Como vimos ao longo deste Janeiro Roxo – que culminou no Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase (28/1) -, a doença requer ações de conscientização e prevenção em todo o país. Embora tenha diminuído sua prevalência ao longo dos anos, ainda persiste como um desafio de saúde pública no Brasil. 

De acordo com o Boletim Epidemiológico de Hanseníase de 2023, publicado pela Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, em 2022, foram diagnosticados mais de 17 mil novos casos de hanseníase. No ano anterior, em 2021, o total de diagnósticos atingiu 18 mil, com 11,2% dos pacientes classificados como grau 2 de incapacidade física, indicando lesões severas nos olhos, mãos e pés.

A hanseníase é considerada uma doença infectocontagiosa e atinge principalmente os homens, mas também afeta mulheres e pessoas de todas as idades. Entre as doenças infecciosas, a hanseníase é considerada uma das principais causas de incapacidade física em razão do seu potencial para lesões neurais.  Outro fator preocupante é que a doença causa dor, compromete a estética e pode até levar a amputações.

O MS destaca a importância de ressaltar que a hanseníase é uma doença tratável e com possibilidade de cura, desde que o paciente siga as orientações médicas nas unidades de saúde do SUS, onde o tratamento é oferecido gratuitamente. O diagnóstico precoce é muito importante, já que, se tratada desde o início, a hanseníase não causa deformidades.

Outra boa notícia trazida pelos especialistas ouvidos por ViDA & Ação em mais uma matéria da série Janeiro Roxo é que, a partir do momento que inicia o tratamento, o paciente não transmite mais a doença. Saiba mais sobre o tema:

Doença traz impactos na saúde mental dos pacientes

Especialistas aproveitam o Janeiro Roxo – mês dedicado à conscientização sobre a doença – para enfatizar a necessidade de combater o estigma associado a hanseníase, que ainda prevalece em nossa sociedade, por conta da falta de conhecimento sobre a doença nos dias de hoje.

Para Denise Altomar, dermatologista e diretora dos Prontos Atendimentos da Unimed-Rio. apesar dos avanços nos tratamentos e da curabilidade da doença, o estigma social persiste, muitas vezes prejudicando a qualidade de vida dos pacientes.

“O primeiro passo foi mudar o nome de lepra para hanseníase e esclarecer que existe tratamento fornecido pelo governo para todos – o que leva à cura”, esclarece Dra Denise.

Segundo Renata Amorim, médica dermatologista da Rede OTO | Kora Saúde, a discriminação relacionada à hanseníase frequentemente leva ao isolamento social, impactando negativamente a saúde mental dos pacientes. “O estigma está enraizado em mitos e desinformação que perpetuam o medo, contribuindo para o atraso no diagnóstico e tratamento”, alerta.

Janeiro Roxo: alerta para combater o estigma e a discriminação

Em um esforço conjunto para conscientizar a sociedade sobre a hanseníase, janeiro é dedicado ao Janeiro Roxo, um mês de alerta para o combate ao estigma e à discriminação associados a essa doença milenar. O objetivo é promover a informação, a empatia e a solidariedade em relação às pessoas afetadas por essa condição.

Durante o mês inteiro, campanhas de conscientização são intensificadas em todo o país, envolvendo organizações de saúde, governos locais e a sociedade civil, como Ministério da Saúde, Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e Sociedade Brasileira de Hanseologia (SBH).

O foco está na disseminação de informações precisas sobre a hanseníase, destacando a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado. Ao fomentar a conscientização e a empatia, o Janeiro Roxo busca construir uma sociedade mais inclusiva, na qual a hanseníase seja compreendida como uma condição médica tratável, e não como motivo para estigmatização.

“O Janeiro Roxo não é apenas a conscientização sobre a doença, mas também para promover um ambiente de compreensão e apoio para aqueles que enfrentam o desafio da hanseníase. A conscientização é a chave para a mudança, e o combate ao estigma começa com o entendimento e a solidariedade de todos”, finaliza Dra. Renata Amorim.

Saiba mais sobre a doença

A hanseníase é uma doença infectocontagiosa transmitida por uma bactéria em forma de bastão (daí o nome bacilo) chamada mycobacterium leprae, também conhecido como bacilo de Hansen.

A transmissão ocorre quando uma pessoa com hanseníase elimina o bacilo para o meio exterior pelas vias aéreas, infectando outras pessoas. Isso pode ocorrer mediante secreções nasais, gotículas de tosse, espirro ou fala dos pacientes que ficam suspensas no ar.

Atenção aos sinais

Especialistas explicam que devemos ficar atentos aos sinais e sintomas da doença. Os primeiros sintomas são nos nervos periféricos, que causam formigamentos, dormência ou ardor nos braços, mãos, pernas ou pés. Na sequência, ocorre a diminuição da força muscular das mãos, pés ou do rosto.

“Após alguns meses, ou até anos, surgem manchas na pele que podem ser de coloração esbranquiçada, avermelhada ou acastanhada. As manchas podem apresentar perda ou diminuição de sensibilidade, além de pele seca e queda de pelos. Podem surgir, ainda, nódulos (caroços) avermelhados e doloridos”, Antonio Rangel, enfermeiro da Vuelo Pharma.

Segundo Dra Denise, além das manchas na pele, o paciente pode apresentar congestão nasal, dormência, dificuldade em perceber pelo contato com a pele variações térmicas, entre outros.

