Em escala global, dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que cerca de 4% da população em todo o mundo são diagnosticadas com escoliose, que se caracteriza como um desvio na coluna em formato de “S” ou “C”. Só no Brasil, mais de seis milhões de pessoas são atingidas por esta que é considerada uma das principais causas de dores cervicais. Para esclarecer mais sobre o tema, este mês é chamado de Junho Verde, o mês internacional da conscientização da escoliose, cuja data é lembrada dia 27.
“Embora os dados representem um alto volume de casos, infelizmente, estes não são devidamente difundidos no que diz respeito aos benefícios de ser identificada logo cedo – principalmente, considerando que boa parte pode evitar a cirurgia caso recebam a orientação correta desde o início”, afirma o cirurgião ortopedista Carlos Barsotti, especialista em cirurgias de coluna do Hospital Sírio Libanês.
Segundo ele, “a grande maioria dos casos de escoliose começa a ser observado durante a adolescência e, caso diagnosticados precocemente, podem ser devidamente tratados sem prejuízo à qualidade de vida dos pacientes”.
Cirurgião ortopedista especialista em cirurgias de coluna, e um dos poucos profissionais a realizar intervenções de alta complexidade, atuando na correção de escolioses de grau elevado, lordoses, cifoses e demais deformidades que afetam a coluna, ele é um dos organizadores do IV Simpósio Sul-Americano da Escoliose, que acontece de forma online e gratuita nos dias 2 e 3 de junho.
“Saber identificar a tipologia de escoliose e diagnosticá-la precocemente contribuirá fortemente para um tratamento mais assertivo e garantir, assim, uma excelente qualidade de vida ao paciente. Essa será nossa ideia com o encontro, reunindo profissionais qualificados para disseminar essas informações em prol da manutenção da saúde de todos”, afirma Barsotti, que estará presente durante a abertura do evento.
De acordo com o especialista, a campanha Junho Verde é apenas um lembrete da importância do diagnóstico precoce da escoliose ser cada vez mais compreendida como uma das medidas mais importantes para trazer qualidade de vida aos pacientes, seja qual for sua idade.
“Essa é uma pauta séria de saúde e, ao mesmo tempo, de estética, para que os pacientes não se sintam desconfortáveis com sua aparência e tenham sua autoestima abalada. Quanto mais disseminada for, mais pessoas conseguirão impedir efeitos graves da escoliose e manter suas rotinas sem empecilhos”, afirma.
Agenda Positiva
Escoliose: evento gratuito aborda melhores práticas para tratamento
Apesar de ser uma das dores cervicais mais comuns a atingir pacientes de todas as idades, muitas dúvidas ainda existem sobre o tema, principalmente sobre seu tratamento adequado. Para esclarecer esses questionamentos, médicos e fisioterapeutas especialistas nessa patologia se reunirão, nos dias 2 e 3 de junho, no IV Simpósio Sul-Americano da Escoliose.
A novidade deste ano é o Encontro da Escoliose, um bate-papo destinado a pacientes, familiares e a população em geral para conscientizar e aproximar a realidade de quem foi diagnosticado com essa patologia dos profissionais que tratam a tratam.
Para os organizadores, “a união acerca deste tema e compreensão sobre seu quadro é um ponto crucial para que cada vez mais pessoas busquem o auxílio de especialistas que os direcionem para seu melhor tratamento”. Reunindo grandes nomes da área, o conjunto de palestras nos dois dias do evento traz expectativas promissoras.
Criado em 2020, o Simpósio tem como proposta levar informações relevantes a todos os profissionais da saúde e população geral sobre a escoliose e os seus tratamentos mais adequados, pautadas nas melhores evidências científicas do ramo.
Desde sua primeira edição, vem sendo organizada no Junho Verde, o Mês Internacional da Conscientização da Escoliose – em uma simbologia importante para transmitir esse conhecimento a cada vez mais pessoas em prol de uma condução adequada de cada caso.
Neste ano, o primeiro dia do encontro ocorrerá no formato virtual, com a presença de especialistas que realizarão a abertura do simpósio e explicarão as principais dúvidas sobre a escoliose, além da participação de convidadas especiais ao vivo.
