Janeiro Roxo: hanseníase é transmitida pelo ar, não pelo toque

Uma das mais antigas doenças da Humanidade, hanseníase hoje é tratável e curável. Brasil tem segundo maior número de casos, depois da Índia

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Janeiro Roxo é o mês da conscientização sobre os cuidados, tratamentos e prevenção sobre a hanseníase. A doença foi popularmente conhecida como “lepra”, um nome que carrega bastante estigma e preconceito. Por isso, o termo foi extinto no Brasil por meio da Lei 9.010 de 1995 e substituído por “hanseníase” como uma forma de eliminar a discriminação histórica.

Uma das doenças infectocontagiosas mais antigas da Humanidade e ainda prevalente, a hanseníase é cercada por mitos, que ampliam o desafio no diagnóstico precoce e no tratamento da patologia. No Janeiro Roxo, é celebrado o Dia Mundial de Combate à Hanseníase (29/1), esclarecendo sobre a doença que tem cura e pode ser tratada precocemente. 

Apesar de erradicada em muitos países, a hanseníase ainda é uma realidade para os brasileiros – cerca de 30 mil novos casos são identificados por ano no país, segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil está em segundo lugar em número de casos de hanseníase, ficando atrás apenas da Índia.

Não à toa, ela é uma doença de investigação obrigatória em todo país, tendo em vista que diagnóstico e tratamento precoces são essenciais para frear a transmissão e evitar sequelas. De 2016 a 2020, foram diagnosticados mais de 150 mil casos novos dessa enfermidade no país.

A transmissão da doença ocorre quando uma pessoa portadora de hanseníase, na fase contagiosa e sem tratamento, libera o bacilo para o ambiente. A disseminação do bacilo ocorre por meios de vias respiratórias como espirros, tosse ou fala, mas não por meio de objetos usados pelo paciente. Além disso, é necessário um contato próximo e prolongado para a propagação.

Entenda a doença, hoje tratável e curável

Com o objetivo de promover a conscientização e desmistificar preconceitos históricos relacionados à doença, a campanha Janeiro Roxo esclarece que a hanseníase é uma doença tratável e tem cura. Contudo, pode deixar sequelas e deformidades se diagnosticada tardiamente, levando a pessoa a ficar incapacitada.

Silenciosa, a doença pode acometer qualquer pessoa, em qualquer faixa etária, independentemente de gênero ou raça. Causada pelo Mycobacterium leprae (M. leprae), é uma doença infecciosa, de caráter crônico, que acomete os nervos e a pele, principalmente, das mãos e pés, provocando lesões na pele e perda de sensibilidade.

“As mãos podem apresentar-se como em garras ou ferimentos; os olhos podem ser afetados através do dano neural de nervos cranianos, podendo causar deficiência visual e a cegueira”, explica Ketherynne Cabral de Oliveira, médica da família da rede de clínicas Meu Doutor Novamed na unidade Salvador — Caminho das Árvores.

A médica Gisele Abud, que atua como diretora técnica da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) 24h Zona Leste, em Santos (SP) – unidade da rede pública municipal gerenciada pela Pró-Saúde que atua como referência para urgências em Clínica Médica, Ortopedia, Pediatria e Odontologia – complementa:

“Com o passar dos anos, os nervos sofrem lesões mais greves, gerando deformidades e incapacidade física. Porém, quando o diagnóstico é realizado nas fases iniciais, o tratamento leva à cura definitiva, sem sequelas para o paciente. Mas as dificuldades para reconhecer os sintomas da doença e a falta de informação sobre o tema dificultam o diagnóstico precoce e o tratamento adequado”.

Hanseníase se pega pelo ar ou contato com saliva

A campanha Janeiro Roxo também destaca a importância de entender como se dá a transmissão. Transmitida por via respiratória, por meio de gotículas de saliva ou secreções nasais emitidas no ar, por meio do espirro ou tosse, após convívio prolongado com paciente infectado que não esteja em tratamento. Ou seja, apesar do que muitos acreditam, essa doença não pode ser transmitida pelo toque.

“A enfermidade é transmitida pelas secreções da via aérea superior, gotículas de saliva e pelo contato próximo e frequente com doentes que ainda não iniciaram tratamento. A hanseníase afeta principalmente a pele e os nervos periféricos, podendo impactar também a mucosa do trato respiratório superior e os olhos. Os símbolos negativos e preconceitos historicamente associados à doença atrapalham no diagnóstico precoce e no tratamento”, explica Ketherynne.

