A sepse que levou meu pai à morte aos 51 anos (veja aqui o meu depoimento) é um conjunto de manifestações graves em todo o organismo, produzidas por uma infecção. Era conhecida antigamente como septicemia ou infecção no sangue. Hoje é popularmente chamada de infecção generalizada, uma síndrome que mata mais de 270 mil brasileiros todos os anos. Mais até do que o infarto do miocárdio e o câncer.
O Brasil tem uma das taxas de mortalidade e morbidade mais altas do mundo por sepse. Estima-se que sejam registrados cerca de 670 mil casos por ano, sendo que 55% desses vão a óbito, enquanto a média mundial está em torno de 30% a 40%. São registrados cerca de 400 mil casos por ano de sepse, doença que vitimou no último dia 4 a atriz e cantora Rogéria. Ela foi internada com infecção urinária que evoluiu para sepse e morreu em consequência de choque séptico.
Segundo um levantamento feito pelo estudo mundial conhecido como Progress, a mortalidade da sepse no Brasil é maior que a de países economicamente semelhantes, como a Argentina, e também a Índia. Alguns estudos epidemiológicos apontam que na última década, a taxa de incidência da doença aumentou entre 8% e 13% em relação à década passada, sendo responsável por mais óbitos do que alguns tipos de câncer, como o de mama e o de intestino. Atualmente a sepse é a principal causa de morte nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) do Brasil e uma das principais causas de mortalidade hospitalar tardia.
Os quadros de sepse são responsáveis por 25% da ocupação de leitos em UTIs no país. O problema é agravado pela falta de controle e segurança do ambiente hospitalar. Um verdadeiro crime contra a vida humana. Boa parte dos casos de sepse é adquirida dentro do hospital, ou mesmo depois da alta. Uma visão mais recente da Infecção Hospitalar substitui o termo por Infecção Relacionada à Assistência à Saúde (IrAS), que é bem mais abrangente. Inclui infecções relacionadas a procedimentos ambulatoriais, cuidados em domicílio e até as adquiridas por profissionais da saúde durante o desempenho de suas funções.
Apesar de recorrente, uma pesquisa do Instituto Datafolha apontou que 86% dos 2.100 entrevistados nunca ouviram falar da doença. Esse fato e a dificuldade do diagnóstico são alguns dos fatores que levam à alta letalidade, avalia Danilo Abreu, diretor médico do Hospital Pasteur (RJ), primeiro do Rio a receber um selo carioca por combater a sepse.
Campanha nesta quarta-feira no Rio de Janeiro
Nesta quarta-feira, 13 de setembro, Dia Mundial de Combate à Sepse, profissionais de saúde estarão no Rio de Janeiro, na Rodoviária Novo Rio, para responder à população sobre a síndrome. O objetivo da ação, que acontecerá das 8 às 15 horas, em 17 cidades brasileiras, tem como objetivo esclarecer sobre a infecção generalizada. A ação é organizada pelo Instituto Latino Americano de Sepse (Ilas), que promove anualmente a Campanha de Conscientização sobre a Sepse. Esse ano o mote será ‘Pense, pode ser sepse?’.
“O conhecimento do público brasileiro sobre a síndrome ainda é bastante restrito. Campanhas de esclarecimento envolvendo sociedades médicas e imprensa para o público geral devem ser realizadas para minimizar o problema, porque o reconhecimento precoce e a busca imediata de auxílio médico podem impactar e ajudar a diminuir a elevada mortalidade por sepse em nosso país”, disse Luciano Azevedo. presidente do Ilas.
Infecção se localiza em um órgão e provoca inflamação
Na verdade, explicam especialistas, não é a infecção que está em todos os locais do organismo. Por vezes, a infecção pode estar localizada em apenas um órgão, como por exemplo, o pulmão – ou o rim, como foi o caso do meu pai -, mas provoca em todo o organismo uma resposta inflamatória numa tentativa de combater o agente da infecção.
“A sepse – ou infecção generalizada – pode começar com uma infecção, como a pneumonia ou uma infecção urinária, que se não tratada adequadamente pode evoluir e levar ao óbito”, esclarece Luciano Azevedo. Essa inflamação pode vir a comprometer o funcionamento de vários órgãos do paciente. Por isso, o paciente pode não suportar e vir a falecer. Esse quadro é conhecido como disfunção ou falência de múltiplos órgãos.
Ele explica que a sepse é “uma doença cujas características e sintomas são muito inespecíficas e cujo reconhecimento e internação precoces fazem toda a diferença no tratamento, pois as primeiras horas são importantíssimas para o tratamento com antibioticoterapia e reposição volêmica. Crianças, idosos e pessoas com sistema imune deficiente, como pacientes com HIV ou com câncer, estão no grupo de maior risco.
Luciano Azevedo reforça, ainda, que “o reconhecimento precoce por parte dos profissionais de saúde também é importante e é a chave para o tratamento adequado, que, quando realizado nas primeiras seis horas tem clara implicação no prognóstico. Medidas simples, como a realização de alguns exames específicos na primeira hora e alguns procedimentos importantes podem salvar vidas”.
