontos apontados pela médica Sara Arcanjo, outra diretora da Clínica Salvata, estão a falta de pré-natal adequado, o atraso vacinal e a demora em reconhecer as gestantes como grupo de alto risco. “Precisamos incentivar e apoiar a atenção básica, a mortalidade materna é fortemente influenciada pelas condições socioeconômicas”, frisa.

Para a médica, quando falamos em saúde da mulher, temos que enxergá-la em sua integridade e complexidade. “Problemas físicos, muitas vezes, podem estar relacionados ao emocional. Os profissionais da saúde precisam atuar em conjunto com o objetivo de aumentar a qualidade de vida das pacientes. Viver cada vez mais e melhor”, frisa Sara.

Para além do Outubro Rosa: prevenção de câncer de mama precisa ser pauta recorrente

Tumor é o mais comum entre mulheres tratadas no A.C.Camargo Cancer Center e a taxa sobrevida chega a 95%

Para 2023, o A.C.Camargo Cancer Center traz um alerta importante: a prevenção e o tratamento do câncer de mama precisam ser uma pauta recorrente. Isso porque, os dados do Observatório do Câncer alertam que a neoplasia foi a mais comum entre as mulheres tratadas na Instituição entre no período entre os anos 2000 e 2020. Ao todo, foram 13.385 casos registrados.

A líder do Centro de Referência em Tumores da Mama, Fabiana Baroni Makdissi, ressalta que, no Brasil, a doença é muito incidente nas mulheres, tanto em número de casos quanto em índice de mortalidade. Entre as causas para o aumento, está a falta de conhecimento e o medo de buscar diagnóstico para possíveis sinais, como bolinhas nas mamas.

“Nos períodos de campanha, nós identificamos uma maior procura por exames e informações relacionados ao câncer de mama. Isso não pode ocorrer somente em um período, precisamos que seja o ano todo”, defende a especialista.

A relevância do tema cresce ao se analisar a situação atual do Brasil e do mundo. Dados divulgados em novembro de 2022, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontaram um aumento de 2 meses e 26 dias na expectativa de vida da população brasileira. Nos últimos dez anos, o aumento foi de 2,4 anos. “O câncer é uma doença degenerativa, quanto mais velhas ficamos, maior é o risco”, contextualiza a Dra. Fabiana.

Outros pontos de alerta evidenciados pela médica são o aumento do índice de obesidade, do sedentarismo, do consumo de álcool e a volta do tabagismo, por meio dos cigarros eletrônicos.

Recentemente, um novo estudo da Universidade de Oxford, na Inglaterra, mostrou que todos os anticoncepcionais hormonais aumentam um pouco o risco do câncer de mama. Isso, para a mastologista, reforça a importância de as mulheres buscarem informações sobre seus próprios riscos, seu risco familiar, e de formas para de se prevenir da doença.

Junto a isso, uma pesquisa divulgada recentemente reforça a importância do amplo debate sobre o câncer de mama. O estudo, realizado com mulheres diagnosticadas com câncer de mama entre 1º de janeiro de 2000 e 31 de dezembro de 2012 no A. C. Camargo Cancer Center, mostrou que a taxa de sobrevida nos casos identificados em estágio inicial foi 89.7% (2000–2004) para 95% (2010–2012).

Por isso, neste Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher, a Instituição reforça a importância de incentivar e proporcionar o acesso à informação sobre prevenção e tratamentos para além das datas comemorativas, como o “Outubro Rosa”.

Dentre as diversas datas anuais de celebração às mulheres, temos uma extremamente representativa e simbólica, mas ainda carente de mais propagação. Todo 28 de maio carrega consigo não uma, mas duas formas de comemoração e alerta social: o Dia Internacional de Luta Pela Saúde da Mulher e o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna. Os objetivos são chamar a atenção da sociedade e das autoridades que representam os poderes públicos para esse grave problema de saúde e alertar (e conscientizar) a população sobre a saúde da mulher.

Palavra de Especialista

Você conhece o próprio corpo? Acesso à informação, um desafio à saúde feminina

Por Patrick Bellelis*

Celebrado desde 1987, o Dia Internacional da Luta pela Saúde da Mulher (28 de maio) lembra a preocupação com a falta de acesso à informação e de igualdade de oportunidades no que diz respeito aos cuidados, principalmente com relação à vida reprodutiva das pessoas com útero ao redor do mundo. A data evidencia os obstáculos no acesso à saúde reprodutiva para jovens cis e trans.

Anos de patriarcado levaram as mulheres a terem menos acesso a recursos de saúde, especialmente sexual. Com o tempo, elas começaram a reivindicar direitos e exigir igualdade, o que vem trazendo resultados ao longo do tempo; em janeiro, por exemplo, Brasil e Argentina assinaram uma declaração conjunta abordando uma série de ações em diferentes áreas relacionadas à saúde feminina.

O documento também cita a eliminação de barreiras de acesso aos serviços, além do fortalecimento do trabalho conjunto sobre pesquisa, desenvolvimento e produção de vacinas, medicamentos e inovações tecnológicas.

Entretanto, muito ainda precisa ser feito a favor do conhecimento sobre o próprio corpo. Por isso a importância de promover a informação e conscientização, dando visibilidade ao assunto, alertando profissionais de saúde e orientando cada vez mais mulheres a perceberem os sinais do corpo e buscarem ajuda médica quando necessário.

É importante manter a rotina ginecológica em dia, já a partir da primeira menstruação. Consultar um médico ao menos uma vez ao ano pode evitar uma série de doenças, sejam mais ou menos graves.

Muitas mulheres só procuram um profissional quando detectam algum sintoma preocupante, mas essa rotina deve ser feita mesmo sem nenhum problema aparente, para que ele possa ser evitado.

Somente com o trabalho preventivo é possível identificar doenças precocemente, aumentando a probabilidade de sucesso no tratamento. Essa rotina é essencial para todas as mulheres e quanto mais informação disseminada sobre assuntos relacionados à saúde feminina, mais os cuidados podem ser facilitados.

*  Colaborador do setor de Endometriose do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.

Com Assessorias

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