O Brasil ultrapassou a marca de um milhão de pessoas vivendo com o HIV, segundo o Ministério da Saúde. No mundo, o Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV/Aids (Unaids) estima um total de 38,4 milhões de indivíduos infectados pelo vírus.

Segundo dados do Unaids, do total de pessoas vivendo com HIV, 840 mil no país já foram diagnosticadas, 700 mil estão em tratamento, e 660 mil estão com carga viral indetectável. Ou seja, temos quase 300 mil pessoas vivendo com HIV que não estão em tratamento, dessas, 140 mil já receberam o diagnóstico.

Em alusão ao Dia Mundial da Saúde, comemorado sempre em 7 de abril, a Agência Aids traz o panorama da epidemia de HIV/aids no Brasil. De acordo com a agência, o cenário no Brasil acompanha um ritmo crescente de novas infecções registradas a cada ano durante a última década.

A edição mais recente do Boletim Epidemiológico de HIV/Aids, entre 2011 e 2021, apontou que o número de diagnósticos saltou 198%, passando de 13,7 mil para 40,9 mil. Já em 2022, até junho, foram 16,7 mil registros.

Por outro lado, graças à terapia antirretroviral (TARV), os casos de aids caíram 18,5% no mesmo período, passando de 43,2 mil novas notificações, em 2011, para 35,2 mil, em 2021. Isso acontece porque os medicamentos atuais conseguem controlar a infecção do HIV, impedindo a evolução para a sua forma grave, que é a aids. Por isso, nem todos que vivem com o HIV têm aids.

Com o alcance do tratamento, que está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) e é realizado hoje geralmente com apenas um ou dois comprimidos ao dia, os óbitos associados à síndrome a cada ano também passaram por uma queda na última década, de 12,1 mil para 11,2 – diminuição de 7,5%.

Na série histórica, que compreende o período de 2007 a junho de 2022, 305.197 (70,2%) casos de HIV foram notificados em homens e 129.473 (29,8%) em mulheres. O boletim informa que a proporção entre os sexos sofreu alteração ao longo do tempo: em 2007 era de 14 homens para cada dez mulheres e, a partir de 2020, passou a ser de 28 homens para cada dez mulheres.

Cresce incidência de HIV em jovens

Apesar dos bons resultados nas taxas do vírus em geral, o boletim trouxe um dado preocupante: o de que aumentaram no Brasil os casos de infecção por HIV em jovens com idade entre 15 e 24 anos. O documento mostra que, entre 2007 e junho de 2022, foram 102.869 casos (23,7%) nessa população, sendo 25,2% em pessoas do sexo masculino e 19,9% nas do sexo feminino.

Só em 2022, foram contabilizadas 9.516 infecções pelo vírus em pessoas com idade entre 15 e 39 anos, sendo 813 (4,9%) na faixa de 15 a 19; 2.916 (17,5%) na de 20 a 24; 3.251 (19,5%) na de 25 a 29 e 2.536 (15,2%) na de 30 a 34 anos. No ano passado, foram 24.144 —2.080 (5,1%) de 15 a 19; 7.475 (18,3%) de 20 a 24; 8.469 (20,7%) na de 25 a 29 e 6.180 (15,1%) na de 30 a 34 anos.

Em se tratando da taxa de detecção de aids, ou seja, quando já há a manifestação da doença, a maior concentração também se dá entre pessoas de menos idade. No período de 1980 a junho de 2022, atingiu principalmente os indivíduos com idade entre 25 e 39 anos, sendo 51,7% dos casos no sexo masculino e 47,4% no feminino.

Entre 2011 e 2021, um total de 52.513 jovens com HIV, de 15 a 24 anos, de ambos os sexos, evoluíram para aids. Em 2021, a razão de sexos (expressa pela relação entre o número de casos em homens e mulheres) entre jovens de 15 e 24 anos foi de 36 homens para cada 10 mulheres.

No mesmo ano, em quase todas as faixas etárias, com exceção dos 5 aos 9 e dos 10 aos 14 anos, as taxas de detecção do sexo masculino foram superiores às do feminino. Para os grupos de 20 a 24 e de 25 a 29 anos, atingiram valores 3,8 e 3,9 vezes maiores do que as taxas das mulheres, respectivamente.

No Carnaval 2023, a secretária de Vigilância em Saúde, Ethel Maciel, chamou atenção para as pessoas que vivem com HIV e não sabem. “Isso é muito grave”, disse. “Essas pessoas são jovens. O primeiro passo para a prevenção é termos o diagnóstico. Precisamos que nossos jovens saibam da preocupação e dificuldade do tratamento.”

 

Desigualdade racial nas mortes por HIV

Há uma desigualdade racial quando analisadas as mortes que tiveram a aids como causa básica. Enquanto os registros caíram 20,8% entre a população branca, eles cresceram 10,3% entre a população negra – composta por pretos e pardos.

