Nos meses de junho e julho, o Brasil celebra a tradicional festa de São João, um evento repleto de fogos de artifício, fogueiras e balões. Um verdadeiro barril de pólvora que mistura ainda produtos químicos e eletricidade. O espetáculo pirotécnico muitas vezes é operado por pessoas sem a orientação adequada. Tudo isso, e mesmo acidentes com comidas quentes, gera um aumento no índice de atendimento por queimaduras em todo o país.
Não à toa o Dia Nacional de Prevenção às Queimaduras (6/6) acontece neste inicio de junho, quando as tradições se iniciam em todo o país. Por isso, a Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) lança a campanha Junho Laranja, como um alerta para os acidentes desta época do ano.
De acordo com boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde em dezembro do ano passado, entre os anos de 2015 a 2020 foram registradas 19.772 mortes por queimaduras no Brasil. A eletricidade, um dos agentes causadores de queimaduras, foi o motivo por trás de 9.117 óbitos, em média 46% do total notificado no período.
Estima-se que o Brasil registre aproximadamente 1 milhão de acidentes com queimaduras anualmente. Desses, 100 mil vítimas procuram assistência hospitalar e cerca de 2,5 mil acabam falecendo, direta ou indiretamente, em decorrência das lesões. Estudos mostram que 20% a 29% das queimaduras estão relacionadas a acidentes de trabalho.
Avanço no tratamento de queimaduras graves
Muitas novidades vêm surgindo no mercado para tratar queimaduras. Mas você sabia que a membrana amniótica – a camada mais interna da placenta, que envolve o bebê ainda dentro do útero e que sai junto com a placenta durante o parto – é capaz de curar até feridas mais profundas?
Autorizada no Brasil somente em outubro de 2021 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), a utilização da membrana amniótica de recém-nascidos para tratamentos clínicos é um procedimento ainda pouco comum no Brasil, mas começa a ganhar visibilidade.
Recentemente, o uso desse tecido salvou a visão de um recém-nascido no Hospital Universitário Evangélico Mackenzie (HUEM), em Curitiba. O pequeno Anthony Amaral havia nascido com uma má formação nos olhos — ambos não abriam após o nascimento. O procedimento, realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), aconteceu no final de fevereiro de 2023 e foi um sucesso.
Membrana amniótica tem poder curativo biológico
Para a médica e cientista Karolyn Sassi Ogliari, pós-doutora em Biologia Regenerativa e Células-Tronco, isso representa mais um avanço em benefício das milhares de vítimas de queimaduras que ocorrem no Brasil todos os anos. Estudos mostram que essa membrana pode atuar como um curativo biológico, pois apresenta células e outros componentes proteicos com potencial para proteger a ferida, acelerar a cicatrização e aliviar a dor.
Segundo ela, essa técnica já é utilizado em muitos países da América Latina, América do Norte e Europa como curativo para queimaduras superficiais e profundas, tratamento de úlceras varicosas e em feridas causadas por diabetes, além de cirurgias oftalmológicas.
“A maioria das terapias com este material biológico está direcionada ao tratamento de queimaduras graves, enfermidades oftalmológicas e cicatrização de feridas”, explica Karolyn.
Diretora do Hemocord, empresa de biotecnologia voltada para armazenamento de produtos de terapia celular para a Medicina Regenerativa, que fornece o serviço de coleta da membrana amniótica para fins terapêuticos, a médica explica as propriedades curativas do material, que é coletado durante o nascimento do bebê.
“A placenta é levada então ao laboratório e lá processada para separação da membrana. Esse material representa um curativo biológico pela riqueza em fatores de crescimento e citocinas que comprovadamente promovem a cicatrização de feridas”, explica.
Segundo ela, ensaios clínicos para tratar queimaduras na pele e alterações na córnea mostram que as células-tronco da membrana amniótica aceleram a recuperação por meio da inibição da inflamação e da liberação de fatores de crescimento.
“As células-tronco mesenquimais amnióticas humanas tem funções de regulação imunológica, anti-inflamatória e regeneração de vasos. Por apresentar essas propriedades, a membrana tem múltiplos usos em diversas áreas da medicina”, explica.
O que são os ferimentos e seus danos
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define as queimaduras como lesão provocada com alguma fonte de calor ou frio, produtos químicos, eletricidade, radiação, e até por animais e plantas (como larvas, água-viva, urtiga), e outros.
As queimaduras são classificadas pela extensão da área de superfície corporal acometida e pela profundidade. Tratamento, prognóstico e disposição são amplamente determinados pelo tamanho e localização de todas as queimaduras de espessura parcial e total.
As lesões de primeiro grau afetam apenas a epiderme, camada mais superficial da pele. Queimaduras de segundo grau afetam a epiderme e parte da derme, camada intermediária da pele. E as mais graves, queimaduras de terceiro grau afetam epiderme, derme e estruturas mais profundas.
Cuidados para evitar queimaduras
A Sociedade Brasileira de Dermatologia alerta para acidentes com feridos graves e mortes que pode e deve diminuir. “É preciso ter muito cuidado com líquidos, álcool e eletricidade, inclusive instalações mal feitas que podem dar curtos circuitos e provocar incêndios”, destaca o vice-presidente da Carlos Barcauí.
Entre os principais conselhos, ele recomenda atenção às instalações elétricas, não deixar crianças pequenas sós perto de fornos, fogo, produtos químicos ou instalações mal feitas.
“Acidentes para as crianças, especialmente são muito graves e as queimaduras de pele afetam também a autoestima e a qualidade de vida, até porque, muitas vezes exigem cirurgias”, alerta o médico
Nas épocas de queimadas e matas onde elas ocorrem também há muito risco para as pessoas, de queimaduras por inalação, nas vias aéreas e no corpo. Por isso, os grupamentos de Bombeiros sempre orientam a população a evitar incêndios:
– Em se percebendo um princípio de incêndio, caracterizado pela fumaça em meio a vegetação, aciona as equipes através do através do 193;
– Incêndio em vegetação é crime na Lei Federal nº 9605, de fevereiro de 1998, artigo 41, “Provocar incêndio em Mata ou Floresta”. A pena é de 2 à 4 anos de reclusão mais multa, se doloso; ou 6 meses até 1 ano de detenção mais multa, se culposo.
Há exigência de planos de combate aos incêndios para edificações e deve-se fazer manutenção preventiva sempre.
Com Assessorias