Com a pandemia do novo coronavírus, 30% dos doentes internados pela Covid-19 estão apresentando insuficiência renal na UTI. Por conta disso muitos acabam precisando de diálise mesmo após a alta. Foi o caso do médico Jorge Arnaldo Valente Menezes, de 66 anos, que também é nefrologista e diretor da Clínica de Doenças Renais (CDR) de Nova Iguaçu (RJ). Acostumado a salvar a vida de muitos pacientes renais crônicos, ele se viu de uma hora para dependente da máquina que faz a filtragem do sangue após ficar 38 dias internado.

Tornou-se paciente e recebeu o tratamento que há três décadas oferece a milhares de pessoas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em uma das mais importantes clínicas de diálise do Estado do Rio de Janeiro, que atende pacientes do SUS e de plano de saúde da Baixada Fluminense. O médico nefrologista aprendeu como paciente infectado pela Covid-19 que não são os remédios que curam essa doença. 

Foi uma lição de vida. Acredito que uma boa equipe multifuncional é que faz a diferença no tratamento de um paciente em uma unidade intensiva. Foi uma lição para um médico que tem 42 anos de formação como eu. Nessa doença, os profissionais é que estão salvando vidas”, constatou o especialista.

Dr. Jorge, que não tinha qualquer comorbidade, teve problemas de coagulação e pneumonia avançada, ficou sedado e internado na UTI. “Eu nunca tinha tido problemas renais. Aliás, nunca fiquei internado. Tive que fazer hemodiálise por três semanas. Fiquei em coma induzido. Foram três semanas sem urinar. Um verdadeiro pesadelo o que eu vivi. Por isso repito a todos: não corram o risco de pegar essa doença. Ninguém sabe quem vai agravar. Não queiram saber  o que é isso”, relembra.

Confira o depoimento emocionante do dr. Jorge Arnaldo:

Clínicas de diálise pedem socorro

Dia 27 de agosto é o Dia D da Diálise, mobilização nacional contra os cortes do governo federal para o tratamento. Com o mote Vidas importam! A Diálise não pode parar, a ação marca a luta por reivindicações e melhorias para o setor, unindo Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT), a Sociedade Brasileira de Nefrologia e a Federação Nacional de Associações de Pacientes Renais e Transplantados do Brasil (Fenapar).

Juntas, essas entidades reforçam a necessidade de oferecer condições adequadas para essas clínicas, que já enfrentam uma grave crise financeira.  s principais reivindicações da ABDCT são pela adequada remuneração das 800 clínicas que prestam serviços para o SUS, garantindo tratamento de qualidade e acesso para todos os pacientes renais crônicos.

O presidente da ABCDT, Marcos Alexandre Vieira, explica que os procedimentos visam propiciar o adequado tratamento à população dialítica, já considerada de alto risco. Segundo ele, boa parte desses pacientes é constituída por diabéticos e pessoas com outras comorbidades que precisam manter seu tratamento de forma crônica em todo o país.

Segundo ele, entre as medidas que precisam ser adotadas nos casos de pacientes renais crônicos suspeitos e positivos ao Covid-19, estão a aquisição de equipamentos de proteção individual, a criação de local próprio de isolamento para a Covid-19 nas unidades de diálise, a abolição do reuso nos casos de pacientes infectados confirmados.

Estão sendo consideradas a contratação emergencial de pessoal qualificado para atender esses pacientes, viabilizando a criação de turnos extras para realizar hemodiálise nos infectados, além do pagamento de hora extra para funcionários que poderão vir a cobrir o turno de outros funcionários afastados por contraírem a Covid-19.

Procedimento de filtragem do sangue, hemodiálise ajuda a salvar vidas (Foto: Banco de Imagens)

Paciente descreve dificuldades encontradas por renais crônicos

Hoje são 140 mil brasileiros dependendo de diálise no Brasil, sendo cerca de 10 mil no Estado do Rio de Janeiro. O drama desses pacientes que sofrem com insuficiência renal é agravado pela falta de políticas públicas no país. O alerta é de Gilson Nascimento, presidente da Associação dos Renais e Transplantados do Estado do Rio de Janeiro (Adreterj). Ao Portal ViDA & Ação, ele fala das dificuldades encontradas pelos pacientes que precisam de diálise, uma questão agravada durante a pandemia do novo coronavírus.

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Projeto de lei para apoio às clínicas de diálise

Vieira lembra a grave crise financeira e os desafios que as clínicas prestadoras de assistência aos pacientes renais crônicos em diálise vivem historicamente. Por isso, a ABCDT, junto às demais entidades, buscam mobilizar deputados para a subscrição do Projeto de Lei nº 2270/2020, que viabiliza auxílio financeiro da União para as clínicas de diálise que prestam serviços ao SUS.

A proposta é permitir que atuem de forma coordenada no combate à pandemia do coronavírus, além de assegurar a qualidade dos profissionais de saúde que atuam nesses estabelecimentos, considerando o alto risco de contaminação.

O incentivo solicitado por meio do PL seria direcionado às particularidades do cuidado com pacientes que realizam TRS, garantindo as condições de segurança aos profissionais que atendem os pacientes renais crônicos, que dependem do tratamento de Terapia Renal Substitutiva (TRS) para sobreviver, reduzindo o risco de novas contaminações.

Esse recurso seria disponibilizado por meio de uma fatura extra mensal para custear o aumento dos custos dos insumos, de R$ 257 milhões para o conjunto das clínicas de diálise que oferecem serviços para o SUS. O montante, que considera em torno de R$ 2.250,00 por paciente, faria frente aos custos dos quatro primeiros meses da pandemia, de 15 de março a 15 de julho.

Diante desse quadro de pandemia, contamos mais uma vez com o apoio da Câmara dos Deputados, sempre parceira e atuante, para uma atenção especial ao setor. Nossa maior preocupação é tratarmos diariamente de um público com debilidades específicas, aliada ao grande potencial de mortalidade que o Covid-19 pode atingir nesses pacientes”, ressalta o presidente da ABCDT.

A deputada Carmen Zanotto, autora do PL, ressalta que as indústrias fornecedoras aumentaram o custo dos insumos em até 200%. Além disso, as clínicas de diálise viram um aumento de custos por conta das medidas de isolamento, afastamento de profissionais infectados e reajustes abusivos de equipamentos de proteção individuais (EPIs). “O setor precisa desse aporte financeiro emergencial desse 1º semestre, para evitar um colapso total na rede de serviços especializados de nefrologia”, defende a parlamentar.

Mais sobre o Dia D da Diálise

A ação convoca as clínicas, profissionais da área, pacientes e familiares para aderirem à campanha online #adialisenaopodeparar. Peças de divulgação com frases de impacto e apoio à causa, curiosidades e depoimentos de pacientes estão sendo divulgados em www.vidasimportam.com.br, no Facebook @VidasImportam ou no IG @vidasimportam.

No ano passado, as ações presenciais aconteceram simultaneamente em 40 cidades do país, mobilizando mais de 16 mil pessoas em defesa do tratamento renal, por meio de audiências, palestras e serviços gratuitos oferecidos à população. A ação tem apoio da Aliança Brasileira de Apoio à Saúde Renal (Abrasrenal) e da Sociedade Brasileira de Enfermagem em Nefrologia (Soben).

Com assessoria ABCDT

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