O período de fim do ano, quando a rotina desacelera e as reflexões ganham espaço, reforça a importância de dedicar tempo e energia ao outro. Além de fortalecer vínculos, a participação em ações sociais também pode trazer benefícios para a saúde mental do voluntário.

Um estudo da American Psychological Association (APA), participar de atividades voluntárias pode ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade, fornecer um senso de propósito e significado, melhorar a autoestima, o bem-estar emocional e até mesmo reduzir o risco de depressão. 

A professora do curso de Psicologia da Afya Centro Universitário Itaperuna, Renata Caveari, explica que o ato de servir vai muito além do gesto solidário. “O voluntariado cria uma sensação de propósito e conexão que faz bem para quem recebe, mas também transforma profundamente quem oferece ajuda”, afirma.

Segundo ela, essa prática abre espaço para uma percepção mais empática da realidade e para sentimentos de pertencimento. “Quando nos envolvemos com causas, ampliamos nosso olhar e construímos relações mais humanas. Isso tem impacto direto na nossa saúde mental.”

A professora explica que em nossas relações interpessoais trocamos não apenas bens materiais, mas também bens sociais,  como amor, informação,  status, entre outros. “Nas trocas minimizamos os custos e maximizamos as recompensas, e isso nos fortalece e nos auxilia em nossa transformação pessoal”, afirma.

Além de promover trocas genuínas, pequenas ações voluntárias realizadas no fim de ano podem reduzir tensões acumuladas e favorecer um estado emocional mais equilibrado. É um período que naturalmente desperta balanços pessoais. O voluntariado ajuda a ressignificar esse momento”, completa a professora de Psicologia.

‘O trabalho voluntário é um forte antídoto contra a depressão’

Nunca é tarde para começar. Aos 83 anos, o clínico geral Felix Zyngier, especialista em Gastroenterologia, sabe bem na prática o que isso significa desde os 60, quando iniciou um trabalho voluntário nas comunidades do Morro Azul, no Flamengo, e Tavares Bastos, no Catete, ambas na zona sul do Rio de Janeiro.  Desde 2016, ele está à frente do Instituto de Medicina e Cidadania – IMC, projeto que leva assistência gratuita a moradores de três comunidades cariocas

O trabalho voluntário é um forte antídoto contra a depressão‘, diz o diretor médico do IMC.  “Só quem faz o trabalho voluntário, sabe o prazer que dá.  É uma sensação muito agradável, pois você se sente melhor como pessoa”. (veja o relato completo abaixo).

E o melhor, ainda pode rejuvenescer e dar u m novo propósito à pessoa na terceira idade, contribuindo para uma longevidade saudável, como garante o médico de 83 anos, em plena atividade.

É um processo que rejuvenesce. Eu digo isso, sobretudo, aos meus colegas médicos que estão na terceira idade para eles fazerem um trabalho voluntário. Isso não vai tomar muito tempo, não vai ser um dispêndio de energia. E isso dá um dividendo de bem-estar pessoal, uma satisfação íntima muito grande”, frisa o Dr Zyngier.

Para o médico Luiz Roberto Londres, um dos fundadores do IMC que trabalha com voluntariado na saúde, a instituição tem como objetivo ajudar as pessoas a experimentarem o prazer do trabalho voluntário. “Ser voluntário é exercitar o que de melhor existe no ser humano”, ressalta.

E você, já pensou em incorporar uma atividade voluntária entre suas resoluções para 2026? Se sim, conta pra gente!

4  benefícios do voluntariado para a saúde mental

Ação que cura: como o voluntariado fortalece quem o pratica

1. Redução do estresse

Praticar o voluntariado estimula emoções positivas e reduz a ativação fisiológica ligada ao estresse, trazendo uma sensação de calma.

2. Aumento da autoestima

Sentir-se útil e contribuir para algo maior gera autoconfiança e melhora a percepção de valor pessoal.

3. Fortalecimento de vínculos sociais

Participar de projetos coletivos amplia redes de apoio e combate a sensação de isolamento, comum no fim de ano.

4. Maior equilíbrio emocional

Ajudar o próximo direciona o foco para fora das preocupações cotidianas e favorece uma visão mais solidária e menos autocentrada, o que melhora o humor e a estabilidade emocional.

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Palavra de Especialista

‘O retorno é a sensação de que você está fazendo a coisa certa’

Por Felix Zyngier*

Ninguém é obrigado a fazer um trabalho voluntário. Todavia, se você vive no mesmo país que eu, se é testemunha da imensa disparidade de oportunidades e padrão de vida dentro de nossa sociedade, se tem consciência da situação difícil que o país atravessa há alguns anos, com evidente sofrimento dos mais pobres. Você não crê que só isso já é motivo bastante para tomar alguma iniciativa e fazer alguma coisa? 

