Segunda doença infecciosa a causar mais vítimas fatais no mundo, atingindo 1,3 milhão de mortes anuais, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as  hepatites virais, que fazem parte da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) para eliminação de doenças como problema de saúde pública até 2030, entre outros objetivos, para promover o desenvolvimento sustentável no mundo.

A doença atinge o fígado e pode ser causada por cinco sorotipos de vírus: A, B, C, D e E. A maior parte dos casos é crônica: o vírus permanece silencioso dentro do organismo por décadas, causando danos acumulados no órgão, até provocar quadros graves como fibrose cística, cirrose ou mesmo câncer, e só então desenvolve sintomas.

Os tipos B e C são mais preocupantes por poderem se tornar crônicas e evoluir para complicações graves.  Estima-se que em 2022, 254 milhões de pessoas viviam com hepatite B e 50 milhões com hepatite C. A hepatite C tem gerado preocupação especial nos últimos anos e é considerada hoje a maior epidemia da humanidade, com cinco vezes mais incidência que a AIDS/HIV. 

A OMS estabeleceu como meta a redução da incidência dessas doenças em 90%, com redução de 65% da mortalidade até 2030. Por isso, o dia de  28 de julho foi eleito como Dia Mundial de Luta Contra as Hepatites Virais.

Neste mês, a campanha nacional Julho Amarelo reforça a importância das ações de prevenção e controle das hepatites virais. De acordo com o Ministério da Saúde, no Brasil, cerca de 520 mil pessoas têm a doença, mas ainda sem diagnóstico e tratamento. O Brasil registrou em 2024 mais de 34 mil casos diagnosticados de hepatite viral, com cerca de 1,1 mil mortes diretas.

Os tipos mais prevalentes no Brasil são C, B e A, nesta ordem. Dados do Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais divulgado em julho do ano passado, mostram que entre 2020 e 2023 foram 785.571 casos confirmados de hepatites virais no Brasil. Destes, 318.916 (40,6%) se referem a casos de hepatite C. Até 2022, cerca de 150 mil pessoas já tinham sido diagnosticadas, tratadas e curadas da doença. 

Outros 289.029 (36,8%) são de hepatite B; 171.255 (21,8%) são referentes a hepatite A. Ainda no período foram detectados 4.525 casos (0,6%) de hepatite D e 1.846 (0,2%) casos de hepatite E.  

Um mal crescente e silencioso

Quando não tratadas, alguns tipos da doença podem gerar complicações. As hepatites B e C podem evoluir silenciosamente ao longo dos anos e causar sequelas graves, como cirrose e suas complicações (ascite, encefalopatia hepática, sangramento digestivo) e câncer de fígado.

Menos comumente, podem ainda ocorrer alterações de outros órgãos, como rins, articulações e pele. Por isso, o diagnóstico e tratamento precoces são tão importantes. De acordo com o infectologista Pedro Martins, professor da Afya Educação Médica, quando o tratamento consegue ser iniciado de forma oportuna, as consequências são mínimas.

Mas quando a infecção permanece por anos sem tratamento, pode evoluir para cirrose hepática e câncer de fígado, mesmo naquelas pessoas que não tem hábito de consumir bebidas alcoólicas”, afirma.

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Como diagnosticar e tratar as hepatites virais

No Brasil, a luta contra as hepatites B e C é uma prioridade de saúde pública e o Ministério da Saúde instituiu com o Programa Brasil Saudável, em 2024, a eliminação das hepatites virais como meta a ser alcançada até 2030.

A hepatite A é uma doença que costuma se resolver em poucas semanas, conferindo imunidade para o resto da vida em seguida – é geralmente tratada com hidratação, remédios para dor e para enjoo. Já as hepatites B e C na maioria das vezes se apresentam como doenças crônicas e silenciosas”, explica Pedro Martins.

Segundo ele, as hepatites B e C podem passar anos sem manifestar nenhum sintoma. Durante esse tempo, há uma crescente inflamação das células do fígado. A longo prazo, essa inflamação pode causar a cirrose, mesmo nos pacientes que não consomem bebidas alcoólicas.

A cirrose e o carcinoma hepatocelular são duas das principais causas de morte em decorrência das hepatites virais. Para combater a disseminação desta doença, é indispensável o acesso da população à informação para a prevenção, o diagnóstico e o tratamento. Além da importância da testagem para impedir a evolução, é preciso conhecer as formas de infecção e evitá-las.

A cirrose é uma condição irreversível, que pode causar insuficiência hepática (mal funcionamento do fígado). Em estágios mais avançados, a pessoa pode precisar de um transplante de fígado. No pior cenário, os vírus podem propiciar o surgimento de câncer de fígado (Carcinoma Hepatocelular)”, acrescenta.

