O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é caracterizado por uma modificação no desenvolvimento neurológico cujos sintomas variam de acordo com o nível de comprometimento. Diante do crescente aumento de casos e maior visibilidade sobre o diagnóstico, inclusive tardio, muitas pessoas demonstram interesse em assistir filmes, documentários e séries com essa temática para entender melhor o que até pouco tempo era uma condição bem pouco falada.
Com isso, nos últimos anos houve um investimento significativo em produções cinematográficas com tal abordagem, com a proposta de combater o estigma que envolve o TEA, além de tornar o tema mais próximo do cotidiano de pessoas que convivem com o transtorno. Neste cenário, a última novidade é ‘Meu Filho, Nosso Mundo’, que estreia neste dia 15 de agosto nos cinemas brasileiros, com distribuição da Diamond Films.
O longa traz nada menos que Robert de Niro no papel de avô de um menino com autismo. Para quem não se lembra ou não sabe, De Niro, de 80 anos, é pai de Elliot De Niro, um jovem de 25 anos diagnosticado com autismo na vida real.
O ator – que tem outros três filhos – trouxe um pouco da sua sensibilidade pessoal para o projeto e ajudou a afinar o tom de ‘Meu Filho, Meu Mundo’, equilibrando a comédia por vezes ácida com a realidade crua da situação em que se encontra a família protagonista.
Uma jornada de amadurecimento familiar
O filme conta a história de Max Bernal (Bobby Cannavale), um comediante que está em baixa, tanto na carreira, quanto no casamento, que está falido e morando com seu pai, Stan, interpretado por Robert De Niro.
Max não concorda com Jenna (Rose Byrne) sobre a melhor maneira de cuidar do filho deles – Ezra (William A. Fitzgerald), ator mirim de 11 anos, diagnosticado com autismo. Cansado e decidido a mudar o jogo, decide levar Ezra para uma viagem de carro para encontrar um lugar onde possam ser felizes.
Stan embarca nessa jornada emocionante de amadurecimento familiar. Já na frente das câmeras, De Niro levou para a superfície do personagem os arrependimentos de um pai que desejava se tornar uma pessoa melhor.
Para o diretor, Tony Goldwyn – reconhecido por seu trabalho na atuação interpretando Carl Bruner em “Ghost – Do Outro Lado da Vida” (1990) – a contribuição de Robert De Niro foi muito valiosa. O cineasta contou que a relação de Cannavale e De Niro com William A. Fitzgerald foi como um retrato de uma família.
Roteirista e produtor do filme também são ‘pais atípicos’
O roteirista do filme, Tony Spiridakis, é pai de Max, um jovem de 24 anos diagnosticado com autismo. Sua escrita teve uma reflexão pessoal de como um pai deve parar de se culpar para acolher o filho.
Bob (Robert De Niro) falou muito sobre como o público tinha que saber que estava ouvindo a verdade e que o humor não poderia interferir nisso”, explicou Spiridakis. “Bob construiu Stan tão completamente na sua performance que você o sente com pouquíssima exposição. Você apenas sente a lacuna que precisa ser curada entre ele e Max”, completou o roteirista.
William Horberg, produtor do filme, que também é pai de um filho com transtorno do espectro autista, relembra que ficou tocado ao ler o roteiro. “Como pai de um rapaz de 18 anos com autismo, a história me nocauteou. Foi tão honesta e real… Eu pude sentir que foi escrita por alguém que viveu essa experiência”.
Confira o trailler do filme
‘Um retrato de família’, diz cineasta
Através dos insights do Bob, o Tony criou um relacionamento bem mais profundo entre os três homens, porque não importa o quanto eles se amem, a comunicação emocional é difícil para eles”, disse Goldwyn. “Bobby e Bob já se conheciam (de trabalhos anteriores), e no momento que conheceram William parecia que eles faziam parte de uma família! Os laços já estavam ali”.
Goldwyn ainda discorre mais sobre o sentimento que o filme pode causar e sua expectativa com o longa. “Eu espero que todas as pessoas encontrem uma parte delas nessa história emocional e sejam movidas por ela. Pode ser algo muito confuso tentar ser uma família, mas ao mesmo tempo essa é a beleza e a alegria disso”.
O filme traz ainda no elenco os atores Rainn Wilson, Whoopi Goldberg e Vera Farmiga.
Outros filmes que abordam o autismo ou personagens autistas
Mais Que Especiais (2019)
Sinopse: Bruno e Malik mantêm organizações de treinamento para cuidadores de casos graves de autismo. Quando o governo fica na cola de Bruno, ele vê seu projeto correr perigo.
Diretor: Olivier Nakache, Éric Toledano
Elenco: Hélène Vincent, Reda Kateb, Vincent Cassel
Comédia | 12 anos | FRA, BEL | 112’
Music (2021)
No catálogo do Telecine, disponível dentro do Globoplay, Prime Video Channels e via operadoras, a partir do dia 12. No Telecine Premium, dia 15.
Sinopse: Logo após conseguir ficar sóbria, Zu recebe a notícia da morte de sua avó e que agora se tornou a única guardiã de sua meia-irmã chamada Music, uma jovem com autismo.
Diretor: Sia
Elenco: Kate Hudson, Leslie Odom Jr., Maddie Ziegler, Mary Kay Place
Drama | 16 anos | USA | 105’
O que você pode aprender com as séries sobre autismo?
São muitos seriados que retratam o problema de forma lúdica, divertida, mas com a seriedade necessária para divulgar informações sobre o autismo. Para a terapeuta ocupacional do Hospital Santa Mônica, Jéssica Bastos Chaves, que é especializada em TEA na adolescência e formação em integração sensorial de Ayres, é possível aprender com esses seriados e como os protagonistas com autismo se comportam mediante situações que desafiam as habilidades deles.
