Todo mundo sabe que o cigarro é um dos principais fatores de risco para o câncer de pulmão. Mas o perigo vai muito além deste tumor. Ao menos sete tipos de câncer estão fortemente relacionados ao tabagismo, e apresentam altas taxas de letalidade e mortalidade.
Mais da metade dos pacientes diagnosticados com algum desses tipos de câncer no Brasil não sobrevivem à doença. Em alguns casos, mais de 80% dos pacientes podem ir a óbito, como ocorre com o câncer de esôfago. A lista inclui ainda cânceres de cavidade oral, estômago, cólon e reto, laringe, colo do útero e bexiga.

Lançada neste Dia Nacional de Combate ao Câncer (27/11), a publicação reforça que o cigarro continua sendo um dos maiores causadores de câncer e mortes evitáveis no país.  A doença – em seus mais variados tipos – representa a segunda maior causa de morte no Brasil, com 239 mil óbitos em 2022 e 704 mil casos novos estimados para 2024, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca).

A publicação analisou a incidência, mortalidade e letalidade de sete tipos de câncer tabaco-relacionados e reforça que o cigarro se mantém como um dos maiores causadores de câncer e mortes evitáveis no país. As informações, reveladas no sétimo volume do boletim info.oncollect, intitulado ‘Impactos do tabagismo além do câncer de pulmão’, aponta que estes sete cânceres tabaco-relacionados foram responsáveis por 26,5% das mortes por câncer em 2022. Além disso, representam 17,2% dos novos diagnósticos estimados para 2024.

De acordo com o Ministério da Saúde/Inca, dos sete tipos de câncer tabaco-relacionado analisados na publicação, são estimados:

  • 45 mil casos de cólon e reto,
  • 17 mil casos de câncer do colo do útero e
  • 15.100 casos novos de câncer de cavidade oral,
  • 13.340 casos de câncer de estômago,
  • 11.370 casos de câncer de bexiga,
  • 10.990 casos novos de câncer de esôfago e
  • 7.790 casos novos de câncer de laringe

Entenda a letalidade dos cânceres tabaco-relacionados

  1. Para o câncer de esôfago, foi observada alta letalidade estimada em ambos os sexos – acima de 80% para a maioria das regiões brasileiras, com destaque para o Sudeste, onde o índice, entre homens, é 98%.
  2. Para o câncer de estômago, a letalidade é 71%, sendo que a Região Norte apresentou o maior índice (83%).
  3. Já a letalidade estimada para o câncer de laringe no Brasil, entre homens, foi 65%. “Existe uma alta relevância em relação à letalidade da doença no sexo feminino, variando de 48% a 88% em todas as regiões brasileiras. Os valores das taxas de incidência mostraram que a ocorrência desse tipo de câncer é cinco vezes maior em homens do que em mulheres”, destaca a bióloga Rejane Reis, uma das pesquisadoras do boletim.
  4. Já no caso do câncer de cólon e reto, a letalidade estimada entre homens foi 48% e, entre as mulheres, 45%.
  5. Para o câncer de bexiga, a letalidade estimada em homens e mulheres foi 44% e 43%, respectivamente.
  6. Para o câncer de cavidade oral, a letalidade é 43% nos homens e 28% nas mulheres, com destaque para a Região Nordeste, que apresenta maior letalidade entre os homens (52%). Já entre as mulheres, o Norte alcançou a maior letalidade, atingindo 34%.
  7. Em relação ao câncer do colo do útero, a letalidade da doença é 42%. O estudo destaca a contribuição do tabagismo para taxas de incidência e de mortalidade na Região Norte, sendo que a doença tem prevenção primária disponível também por meio da vacinação contra o HPV, além de um programa de detecção precoce.

 

Incidência, mortalidade e letalidade

A mortalidade se refere à quantidade de óbitos dentro de uma população, enquanto a letalidade abarca a força com que uma determinada doença leva os pacientes à morte. A letalidade é um indicador que impacta na mortalidade da doença, além de um reflexo da agressividade dessas doenças e da dificuldade no diagnóstico precoce e no tratamento.

