Quase metade (49%) dos trabalhadores ao redor do mundo relata sofrer com estresse diário no trabalho, de nível moderado a elevado, segundo o Relatório de Tendências Globais 2025 do ManpowerGroup. Ao mesmo tempo, apenas 21% acreditam que seus empregadores oferecem apoio para seu bem-estar emocional. Em 2024, por exemplo, houve quase meio milhão (470 mil) de afastamentos do trabalho por ansiedade e depressão no Brasil, o maior número em dez anos, segundo o Ministério da Previdência Social.
Esses dados coincidem com a chegada de uma data importante: o Abril Verde, mês de conscientização sobre segurança e saúde no trabalho, que traz a cultura de saúde no ambiente corporativo para o centro do debate.
É muito mais do que garantir plano de saúde e acompanhamento médico adequado. O contratante deve se preocupar em promover hábitos saudáveis, capacitar gestores para apoiar o bem-estar dos colaboradores e implementar ações de conscientização sobre saúde física e mental”, analisa Wilma Dal Col, diretora de Recursos Humanos no ManpowerGroup.
Ferramentas de IA reduzem a produtividade e trazem ainda mais sobrecarga
Um dos primeiros fatores a observar é a aplicação da tecnologia no cotidiano dos profissionais, pois o uso crescente de Inteligência Artificial pode estar diretamente ligado ao aumento no número de casos de burnout — no Brasil, cerca de 30% dos profissionais sofrem com o esgotamento emocional, segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT).
Um dado que apoia essa percepção é que 47% dos profissionais que usam IA no dia a dia de trabalho relatam não saber como alcançar o nível de produtividade esperado pelos seus empregadores, ainda segundo a pesquisa da ManpowerGroup. Além disso, três em cada quatro profissionais (77%) revelam que, diferente do que muitas pessoas pensam, as ferramentas de IA reduzem a produtividade e aumentam a carga de trabalho, trazendo ainda mais sobrecarga.
Números como esses revelam uma oportunidade para os empregadores investirem no tratamento de quadros de saúde mental no ambiente de trabalho, o que pode trazer um aumento na produtividade dos colaboradores em até quatro vezes, de acordo com estudos da OMS.
Millennials estão mais propensos a sofrer com o estresse diário
Outro ponto de atenção é a diferença de necessidades entre os colaboradores, dependendo do grupo geracional em que estão incluídos. Por exemplo, profissionais da Geração Z, nascidos entre 1996 e 2012, enfrentam questões de saúde mental e têm maior dificuldade de comunicação do que pessoas em gerações anteriores; sem contar que uma de suas grandes expectativas de carreira é justamente encontrar empregadores que se preocupem com seu bem-estar.
Já a maioria dos Millennials, que têm entre 28 e 43 anos, ocupa cargos mais altos na hierarquia, então precisa manter boas relações com seus subordinados e superiores. Na vida pessoal, o grupo geralmente se ocupa do cuidado com os filhos e/ou dos pais mais velhos. Por esses fatores, esses profissionais estão mais propensos a sofrer com o estresse diário, em uma proporção superior à média geral, chegando a 53%.
Até o regime de trabalho deve ser observado, pois oferecer mais flexibilidade para alguns profissionais pode gerar um sentimento de ressentimento entre os que precisam trabalhar presencialmente. Para contornar o problema, as empresas podem transformar o ambiente de trabalho em um espaço que promova o bem-estar e a interação – tanto que uma pesquisa feita pela WeWork mostra que a procura por espaços de trabalho compartilhados aumentou 20% após a pandemia.
Saúde mental e redes sociais
O uso de redes sociais também é um ponto de atenção para o surgimento do burnout e esgotamento. Wilma aponta que incentivar um processo educativo mais saudável sobre a relação com as redes também deve entrar no radar dos empregadores.
Ao usar mídias sociais, as pessoas ficam em atividade e com o cérebro sobrecarregado o tempo todo. Então, elas estão vivendo a vida pessoal fora do expediente, mas olham mensagens relacionadas ao trabalho; assim como durante o trabalho, sobrecarregam a mente olhando as redes sociais. Empresas precisam estimular uma rotina mais equilibrada e um aprendizado sobre como usar essa, e outras tecnologias, sem que as pessoas fiquem reféns delas”, conclui Wilma.
Segundo ela, as maneiras pelas quais as empresas podem ajudar seus colaboradores vão desde identificar as causas da queda no desempenho até oferecer acesso a recursos para cuidar da saúde mental. “Os colaboradores também devem se sentir à vontade para procurar ajuda da empresa quando precisarem, seja para capacitar-se ou fazer pausas estratégicas. Tudo isso também melhora sua confiança no próprio trabalho”, analisa.
Com Assessorias