“Manchas brancas ou avermelhadas podem surgir em qualquer parte do corpo, acompanhadas de perda ou alteração da sensibilidade ao frio, calor, tato e dor”, ressalta a Dra Denise.

Ela lembra que os sintomas da hanseníase não se limitam à pele. E ressalta um indício crucial: a alteração de sensibilidade nas lesões, onde o paciente não sente mudanças de temperatura ou dor.

Diagnóstico e tipos

“O diagnóstico é feito por meio de exames gerais e dermatológicos e neurológicos, que identificam lesões ou áreas de pele com alteração de sensibilidade, comprometimento de nervos periféricos e alterações sensitivas, motoras e autonômicas”, explica o enfermeiro da Vuelo Pharma.

Além dos testes de sensibilidade, dermatológicos e neurológicos, pacientes com suspeita de hanseníase são submetidos a exames laboratoriais, como baciloscopia e biópsia, para confirmar o diagnóstico.

“Existem tipos multibacilares, transmissores, e paucibacilares, não transmissores. Algumas formas da doença não apresentam lesões de pele, requerendo testes adicionais para diferenciação”, pontua a Dra. Denise.

Possíveis sequelas

A hanseníase Possui afinidade pela pele e pelos nervos periféricos, podendo causar incapacidades físicas e deformidades. Outro fator preocupante é que a doença causa dor, compromete a estética e pode até levar a amputações.  A hanseníase pode deixar sequelas, como a perda parcial ou completa da sensibilidade nas extremidades (especialmente pés e mãos).

“O grau de acometimento nervoso determina a permanência do déficit sensitivo ou motor, afetando a qualidade de vida do paciente. Por isso, é muito importante procurar um médico ao notar os primeiros sintomas”, destaca Dra Denise.

O diagnóstico precoce é muito importante, já que, se tratada desde o início, a hanseníase não causa deformidades. Segundo o enfermeiro Antonio Rangel, a identificação tardia da doença resulta em lesões de pele, perda da sensibilidade protetora, diminuição da força muscular e deformidades visíveis nas mãos, pés e olhos.

“As deformidades são uma das principais dificuldades de quem sofre com a hanseníase, devido ao preconceito e estigma social que causam”, explica ele.

Cura e tratamento

Felizmente, a hanseníase tem cura, desde que o tratamento seja realizado de forma adequada. O tratamento é realizado, geralmente, com antibióticos e pode durar de seis meses a dois anos, dependendo da forma da doença.

“O tempo de tratamento varia conforme a gravidade e forma da doença, sendo mais prolongado para os multibacilares. O acompanhamento contínuo das lesões neurológicas e possíveis sequelas é essencial”, afirma Dra Denise.

A boa notícia é que, no Brasil, o tratamento é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Diariamente, o paciente toma a medicação em casa e, uma vez por mês, vai à unidade de saúde receber a dose supervisionada.

Já o tratamento das lesões de pele pode ser acelerado com o uso de uma membrana especial à base de celulose que regenera a pele em tempo recorde.

“A Membracel protege as terminações nervosas, diminuindo a dor, e não precisa ser trocada diariamente, o que proporciona mais conforto ao paciente”, relata o enfermeiro da Vuelo.

Um desafio também para os dentistas

O atendimento odontológico direcionado ao paciente com hanseníase é fundamental, uma vez que a doença muitas vezes apresenta manifestações na região da boca e rosto de forma geral.

O cirurgião-dentista Fabio Coracin, especialista em Patologia Oral e Maxilofacial e mestre em Clínica Médica, explica que a hanseníase tem grande relevância para a Odontologia por atingir a região da boca e da face com frequência.

“Quando há a presença de manifestações orofaciais, podemos encontrar nódulos intraorais no palato, dorso da língua, lábios e faringe, e alterações esqueléticas que podem causar destruição do processo alveolar anterior, associada à perda ou mobilidade dos incisivos superiores”.

De acordo com o especialista, algumas manifestações orofaciais associadas à hanseníase podem incluir colapso do osso nasal, atrofia da espinha nasal, além de manchas na face.

As queixas orofaciais da hanseníase são comuns durante o curso da doença. Segundo o Dr. Fabio, por apresentar potencial de lesão de nervos periféricos, a doença pode provocar fraqueza muscular e deformidades. Por isso, é importante destacar que os impactos da hanseníase não são apenas físicos, mas também psicológicos.

“Isto se torna desafiador para os cirurgiões-dentistas, uma vez que os principais nervos afetados são o trigêmeo e o facial. Esta alteração afeta a cavidade oral devido à parestesia no lado comprometido culminando com provável alteração na fala e na mastigação”.

Abordagem odontológica

Em relação ao papel do cirurgião-dentista frente a um indivíduo com hanseníase, Dr. Fabio informa que os profissionais devem sempre considerar um bom exame clínico e, principalmente, a busca de sinais que leve a fazer o julgamento propedêutico do que foi obtido.

“O profissional deve ter em mente que, no exame físico intra-oral, poderá encontrar principalmente úlceras e feridas. Os sinais e sintomas da hanseníase na cavidade bucal são inespecíficos e, do ponto de vista odontológico, o manejo do indivíduo deve incluir a adaptação dos procedimentos de higiene oral de acordo com o nível de incapacidade do paciente decorrente do comprometimento dos nervos periféricos e, também, para o tratamento de lesões de tecidos moles”.

Por fim, Dr. Fabio observa que todos os pacientes devem receber atendimento odontológico de rotina utilizando o controle de infecção padrão, pois a doença apresenta baixas taxas de infecção.

Com Assessorias

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