
O que aconteceu no Paraná, que é triste e grave, é mais uma repetição do que vem acontecendo não apenas no Brasil, na Amazônia, no Rio Grande do Sul, em São Sebastião, em Petrópolis, no norte de Minas, sul da Bahia, como no mundo inteiro também”, destacou o secretário-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini.
Segundo Carlos Rittl, diretor global de políticas públicas para florestas e mudanças climáticas da Wildlife Conservation Society (organização não governamental internacional), eventos recentes pressionam por compromissos mais efetivos na COP30.
Tivemos o furacão que assolou a Jamaica. Um tufão que passou pelas Filipinas, provocando mais de 180 mortes. E, depois, o mesmo com o Vietnã. Estamos vivendo na era de extremos. E isso impõe uma responsabilidade muito grande ao Brasil na presidência da COP30, assim como dos demais negociadores, a darem respostas”, disse Carlos.
“Por um lado, é reconhecer que a ação está mais lenta do que o necessário no corte de emissões de gases de efeito estufa. E a principal referência continua sendo o Acordo de Paris, para limitar o aquecimento global a 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais. Precisamos evitar que a interferência humana no sistema climático ultrapasse limites perigosos”, complementou.
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Sensibilizar os países para o ‘mundo real que está agonizando’
Astrini lembrou que os últimos dez anos foram os dez anos mais quentes da história. “Tudo isso deveria entrar para dentro da Conferência do Clima, mas, muitas vezes, o que a gente vê é que a reunião fica impermeável ao mundo real”, criticou Astrini, que representa a principal rede da sociedade civil brasileira com atuação sobre as mudanças climáticas.
O especialista espera que o evento do Paraná seja citado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na abertura oficial da COP, segunda-feira (10). e que essa “realidade” ajude a sensibilizar os países participantes sobre “o mundo real, que está agonizando”. O encontro de chefes de Estado foi realizado nas últimas quinta e sexta-feira.
Alguns países são mais vulneráveis a essa situação, como o Brasil, que depende da agricultura, a geração da nossa energia depende da regularidade climática, com as hidrelétricas. O presidente Lula deve fazer a abertura, pode ser que ele cite. A gente sempre espera que essas citações e essas realidades tenham efeito lá pra dentro”, complementa.
Abaixo, confira imagens aéreas de Rio Bonito do Iguaçu, município atingido por um forte tornado nesta sexta-feira, em vídeo gravado pelo governo do Paraná.
Eventos recentes pressionam por compromissos mais efetivos
O diretor da Wildlife Conservation Society reforça que os investimentos externos devem estar alinhados com a aplicação dos próprios municípios em medidas de adaptação climática. Cada região vive os impactos de maneira diferente e precisa estabelecer metodologias próprias aos desafios e vulnerabilidades locais.
Nessa COP, temos como uma das pautas triplicar os recursos disponíveis para apoiar países em desenvolvimento nas suas ações de adaptação e reduzir as suas vulnerabilidades aos impactos das mudanças climáticas”, disse Carlos Rittl.
O especialista ressalta, entretanto, que cada município deve pensar em estabelecer as próprias estratégias de adaptação. “Tivemos as chuvas severas que atingiram o Rio Grande do Sul. Nesses dois últimos anos, aqui na Amazônia, tivemos seca muito severa, o que agravou a situação dos incêndios. São exemplos que mostram ser necessária essa ação local.”
Investimentos urgentes em cidades mais resilientes
Uma das críticas comuns entre as organizações ambientais é a de que o tema “adaptação” recebe menos atenção e investimentos do que a “mitigação”. Reduzir as emissões de gases do efeito estufa é fundamental, mas as cidades precisam de investimentos urgentes para aumentarem a capacidade de lidar com os eventos extremos cada vez mais comuns.
Eu estou em Belém, prestes a iniciar o evento geral da COP30 e é preciso colocar na mesa dos políticos de que esse mapeamento já foi feito pelos cientistas. Todas as projeções apontam para a necessidade de preparar as cidades. E para fazer essa preparação, é obrigatório ter recurso financeiro”, disse Everaldo Barreiros, professor de meteorologia da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Barreiras explica que a COP em Belém vai discutir esse financiamento para que os países mais vulneráveis aos eventos extremos de mudanças climáticas possam estar preparados e saibam lidar com esses impactos. “Eles são inevitáveis. Precisamos preparar as cidades para diminuir esses prejuízos e, principalmente, proteger a vida”, complementou.
Da Agência Brasil