Complementando a agenda de palestras no dia seguinte, a programação será das 9h às 18h, dividida entre o online e o presencial com transmissão ao vivo. Dentre os temas que serão abordados, estarão a história da evolução do tratamento da escoliose no Brasil, sua oferta via o Sistema Único de Saúde Nacional, a importância de seu diagnóstico precoce, seus sistemas de classificação conforme as diferentes tipologias e estudos de casos relevantes para aprendizado.
O evento será gratuito e contará com palestras ministradas de forma online e presencial, com as inscrições disponíveis neste link. Para mais informações, acesse o site do evento.
Palavra de Especialista
Junho Verde: qual a importância do diagnóstico precoce da escoliose?
Por Carlos Barsotti*
A cada ano, mais pessoas são diagnosticadas com uma das tipologias de escoliose. Essa é uma das dores cervicais mais comuns ao redor do mundo, responsável por acometer pacientes de todas as faixas etárias – mas, pouco ainda é difundido sobre esse tema. Assim, durante o “Junho Verde”, temos mais uma oportunidade de ressaltar a importância do diagnóstico precoce desta patologia para um tratamento devido, sem que tenha que se tornar um empecilho para a qualidade de vida de todos.
A grande maioria dos casos de escoliose começa a ser observado durante a adolescência, justamente, por ser esse o período de maior desenvolvimento do crescimento dos jovens. Mas, é muito comum que boa parte destes pacientes apenas descubram o problema anos depois, considerando que essa também pode ser uma fase em que os adolescentes possam não compartilhar com frequência as mudanças que observam em seus corpos.
Diante disso, não é incomum notar pais que adquirem um sentimento de culpa ao identificarem a patologia já em estado mais avançado em seus filhos. Contudo, é importante frisar que não é preciso desespero, uma vez que contamos com muitos mecanismos de tratamentos a serem seguidos capazes de melhorar significativamente os sintomas de cada um. O próprio colete de escoliose, um dos mais famosos para essa patologia, consegue evitar que 70% dos pacientes tenham que passar por uma cirurgia quando utilizado neste período dos 10 aos 17 anos.
Cirurgia é quase sempre o último recurso
Outra medida terapêutica bastante recomendada é a própria fisioterapia visando uma maior consciência muscular, capaz de contribuir para a contenção de desequilíbrios musculares e descompensações da postura das pessoas. Afinal, alguns dos sinais físicos mais notáveis naqueles diagnosticados com essa curvatura da coluna são: presença de ombros caídos ou desiguais, leve inclinação geral para um lado, cintura irregular e a aparência de uma perna maior do que a outra e de um quadril mais alto do que o outro.
Somente quando nenhuma dessas medidas gera efeito positivo, a cirurgia costuma ser recomendada como último recurso – normalmente, em situações com grande progressão durante seis meses ou, quando a curva apresentada é maior do que 40 graus, atingindo um estágio que apenas tenderá a piorar a cada ano. No pior dos cenários, pacientes mais graves podem apresentar síndrome restritiva pulmonar, perdendo capacidade de expansão e fazendo com que aumente o retorno venoso ao coração, gerando insuficiência cardíaca segundaria à escoliose.
Por mais preocupantes que sejam, essas probabilidades podem ser contornadas caso qualquer uma das tipologias de escoliose sejam diagnosticadas cedo, direcionando cada pessoa ao tratamento mais recomendado. Para incentivar essa atenção, a própria Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados divulgou, recentemente, um projeto de lei que defende o desenvolvimento de uma política nacional de diagnóstico e tratamento da escoliose em crianças e adolescentes.
Considerando que essa é, justamente, a fase em que a grande maioria dos casos surgem, o objetivo da medida é efetivar ações voltadas para a detecção precoce deste problema, envolvendo a participação da família e das escolas e seu encaminhamento imediato para avaliação de médicos especialistas. Difundir essa análise nas instituições de ensino pode fazer muita diferença no tratamento adequado dos jovens, uma vez que existem técnicas robustas para identificar essa curvatura.
*Médico cirurgião ortopedista, especialista em cirurgias de coluna do Hospital Sírio Libanês.