De acordo com a Lei nº 9.797/1999, toda mulher tem o direito assegurado à reconstrução da mama. O texto destaca que “cabe ao SUS (Sistema Único de Saúde), por meio de sua rede de unidades públicas conveniadas, prestar serviço de cirurgia plástica reconstrutiva de mama”. Com a modificação da norma a partir da Lei nº 12.802/2013, houve a determinação da realização do procedimento imediatamente após a paciente alcançar as condições clínicas exigidas para a cirurgia.
No entanto, o acesso ao procedimento pelo SUS ainda é um desafio. Mais de 20 mil mulheres que se submetem à mastectomia para tratamento de câncer de mama aguardam a realização da cirurgia de reconstrução das mamas na rede pública de saúde. Embora o procedimento seja um direito previsto por lei, a fila de espera vem aumentando com o passar dos anos no Brasil. Falta de recursos e de médicos especializados são apontados como principais obstáculos.
A cirurgia para reconstrução mamária não tem meramente função estética. Associado à saúde, o procedimento favorece a autoestima das pacientes que se submeteram à mastectomia e em muitos casos se sentem menos femininas com a retirada das mamas”, afirma a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM)
Cursos para reconstrução de mamas e oncoplastia
Como estratégia para formar profissionais e contribuir para a diminuição do número de pacientes, a SBM mantém três cursos para reconstrução de mamas e oncoplastia. Desde 2015, quando foi instituído o primeiro curso, mais de 1.500 mulheres foram beneficiadas diretamente com as cirurgias.
Técnicas de cirurgia plástica associadas ao tratamento oncológico são o foco dos cursos da SBM. Com um corpo docente renomado e reconhecido nacional e internacionalmente, tem conteúdos teóricos e práticas direcionadas a mastologistas e cirurgiões de mamas de todos os estados brasileiros e também do Exterior.
Curso em Salvador deve receber 99 pacientes este ano
O curso mais recente, instituído em 2024, é ministrado no Hospital Aristides Maltez, em Salvador (BA). Iniciada sua segunda turma, já atendeu 66 pacientes no primeiro ano. De acordo com os coordenadores Ana Imbassahy, Paulus Fabrício e Sálvia Canguçu, este número se soma a 1.518 pacientes beneficiadas diretamente com formação oferecida pela SBM em uma década. “Este ano, temos a previsão de receber 99 pacientes por curso, totalizando cerca de 300 mulheres beneficiadas”, completam.
Durante e após o curso, os alunos realizam cirurgias em suas cidades e hospitais de origem. Na avaliação da Sociedade Brasileira de Mastologia, este é um fator que aumenta consideravelmente o número de pacientes beneficiadas e amplia também a oferta de médicos especializados em reconstrução mamária e oncoplastia no País. Como estes alunos são multiplicadores destas técnicas, a quantidade de pacientes beneficiadas é muito maior, formando uma corrente do bem que beneficia milhares de mulheres em todo o Brasil.
Em Goiânia, curso já atendeu 890 pacientes
O primeiro curso de formação da atualidade em reconstrução mamária e oncoplastia da SBM existe há dez anos no Hospital de Câncer Araújo Jorge, em Goiânia (GO). Com nove turmas formadas, atendeu até hoje cerca de 890 pacientes.
Em nossa experiência ao longo de uma década, observamos que as mulheres que passaram pela cirurgia oncoplástica demonstraram maior satisfação com os resultados e necessitaram de menos procedimentos para completar a reconstrução mamária”, destacam os mastologistas Régis Paulinelli e Fernando Jubé, coordenadores do curso.
Em Jaú (SP) já foram atendidas 561 pacientes
O curso iniciado em 2016 no Hospital Amaral de Carvalho, em Jaú (SP), atendeu 561 pacientes no período em que seis turmas de médicos passaram pelo processo de especialização. Os coordenadores Maurício Resende, João Paloschi e Ailton Joioso, ressaltam a contribuição da SBM para diminuir a fila de espera para reconstrução mamária no SUS.
O procedimento no SUS esbarra em vários problemas, como o déficit de centros cirúrgicos. Nos cursos, temos a oportunidade de formar especialistas e ao mesmo tempo reduzir o tempo de espera para a cirurgia”, dizem.
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Projeto Mama Minha atende mulheres na fila do SUS
O Projeto Mama Minha é uma iniciativa dedicada a transformar a vida de mulheres que aguardam na fila do SUS por cirurgias de reconstrução mamária. Idealizado pelo cirurgião plástico Fernando Amato, a iniciativa já realizou mais de 80 cirurgias e pretende operar pelo menos 100 pacientes na fase atual.
Para viabilizar as cirurgias, o especialista conta com doações, parcerias institucionais, recursos públicos e privados, além do apoio de emendas parlamentares e da colaboração da equipe de cirurgia plástica do Hospital São Paulo e da Escola Paulista de Medicina. O foco permanece no atendimento humanizado e na conscientização das pacientes sobre o processo de reconstrução mamária.
O projeto Mama Minha visa atender pacientes que sofrem com deformidades mamárias e que, muitas vezes, esperam anos por um procedimento que restaure sua autoestima e qualidade de vida.
A mama para a mulher tem um significado muito importante. Quando a paciente tem a sua mama mutilada, ela se sente incompleta e com o Mama Minha proporcionamos não só a reconstrução da mama como o resgate da autoestima dessa mulher”, explica Dr. Amato.
O projeto nasceu da observação das inúmeras dificuldades enfrentadas pelas pacientes no SUS. Procedimentos eletivos mais rápidos são priorizados em detrimento de cirurgias complexas, como a reconstrução mamária. Além disso, o valor pago pelo SUS para implantes mamários é inferior aos valores praticados pelas empresas. Há também uma escassez de profissionais especializados disponíveis para realizar esses procedimentos.
Como participar
Atualmente, existem duas formas de participação no Projeto Mama Minha. A primeira é o método utilizado nos últimos quatro anos, com recursos próprios do Dr. Fernando e sua equipe, no qual a paciente deve preencher o cadastro disponível no site do projeto. Após o cadastro, a paciente entra em uma fila para a análise cadastral para verificar, inclusive, se é elegível para fazer a cirurgia de reconstrução mamária.
A segunda forma de participar do Mama Minha é por meio do encaminhamento pelo SUS para o Hospital São Paulo, onde são realizadas as cirurgias com apoio da emenda parlamentar.
Com um histórico de dedicação à medicina pública, Dr. Amato construiu o projeto Mama Minha a partir de experiências em instituições como o Hospital Vila Alpina, Hospital São Paulo e o Instituto Brasileiro de Combate ao Câncer.
O Projeto Mama Minha representa uma nova esperança para muitas mulheres, reafirmando o compromisso com a dignidade e a qualidade de vida”, conclui Dr. Fernando Amato, que também é membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e membro da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica.
Com Assessorias