O inverno começa oficialmente nesta sexta-feira, dia 20, às 23h42. Oficialmente, porque ele já vinha dando as caras há algumas semanas. Afinal, muita gente já percebeu a queda na temperatura e tratou de tirar os casacos do armário. Porém, ao contrário da percepção de algumas pessoas, o inverno de 2025 deve ser mais quente ou um pouco menos frio. Pelo menos na parte central, Norte e Nordeste do país.
É o que explica a meteorologista Neide Custódio. Na região Sul, a “tradição” dos termômetros caindo está mantida. Principalmente no Rio Grande do Sul, que vai apresentar temperatura até 1,5 ºC menor que no ano passado, ficando, tranquilamente, abaixo de zero em algumas cidades e até com possibilidade de neve.
Com a chegada do outono e a proximidade do inverno, cresce a preocupação com doenças respiratórias. O aumento de 30% nos casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) registrados nas primeiras 24 semanas epidemiológicas de 2025 em relação ao mesmo período do ano passado aumenta o alerta para o inverno, já que muitos vírus respiratórios circulam mais nesse período, aumentando a quantidade de infecções e de casos graves. A SRAG é causada principalmente pelos vírus da influenza A, vírus sincicial respiratório (VSR) e rinovírus.
Dados do Boletim Infogripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vêm mostrando o aumento de infecções por influenza. Considerando todos os mais de 103 mil casos graves de síndrome respiratória já contabilizados este ano pelo boletim, quase 53 mil tiveram resultado laboratorial positivo para algum vírus. Desses, cerca de 27% foram causados por algum tipo de influenza A ou B. Mas de meados de maio a meados de junho, a incidência de influenza subiu para mais de 40%,
Entre os dados de mortalidade, a influenza se destaca nas duas análises. Metade das quase 3 mil mortes causadas por SRAG, após infecção por algum vírus, ocorreu após uma infecção por gripe. Essa proporção sobe para 74,6% quando são consideradas apenas os óbitos com diagnóstico positivo para vírus respiratório registrados nas últimas quadro semanas.
A Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (Sesa) já confirmou mais de 10 mil casos relacionados às SRAGs, com 523 óbitos registrados, desde o início do ano. Esse número representa um aumento de 43% em relação ao mesmo período de 2024. Diante do avanço, o governo estadual decretou estado de alerta em saúde pública. Para conter esse aumento, medidas de prevenção e cuidado ganham destaque, especialmente entre os grupos mais vulneráveis.
Por que o inverno aumenta os casos de gripe?
Dois fatores que também contribuem para este quadro são a irritação das vias respiratórias, por causa do frio e do tempo seco, que assim ficam mais vulneráveis a infecções, e uma característica do vírus Influenza, causador da gripe, que o torna mais transmissível e mais replicável no organismo humano em baixas temperaturas.
No inverno as pessoas ficam mais dentro de casa, nos escritórios, andam no transporte público com as janelas fechadas. Isso aumenta a proximidade das pessoas, e a maioria das infecções respiratórias se transmite por gotículas. Quando a gente tosse, fala, espirra, essas gotículas podem cair perto do olho, do nariz e da boca de outras pessoas e contaminá-las. Ou também podem cair na superfície, aí a pessoa toca e leva para o rosto sem perceber”, explica a infectologista e professora do Instituto de Educação Médica (Idomed), Silvia Fonseca.
Para a especialista, a percepção de que a gripe é uma doença leve ainda compromete a principal forma de prevenção dessas mortes. “O vírus influenza pode evoluir rapidamente para quadros de insuficiência respiratória, infecções pulmonares e internações prolongadas, especialmente em idosos e pacientes com doenças crônicas”, afirma a professora de medicina.
.Segundo ela, a vacinação anual é a forma mais eficaz de reduzir esse risco. A vacina contra a influenza está disponível gratuitamente no SUS para crianças de 6 meses a menores de 6 anos, gestantes, puérperas, idosos a partir de 60 anos, pessoas com comorbidades, profissionais da saúde e da educação, entre outros grupos prioritários. A imunização ocorre nos postos de saúde de todo o país.