Confira algumas dessas séries sobre autismo que proporcionam importantes aprendizados sobre a melhor forma de conviver com o espectro e a entender a relevância da terapia infantil.
The Good Doctor
Disponível na Globoplay, a série tem como pano de fundo o drama médico com um personagem autista interpretado por Freddie Highmore, que atua de forma brilhante. Essa é mais uma das séries sobre autismo que atraem diferentes públicos, já que o roteiro também envolve diversas tramas da rotina hospitalar que desafiam o jovem médico recém-formado Shaun Murphy.
Extremamente talentoso e apegado a detalhes minuciosos, Shaun tem um tipo de autismo chamado Savant, um raro distúrbio psíquico que o torna especializado em áreas peculiares, mas que dificulta muito a interação com o mundo ao seu redor. Lançada em 2017, The Good Doctor é um dos seriados queridinhos dos profissionais de saúde brasileiros.
Atypical
O protagonista de Atypical — série disponível na Netflix — é Sam, um adolescente autista que apresenta diferentes limitações, como a ansiedade, que provoca uma montanha-russa emocional em alguns enredos. Mesmo assim, o tema é abordado de forma sutil e explora a leveza e o humor das descobertas e paixões da adolescência de Sam.
O personagem é um menino tímido, com uma inteligência acima da média e apaixonado por pinguins. A trama envolve a dificuldade de relacionamento afetivo, pois Sam enfrenta esse dilema ao tentar arrumar uma namorada. Conflitos familiares também são perceptíveis, já que a mãe do garoto é superprotetora e tem muita dificuldade para compreender essa etapa da vida de Sam.
Amor no espectro
De modo similar a um reality show, a série na Netflix aborda os desafios que o TEA enfrenta nos relacionamentos afetivos. A temática é trabalhada com bastante sensibilidade, mas focada na proposta de gerar empatia em quem assiste. O objetivo é despertar no espectador a curiosidade sobre a maneira como as pessoas com dificuldades sociais encontram o amor.
Touch
Jake (David Mazouz) tem 10 anos de idade e é o protagonista diagnosticado com autismo desde que nasceu. Filho de Martin, que tenta dar um novo sentido à vida depois da perda da esposa, agora tem a responsabilidade de cuidar do filho autista. Ao perceber as habilidades de Jake, o pai começa a acreditar que o filho é bem mais do que os olhos veem.
Uma das propostas da série — originalmente transmitida pelo canal FOX — é chamar a atenção para a necessidade de perceber os diferenciais positivos que muitos autistas apresentam. Em Touch, Jacke é aficionado por tecnologia, área que domina com muita facilidade. Tanto que ele desperta a curiosidade do pai para descobrir um modo de utilizar isso a fim de amenizar outras dificuldades do filho.
As séries sobre autismo apresentam diferentes perspectivas e abordam subtemáticas importantes de acordo com a expressão das características de cada tipo de autismo. Diante disso, destacamos alguns ensinamentos observados nos seriados sobre o TEA. Confira!
1. Importância da empatia
A relevância da empatia foi abordada em Touch ao despertar a atenção para a necessidade de acolhimento e compreensão das dificuldades apresentadas pelo protagonista. Um olhar mais empático ajuda a lidar com indivíduos com transtornos, cujas peculiaridades vão muito além da deficiência.
2. Superação de dificuldades em relacionamentos
Dados da OMS destacam que, de cada 160 crianças, uma apresenta autismo. O órgão alerta para a importância de priorizar a atenção à saúde mental e ao bem-estar emocional dessas pessoas, pois os sintomas do TEA se manifestam na infância e permanecem até a fase adulta. “Nas séries, percebemos o quanto é necessário superar os desafios que envolvem relacionamentos afetivos e sociais”.
3. Poder da escuta
Na interação com autistas, a escuta é fundamental para construir laços, já que os autistas são introspectivos. Como ocorre em The Good Doctor, quando os demais personagens ouvem o médico autista, ele interage melhor e encontra uma saída para os problemas que o incomodam.
4. Necessidade de inclusão
De acordo com um estudo publicado pelo Scielo, ainda que a Constituição Federal defenda o atendimento igualitário às demandas educativas, a realidade do processo de inclusão está bem distante do que é estabelecido. De modo sutil, os seriados retratam a importância de adotar estratégias inclusivas mais eficazes para atender às particularidades dos autistas.
Vale destacar que a maioria das lições aprendidas nas séries sobre autismo está centrada na necessidade de aprender a lidar com as características desse transtorno. Logo, a busca do auxílio de profissionais especializados é essencial para reduzir os impactos desse distúrbio sobre a rotina dos autistas”, afirma a especialista.
Como é o contato visual no autismo?
Algumas crianças e adultos com o espectro autista não olham quando chamam seu nome ou tentam mostrar algo, mesmo que seja do interesse deles. Contudo, quem apresenta autismo leve consegue interagir, nem que seja com um olhar mais breve. No segundo caso, a maior dificuldade do TEA é manter o olhar fixado no interlocutor“.
De todo modo, profissionais dessa área alertam para a importância de desenvolver a capacidade de estimular o contato visual no autismo. Por meio desse tipo de contato, a criança é capaz de imitar os movimentos articulatórios da fala de outras pessoas, o que facilita a aprendizagem para produzir os primeiros sons verbais.
Logo, o contato visual é essencial para promover o relacionamento interpessoal, a percepção do que acontece no ambiente e para estabelecer conexões mais significativas com o mundo. A observação dessa dificuldade é essencial para a avaliação diagnóstica do autismo infantil.
Com Assessorias