Para chegar à letalidade, os pesquisadores da Fundação fizeram o cálculo com base nas taxas ajustadas, tanto de incidência quanto de mortalidade dos Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP) e do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM).

Fomos atrás de saber quais são esses cânceres e qual é essa importância. Estudamos sete tipos de câncer que apresentaram fortíssima correlação com o tabagismo e com alta mortalidade e letalidade”, disse o epidemiologista e consultor médico da Fundação do Câncer, Alfredo Scaff.

Alerta contra o tabagismo

Os números analisados e calculados são um alerta para a urgência de eliminar o tabagismo, como destaca Luiz Augusto Maltoni, diretor executivo da Fundação do Câncer.

O tabagismo está relacionado ao desenvolvimento de vários outros tipos de cânceres que afetam homens e mulheres. Em muitos desses cânceres, o tabagismo representa risco significativo, embora outros fatores comportamentais, ocupacionais e infecciosos também possam fazer parte da cadeia de causalidade dessas doenças. Essa conexão multifatorial ressalta ainda mais a importância de prevenir e eliminar o tabagismo como uma estratégia efetiva de saúde pública”.

Coordenador do estudo, Scaff  destaca que a eliminação do tabagismo poderia evitar uma parte significativa dessas mortes, aliviando o sistema de saúde. “Muitas dessas mortes poderiam ser evitadas com a adoção de políticas públicas mais rigorosas”, defende.

Cerca de 12% da população ainda fumam. E nós precisamos continuar trabalhando para fazer com que as pessoas entendam os malefícios do tabagismo e reconheçam o cigarro como um dos principais causadores de doenças no ser humano, não só de cânceres, como enfocado na publicação, mas de doenças cardiovasculares, pulmonares e outras”, comenta.

Em entrevista à Agência Brasil, o coordenador do estudo destacou que seu objetivo é chamar a atenção da população, mostrando que o tabagismo segue como principal responsável pelo câncer de pulmão, mas também é responsável por outros tipos de cânceres, de grande importância;

Tabagismo não é a única causa de câncer, mas uma das principais

Todos esses cânceres têm uma forte atribuição ao tabagismo. A gente não pode dizer que o tabagismo é a única causa de nenhum deles, mas é uma causa muito, muito forte para o desenvolvimento deles. Há toda uma cadeia de eventos que pode estar potencializando o desenvolvimento desse câncer. E o tabagismo participa de forma muito ativa dessa cadeia”, disse.

O pesquisador destacou que as substâncias contidas em produtos derivados do tabaco passam, num primeiro momento, pela boca, pela orofaringe e pela laringe, sendo que uma parte deglutida vai para o esôfago – e segue em diante.

De modo geral, todos os cânceres que acometem células epiteliais, que recobrem superfícies, são afetadas pelos compostos do tabaco. A nicotina e milhares de outras substâncias agridem o desenvolvimento dessas células”, alertou Scaff.

Existe uma correlação forte e vários estudos que demonstram a associação do tabagismo, por exemplo, com o câncer do colo do útero.

As substâncias do cigarro agem sobre o epitélio – e a vagina é um órgão com epitélio que se renova com muita frequência. Essas substâncias podem levar à uma diminuição da imunidade local, ocasionando abertura maior para infecções como pelo HPV, que se manifesta de forma muito mais intensa nesses casos, levando ao desenvolvimento do câncer de colo do útero,” explicou Scaff.

Novos desafios: a febre dos vapes

Enquanto o Brasil avançou na redução do número de fumantes, a popularização dos cigarros eletrônicos traz novas preocupações. Apresentados erroneamente como alternativa para os cigarros tradicionais, esses dispositivos têm atraído jovens, e servido como porta de entrada para a dependência em nicotina.

O problema dos chamados vapes é que eles mascaram os perigos do tabaco e criam uma nova geração de dependentes. Precisamos agir rápido para conter essa nova onda. Precisamos intensificar a luta contra esse problema evitável. É um compromisso de todos, das autoridades aos cidadãos. Convido a todos a aderirem o Movimento VapeOff nas redes sociais, promovido pela Fundação do Câncer”, conclui Maltoni.

O estudo completo está disponível pelo link

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