A boa notícia é que as hepatites virais podem ser prevenidas. Para alguns tipos de hepatites também existem vacinas específicas. Por isso, em alusão ao Dia Mundial de Luta contra as Hepatites Virais (28 de julho), o mês todo ganha a cor amarela para conscientizar as pessoas sobre essa doença.

Aumento de casos entre homens que fazem sexo com homens

As hepatites B, C e D são de transmissão parenteral, ocorrendo predominantemente a partir do contato com sangue contaminado,  por meio do compartilhamento de agulhas contaminadas – em transfusões, hemodiálise, cirurgias, procedimentos odontológicos, procedimentos estéticos, manicure/pedicure; durante tatuagens, piercings e uso de drogas injetáveis – ou de objetos de higiene pessoal (como lâminas de barbear, depilar, alicates de unha, entre outros) ou mesmo de mãe para filho, durante o parto.

Também pode ser transmitida entre pessoas através de relações sexuais sem preservativo durante a penetração. Os casos de hepatite B vêm subindo na faixa etária entre 20 e 39 anos, especialmente entre homens. Após o Ministério da Saúde identificar surtos da doença entre a população de homens que fazem sexo com homens, em maio deste ano, a vacinação foi ampliada para os usuários de PrEP (profilaxia pré-exposição).

Já os tipos A e E são conhecidos como hepatites de transmissão fecal-oral, ao levar água ou alimentos contaminados com fezes à boca. A Hepatite A também pode ser transmitida no sexo oral onde há contato da boca com o ânus.

Prevenção com hábitos de higiene, sexo seguro e vacina

Além de mais cuidado na higiene e limpeza de materiais que podem conter sangue e da prática de sexo seguro, uma importante forma de prevenção é a vacinação. Atualmente, o Sistema Único de Saúde disponibiliza gratuitamente as vacinas contra a hepatite A e B, mas a segunda também protege contra o vírus do tipo D, já que ele só infecta quem tem hepatite B. Os dois imunizantes fazem parte do calendário básico de vacinação das crianças.

A vacinação tem contribuído para a diminuição dos casos de hepatite B. Em 2013 a taxa de detecção do vírus a cada 100 mil habitantes era de 8,3 e caiu para 5,3 em 2024. A vacina contra a hepatite A também demonstrou sua eficácia. Em 2013, 903 crianças menores de 5 anos foram infectadas pelo vírus no Brasil. A partir de 2014, com a entrada no imunizante no calendário básico infantil, houve redução consistente de novas infecções, e, em 2024, apenas 16 casos foram registrados nesse público, uma redução de mais de 98%.

Infelizmente, ainda não há vacina para a hepatite C, tipo mais comum e com maior letalidade de hepatite viral. Em 2024, o Brasil anotou 19.343 novos diagnósticos da doença e 752 óbitos diretos. Mas a infecção pode ser confirmada por testes de laboratório e tratada com antivirais que tem taxa de cura superior a 95%.

Rumo a ‘uma geração sem vírus de hepatite B’

A primeira dose da vacina contra a hepatite B deve ser tomada logo após o nascimento, e outras três doses são administradas aos 2, 4 e 6 meses de vida. Gestantes também devem se vacinar, caso não possam comprovar que foram devidamente imunizadas, porque a doença pode ser transmitida durante a gravidez, parto ou amamentação.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunização, a erradicação da doença é possível caso o país consiga manter altos índices de vacinação. Ao atingir a vacinação em 100% da população, é possível eliminar a criação de novos portadores crônicos, e com isso, consequentemente não tem mais onde se infectar pelo vírus B.

A partir da introdução da vacina na pediatria, o país vem acumulando pessoas vacinadas ao longo de mais de 30 anos anos de vacinação. “a gente caminha para uma geração sem vírus de hepatite B, que é uma vacina altamente eficaz”, assegura.

Conheça as características de cada hepatite

– Hepatite A: diretamente relacionada principalmente às condições de saneamento básico e de higiene e também a relações sexuais. É uma infecção leve e que se cura sozinha na maioria dos casos. Existe vacina para a hepatite A.

– Hepatite B: atinge maior proporção de transmissão por via sexual e contato sanguíneo. A melhor forma de prevenção é a vacina, associada ao uso do preservativo.

– Hepatite C: tem como principal forma de transmissão o contato com sangue. Não existe vacina ainda.

– Hepatite D: ocorre apenas em pacientes infectados pelo vírus da hepatite B. A vacinação contra a hepatite B também protege de uma infecção com a hepatite D.

– Hepatite E: transmitida por via digestiva (transmissão fecal-oral). A hepatite E não costuma se tornar crônica, porém, mulheres grávidas que forem infectadas podem apresentar formas mais graves da doença.

Da Agência Brasil e Assessorias, com Redação

 

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