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Covid-19: qual o real risco neste inverno?
Ao contrário dos anos anteriores, a Covid-19 já não ocupa o protagonismo entre os vírus que mais preocupam os especialistas em 2025. Segundo o coordenador da Infectologia e Infectologista Clínico, Gustavo Dittmar, do Hospital Albert Sabin (HAS), a circulação do coronavírus persiste, mas o impacto é significativamente menor.
O vírus causador da Covid-19 está longe de ser, em 2025, um problema de saúde pública. Ele nem figura entre os três principais causadores de doenças respiratórias neste momento”, afirma o médico. Os maiores responsáveis por casos de insuficiência respiratória e hospitalizações, atualmente, são o vírus sincicial respiratório, o vírus da influenza e o rinovírus.
Apesar da incidência entre os óbitos causados por vírus ter caído, ela ainda foi de 30,9% nas 24 semanas epidemiológicas contabilizadas este ano. E nas últimas quatro semanas, enquanto os testes positivos para covid-19 foram apenas 1,6% de todos os casos graves causados por vírus, a proporção entre as mortes ficou em 4,2%, o que comprova a letalidade do coronavírus, especialmente em idosos.
O especialista reforça que, embora a gravidade da Covid-19 tenha diminuído, o vírus ainda pode causar quadros sérios em populações vulneráveis. Por isso, a recomendação para vacinação permanece, principalmente entre os grupos de risco. “A infecção mortal pode ser prevenida com vacina. É fundamental que essas pessoas mantenham sua vacinação em dia”.
A vacinação contra a Covid-19 foi incorporada ao calendário anual, de forma semelhante à da gripe, sendo indicada apenas para grupos prioritários, como idosos, imunossuprimidos, profissionais de saúde e pessoas com comorbidades”, explica Dr. Dittmar. Para idosos e imunossuprimidos, a imunização pode ser feita duas vezes por ano; para os demais grupos de risco, uma vez ao ano é suficiente.
Vírus da bronquiolite assusta
Entre as crianças, permanece a preocupação com o vírus sincicial respiratório (VSR), principal causador da bronquiolite, uma inflamação que atinge as estruturas mais finas dos pulmões e que pode causar a morte, especialmente entre menores de 2 anos.
O período de maior circulação do VSR começa no outono e já dá sinais de queda, conforme o boletim Infogripe, mas os casos ainda são numerosos. Considerando todo o ano de 2025, ele foi o patógeno mais prevalente, diagnosticado em 45,3% dos casos graves causados por vírus. O VSR também foi responsável por 13% das mortes com diagnostico positivo registradas nas últimas quatro semanas
Há vacina contra o VSR para idosos e grávidas – que transmitem anticorpos para o recém-nascido – mas apenas em clínicas particulares. O Ministério da Saúde já anunciou a incorporação da vacina para as gestantes no Sistema Único de Saúde (SUS) a partir do segundo semestre.
Atenção para as regras da ‘etiqueta respiratória’
A professora de Enfermagem da Faculdade Estácio Andréia Neves de Sant’Anna lembra que as normas de etiqueta respiratória ainda são válidas e ajudam a diminuir a propagação dos vírus:
- evitar aglomerações e ambientes fechados; lavar as mãos com água e sabão ou usar álcool em gel;
- usar lenço descartável para higiene nasal;
- cobrir o nariz e boca ao espirrar ou tossir;
- evitar tocar olhos, nariz e boca;
- não compartilhar objetos de uso pessoal, como talheres, pratos, copos ou garrafas;
- manter os ambientes bem ventilados e
- evitar contato próximo com pessoas com sintomas gripais.
Além disso, Andréia reforça que repouso, alimentação equilibrada, e bastante hidratação, podem ajudar o organismo a se recuperar mais facilmente.
Com informações da Agência Brasil e do Grupo Sabin, com Redação