“Alguns sintomas da sepse, como falta de disposição, sede, calafrios e baixa produção de urina, são comuns também a outras doenças – por isso, muitas pessoas demoram a se dirigir ao pronto-socorro. A agilidade no diagnóstico e no início da administração de medicamentos é essencial para o sucesso do tratamento”, explica Danilo Abreu.
“A sepse surge sempre de um foco principal de infecção. O organismo, ao tentar combatê-la, acaba respondendo com uma inflamação que pode comprometer o seu funcionamento. Se não tratada a tempo, o sistema circulatório pode ser afetado, levando à disfunção de órgãos, ao choque séptico e, até mesmo, à falência múltipla dos órgãos e, consequentemente, à morte”, esclarece o médico do Pasteur.
O choque séptico acontece em decorrência do agravamento do quadro de sepse, quando o paciente tem queda de pressão acentuada com necessidade de uso de medicações específicas para reversão desse quadro.
Vídeo mostra como socorro rápido pode ajudar a salvar vidas
Tipos
De acordo com o grau de evolução, a síndrome pode ser classificada em três diferentes níveis. A sepse é a resposta inflamatória provocada pela infecção está associada a pelo menos mais dois sinais. Por exemplo, febre, calafrios, falta de ar etc. Na sepse grave há comprometimento funcional de um ou mais órgãos. Já o choque séptico representa uma queda drástica de pressão arterial que não responde à administração de líquidos por via intravenosa.
Sintomas
Os sintomas variam de acordo com o grau de evolução do quadro clínico. Os mais comuns são: febre alta ou hipotermia, calafrios, diminuição na eliminação de urina, respiração acelerada dificuldade para respirar, ritmo cardíaco acelerado e alteração no nível de consciência. Outros sinais possíveis da síndrome são o aumento na contagem dos leucócitos e a queda no número de plaquetas.
Diagnóstico
O diagnóstico da infecção generalizada depende de avaliação clínica e laboratorial criteriosa para identificar e tratar a doença subjacente que deu origem ao processo infeccioso. Com esse objetivo, são realizados exames de sangue, como a hemocultura, exames de urina e, se necessário, a cultura das secreções respiratórias. Exames de imagem, como radiografia, ultrassonografia, tomografia e ressonância magnética, podem ser úteis para esclarecer o diagnóstico.
Recomendações
O risco de contrair infecções será menor se forem respeitados os seguintes princípios básicos, como lavar as mãos com frequência com água e sabão e manter o esquema de vacinação atualizado.
Vídeo ensina como diagnosticar e tratar logo a doença
‘A Sepse mata de montão’ é o mais recente vídeo de conscientização sobre a síndrome produzido pelo Ilas para este Dia Mundial da Sepse. O tema da campanha Sobrevivendo à Sepse desse ano é “Pense, pode ser sepse?”. Além do vídeo, outros materiais estão sendo desenvolvidos para a data e acontecerão ações pontuais voltadas para profissionais de saúde e população em 17 cidades brasileiras. A campanha também é mostrada no Facebook e no Instagram.
Hospital carioca ganha selo de excelência
O Hospital Pasteur, localizado no bairro do Méier, Zona Norte carioca, foi a primeira unidade hospitalar da cidade do Rio de Janeiro a receber, no dia 6 de setembro, a certificação de Excelência por Distinção na Identificação Precoce e no Tratamento da Sepse, do Instituto Qualisa de Gestão (IQG) em parceria com o Ilas.
Para alcançar níveis de controle que são referência no país, o Hospital Pasteur investiu em uma série de medidas que vão desde o treinamento de seu corpo clínico à definição de novos protocolos de tratamento, estabelecendo o tempo de uma hora entre o diagnóstico e o início da intervenção. Nesse período, são realizados exames clínicos e laboratoriais, análise dos resultados, controle e monitoramento da pressão arterial e dos níveis de ácido lático, administração de medicamentos e hidratação, entre outros procedimentos. Isso permite que a equipe de saúde multidisciplinar acompanhe detalhadamente a evolução do quadro do paciente, com maior controle sobre o desfecho.
Há um ano, a unidade iniciou um novo modelo de gestão, que busca o reforço na qualidade de atendimento e segurança do paciente. Para alcançar os resultados desejados, investiu na padronização de processos por meio da certificação por entidades que possuem protocolos e modelos internacionais a serem seguidos em frentes estratégicas, como UTI, cirurgia bariátrica, parto normal e sepse. O hospital também integra o Programa Brasileiro de Segurança do Paciente. Destacam-se, nesse período, seis certificações conquistadas: Global Mobility (UnitedHealth Group), Projeto Parto Adequado (ANS), ONA Pleno (IQG), Distinção em Sepse (ILAS), Excelência em Bariátrica (Surgical Review Corporation) e Top Performance em UTI Adulto (Epimed).
Da Redação, com GSK, Ilas e Hospital Pasteur