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Doença pode ficar ‘escondida’ por até 7 anos

Outro fator fundamental para ajudar a frear o número de casos é entender o seu período de manifestação. A hanseníase pode ficar incubada no organismo e demorar para se desenvolver. A doença apresenta longo período de incubação e, por isso, os sinais e sintomas nem sempre se manifestam desde a infecção. De acordo com o Ministério da Saúde, essa janela de tempo dura em média de dois a sete anos.

“A doença é longa, e pode ficar escondida no organismo de dois a sete anos em média. Por isso, os casos identificados não são necessariamente novos. Assim, é essencial que esse diagnóstico dê origem à um trabalho de busca ativa, já que esse paciente pode ter transmitido a doença para outras pessoas do seu círculo, antes de apresentar sintomas”, complementa Gisele.

Você conhece os sinais e sintomas mais frequentes da hanseníase?

De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), os principais sintomas da hanseníase são manchas na pele com mudanças na sensibilidade dolorosa, térmica e tátil, pele seca e redução de força muscular. Mas outros sinais podem aparecer, como por exemplo:

  • Manchas (esbranquiçadas, amarronzadas e avermelhadas) na pele com alteração térmica (calor e frio), de sensibilidade à dor ou ao tato;
  • Sensação de fisgada, choque, dormência e formigamento ao longo dos nervos dos membros;
  • Diminuição ou ausência da sensibilidade e da força muscular na face, mãos e pés;
  • Perda ou diminuição de pelos e redução de transpiração (suor) em algumas áreas do corpo;
  • Dor e espessamento nos nervos periféricos;
  • Caroços (nódulos) no rosto;
  • Olhos ressecados;
  • Feridas, sangramento e ressecamento do nariz;
  • Febre e mal-estar geral.

Como identificar a hanseníase

Caraterizada principalmente pelo surgimento de lesões na pele com perda ou diminuição de sensibilidade. a doença pode ainda trazer outros sintomas como nódulos no rosto, feridas ou queimaduras indolores,

Por isso, ao identificar um ou mais dos sintomas acima, é essencial procurar uma unidade de saúde para viabilizar a realização do diagnóstico mais precoce possível, bem como o tratamento oportuno que pode agir na prevenção de incapacidades físicas decorrentes da doença.

“Ao apresentar um ou mais desses sintomas, o paciente deve procurar o médico. A primeira avaliação é o diagnóstico clínico para examinar possíveis sinais dermatoneurológicos da doença para identificar lesões ou áreas de pele com alteração e comprometimento de nervos periféricos. Fundamental destacar que após o início do tratamento, logo na primeira dose, o paciente deixa de transmitir a doença”, diz Ketherynne.

Gisele Abud ressalta a importância de exames criteriosos, da coleta de material para análises laboratoriais e da atenção especial a casos em crianças, que podem sinalizar transmissão ativa da doença. Além disso, destaca que o diagnóstico de hanseníase deve ser tratado com sensibilidade, considerando o impacto psicológico para o paciente e contexto familiar.

Formas de diagnóstico

A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) relaciona algumas ferramentas de apoio ao diagnóstico da hanseníase como:

Avaliação Avaliação Neurológica Simplificada (ANS);

Baciloscopia;

Detecção Molecular Qualitativa de M. leprae por Reação em Cadeia de Polimerase em Tempo Real (qPCR);

Ultrassom de nervos periféricos;

Eletroneuromiograma;

Teste Rápido Imunocromatográfico para Detecção de Anticorpos IgM para M. leprae.

Tratamento é gratuito pelo SUS e dura até um ano

A doença pode ser curada em até 12 meses após o tratamento feito de forma correta pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com acompanhamento em unidades básicas de saúde e em unidades de referência. Os pacientes podem se tratar em casa, com supervisão médica periódica. O tratamento visa a cura da infecção e a prevenção de incapacidades físicas.

Segundo o Ministério da Saúde, o tratamento da hanseníase tem como base a antibioticoterapia, que consiste na prescrição de antibióticos. O uso imediato é essencial para barrar a transmissão da doença. A primeira dose mensal deve ser supervisionada pelo profissional de saúde, sendo as demais autoadministradas.

“É importante deixar claro também que não é necessário isolar a pessoa com hanseníase, como era feito no passado. A doença tem tratamento e pode ser curada. Somente com informação e conscientização, poderemos vencer os estigmas e preconceitos enraizados na nossa sociedade”, finaliza Gisele.

Com Assessorias

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