Em 2011, pessoas brancas representavam 44,4% das mortes, taxa que passou para 37,9% em 2021. Já a população negra, que antes era responsável por 49,6% das mortes, passou a contabilizar 59% do total.

HIV em gestantes registra alta

Outro dado importante apresentado pelo Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2022 é o de alta no número de diagnósticos de HIV em mulheres grávidas.

Pelo documento do Ministério da Saúde, no período de 2000 até junho de 2022, foram notificadas 149.591 gestantes parturientes/puérperas com infecção pelo HIV. Entre 2011 e 2019, a taxa de detecção deste grupo subiu 30,8%, passando de 2,3 para 3 casos a cada mil nascidos vivos, seguida de certa estabilidade nos anos consecutivos. Em relação à faixa etária, mais da metade dos casos encontram-se entre 20 e 29 anos de idade, o que novamente mostra a maior incidência entre os jovens.

Entre 2001 e 2021, a queda neste índice foi de 66%, passando de 3,4 casos/100 mil habitantes para 1,2 casos/100 mil habitantes. Todas as regiões acompanharam o movimento no período avaliado. A Sul foi a que teve a maior diminuição (83,8%), seguida da Centro-Oeste (79,7%), da do Sudeste (74,2%), da Norte (51,9%) e da Nordeste (39,8%).

Mais acesso a prevenção e diagnóstico no SUS

Desde quando assumiu a direção do Departamento de Vigilância de IST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, em janeiro, o médico Draurio Barreira vem dizendo que quer diminuir ou até eliminar doenças transmissíveis que ainda representam uma grave ameaça à saúde pública, como a tuberculose e a aids.

Para isso, segundo ele, é preciso oferecer e ampliar o acesso a novas tecnologias para prevenção e diagnóstico no Sistema Único de Saúde (SUS), além da reabertura do diálogo com a sociedade.

“Eu acredito na possibilidade da eliminação dessas doenças, como a sífilis congênita, a tuberculose e até da aids como problema de saúde pública”, disse. “No caso da aids, é um pouco mais complexo, e aí a gente não pode desprezar a participação da sociedade civil nessa resposta nacional, que não inclui só o Ministério da Saúde, mas também outros setores do governo federal, as secretarias estaduais, municipais e o sistema privado”, afirmou em entrevista ao g1.

O diretor quer ampliar o diagnóstico do HIV, com foco no autoteste e na descentralização do diagnóstico, hoje feito apenas por médicos.

Dr. Draurio Barreira defende que o autoteste para HIV seja mais acessível e universal, com a possibilidade de que outros profissionais ou até que as próprias pessoas façam o diagnóstico.

“A gente pode ter um diagnóstico desse e outros agravos que não seja por um profissional médico? É uma discussão necessária”, explicou. O médico ainda quer reabrir o diálogo com as comunidades mais afetadas pelo HIV e outras ISTs, pois, segundo ele, ” no último governo, essa escuta acabou”.

Estratégias de prevenção vão além da camisinha

O cenário de aumento nas infecções reforça a importância de se aderir às estratégias de prevenção. Além da camisinha, método mais eficaz para reduzir o risco não apenas de infecção pelo HIV, mas também de outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), desde 2017 existem a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) nos postos de saúde do Brasil.

A PrEP consiste em comprimidos diários que combinam dois antirretrovirais que bloqueiam os caminhos que o HIV utiliza para infectar o indivíduo. Com isso, o risco de contaminação é reduzido em caso de eventual exposição. O esquema é indicado a homens que fazem sexo com homens, pessoas trans, trabalhadores do sexo e outras pessoas consideradas de maior risco, a partir de 15 anos de idade.

Já a PEP é para ser utilizada após eventual exposição por aqueles que não fazem uso da PrEP. Ela deve ser iniciada em até 72 horas, porém de preferência nas primeiras duas horas, após a relação sexual. São também comprimidos diários que precisam ser tomados por 28 dias após ao sexo, e permitidos apenas a partir de 15 anos.

Dia Mundial da Saúde 2023 – Saúde para todos

O Dia Mundial da Saúde, celebrado todos os anos em 7 de abril, marca o aniversário de fundação da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1948 e a cada ano se concentra em uma preocupação específica de saúde pública. Além de focar na jornada para alcançar Saúde para Todos, que é o tema deste ano, a OMS celebrará seu 75º aniversário sob o tema 75 anos melhorando a saúde pública.

Em 1948, países do mundo se uniram e fundaram a OMS para promover a saúde, manter o mundo seguro e servir aos vulneráveis ​​– para que todos, em todos os lugares, possam atingir o mais alto nível de saúde e bem-estar. O ano do 75º aniversário da OMS é uma oportunidade de relembrar os sucessos da saúde pública que melhoraram a qualidade de vida durante as últimas sete décadas. É também uma oportunidade para motivar ações para enfrentar os desafios de saúde de hoje e de amanhã.

Redação da Agência Aids com informações

 

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