O voluntariado em qualquer área dificilmente substitui o papel do poder público; apenas o complementa e dá o ajuste. De toda forma, a maior evidência da necessidade de serviços voluntários é que, mesmo em países com economia mais estáveis que a nossa, essa atividade é estimulada, solicitada e valorizada. 

A meu ver, a participação neste tipo de atividade deve ter dois componentes importantes: compromisso e continuidade. O que estará fazendo é cumprir um papel cidadão, aquilo que se espera de todos e que é feito por tão poucos.

Promovendo uma mudança na cultura da população

Como médico, posso dizer aos colegas que um trabalho individual e solitário de pequeno porte no atendimento primário pode ter um impacto significativo na vida dos outros. Muitas vezes, nossa proximidade com o paciente possibilita o diagnóstico precoce de condições que assim se tornam melhor tratáveis e muitas vezes curáveis. 

Nas pequenas comunidades onde trabalho há 23 anos, consegui, acreditem, mudar a cultura da população local em relação ao tratamento de doenças crônicas, na conscientização da importância da continuidade no tratamento de hipertensão arterial, diabetes e asma brônquica, e na necessidade de visitas periódicas ao médico para aferição da pressão arterial, da hemoglobina glicada ou do controle ambiental de alérgenos.  

Quem pode fazer trabalho voluntário?

O trabalho voluntário não tem limite definido, não tem área preferencial e não tem momento certo para ocorrer. Defini-lo está em suas mãos.

  • Se você acaba de se aposentar, a ociosidade já está pesando um pouco, e gosta muito de cuidar de crianças, existem numerosas creches onde seu trabalho poderá ser relevante.
  • Se você tem formação em arquitetura e quer fazer algo, qualquer comunidade carente vai se beneficiar de seus conhecimentos.
  • Se você é professor ou professora, a meninada sempre está precisando de um reforço escolar.
  • Você pode continuar trabalhando ao mesmo tempo em que dedica uma parte de seu tempo para ajudar o próximo.

Seu trabalho não precisa ser algo grandioso, de impacto retumbante e universal. Um parecer de como distribuir a água em uma comunidade, como organizar uma horta, o atendimento de uma pessoa com sinusite ou de um caso de ansiedade são igualmente importantes, especialmente para quem recebe.

‘Encontro marcado com a solidariedade’

O retorno que você pode vir a ter no trabalho voluntário – e certamente tem um retorno – , é a sensação interna de que você está fazendo a coisa certa, ao tratar o próximo com a dignidade que ele merece. É surpreendente o quanto o trabalho voluntário em comunidades carentes muda sua atitude e visão de mundo.

Quando realizado com motivação adequada e de forma correta, o trabalho voluntario é um forte antídoto contra a depressão. Você tem um encontro marcado com o seu eu mais íntimo e com o que a natureza humana tem de melhor: a solidariedade.

*Clínico geral, gastroenterologista e diretor médico do Instituto de Medicina e Cidadania (IMC)

Anote

Como se tornar um voluntário da saúde no IMC

Atendimento em Psicologia realizado pelo Instituto Medicina e Cidadania (Foto: Divulgação)

O Instituto Medicina e Cidadania (IMC) oferece consultas médicas e psicológicas gratuitas. O atendimento não tem restrição de idade e acontece em horários semanais fixos, sendo aberto a todos os moradores das comunidades em que o IMC atua:  Morro Azul, no Flamengo, Parque da Cidade, na Gávea e Tavares Bastos, no Catete.

O projeto fica localizado na Rua Conde Lages 44, na Glória, e sua equipe de voluntários conta com 20 médicos – 17 nos consultórios e três nas comunidades – além de  11 psicólogos e um psiquiatra

Assim como tantos outros projetos sociais, o IMC também está precisando de voluntários. Para se voluntariar no projeto, basta acessar a página do IMC e fazer um cadastro. O Instituto entrará em contato para esclarecer todas as dúvidas e finalizar a adesão ao projeto. Mais informações: (21) 95447-1849 e 21-98075-7950. Instagram: imc_instituto.

Venham trabalhar conosco. Vocês não sabem o quanto podem contribuir para seu próximo e o quanto isso irá trazer satisfação pessoal ao perceber que está fazendo a coisa certa. A nossa profissão de médico tem esse privilégio e não deveríamos deixar a vida passar sem usufruir esse benefício”, diz Dr. Felix.

Com Assessorias

 

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