Quarenta dias após o início das inundações que afetaram o Rio Grande do Sul, a Fiocruz alerta para o aumento da incidência de doenças respiratórias (Covid-19, gripes e resfriados e tuberculose), doenças gastrointestinais (hepatite A e diarreia infecciosa), doenças transmitidas por vetores (principalmente a dengue) e leptospirose entre a população.

Pesquisadores do Observatório de Clima e Saúde do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fiocruz (Icict/Fiocruz) alertam, em nota técnica, também para as doenças transmitidas por mosquitos, como por exemplo a dengue e a febre amarela, também aumentam o risco durante o período de chuvas, por favorecerem o desenvolvimento dos mosquitos transmissores.

Outro perigo deste momento pós-enchentes é o maior número de acidentes com animais peçonhentos, como cobras, aranhas, escorpiões, entre outros, que podem aparecer dentro das casas com a baixa das águas, somando-se às principais doenças em situações de enchente.

Essas doenças e agravos estão mais concentrados no verão, mas podem se estender nos próximos meses devido às alterações do ambiente original causadas pelas chuvas intensas e enchentes”, explica o pesquisador do Observatório de Clima e Saúde, Diego Xavier.

Para Christovam Barcellos, também pesquisador do Observatório, “a sobreposição desses riscos, nas mesmas áreas e no mesmo período, exige do sistema de saúde uma maior capacidade de realizar diagnósticos diferenciais e de identificar os casos mais graves, que precisarão de internação hospitalar ou tratamento especializado”, complementa.

Como fica a saúde mental dos desabrigados

Por meio de nota técnica, os pesquisadores da Fiocruz chamam a atenção para outra questão importante nesta etapa da tragédia: a saúde mental dos desabrigados, dos profissionais e dos voluntários que estão trabalhando na emergência. As perdas materiais e/ou de parentes e amigos podem causar um aumento de casos de transtorno de estresse pós-traumático, depressão e ansiedade.

De acordo com o estudo divulgado pelo Observatório de Clima e Saúde, as doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e transtornos mentais podem se descompensar devido à interrupção do acesso a medicamentos e cuidados médicos contínuos.

A aglomeração de pessoas nos abrigos, as obras de recuperação das cidades atingidas e o contato com água contaminada estão entre os motivos que podem causar o aumento da maioria dos problemas relacionados à saúde. Neste momento em que as ruas estão cheias de lixo e entulho à espera de coleta, lesões físicas, como cortes, fraturas, contusões e até queimaduras, também se tornam frequentes.

A nota técnica ressalta, ainda, que existem 1.518 estabelecimentos potencialmente poluidores dentro da área que esteve inundada. São indústrias, terminais de transporte, obras civis, comércios e depósitos que, invadidos pelas enchentes, podem expor a população a substâncias tóxicas nos meses posteriores ao desastre.

Sabemos que o momento é difícil e que muitos serviços ainda precisam ser restabelecidos, mas para diminuir os riscos para a população é importante que o sistema de saúde implemente iniciativas de cuidado coletivas, como campanhas de vacinação, fornecimento de água potável e de instalações sanitárias adequadas nos abrigos, o controle de vetores, o acesso contínuo a medicamentos e cuidados médicos para os doentes crônicos, além de serviços de apoio à saúde mental da população e das pessoas que estão trabalhando na emergência”, ressalta Xavier.

A nota técnica foi elaborada a partir do cruzamento de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da malha de inundação disponibilizada pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS (IPH/UFRGS).  

Sala de situação 

Logo no início de maio, a Presidência da Fiocruz instalou uma sala de situação interna para apoiar as ações do Centro de Operações de Emergência (COE) do Ministério da Saúde (MS) no Rio Grande do Sul. Os pesquisadores Christovam Barcellos, integrante do Observatório de Clima e Saúde, e Carlos Machado, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), são os representantes da Fiocruz no COE.

A atuação coordenada da Fiocruz visa contribuir com ações emergenciais e estruturantes no campo da Saúde, no médio e longo prazo, de forma articulada com o MS e os governos locais, a partir das experiências acumuladas da instituição no enfrentamento a emergências e desastres, incluindo aqueles provocados pelo rompimento de barragens.

Os estudos que o Observatório de Clima e Saúde está produzindo servem, neste momento, para orientação. Eles indicam as áreas inundadas, mapeiam unidades de saúde, farmácias, as que estão funcionando e as que estão em áreas alagadas. Depois, vamos usá-lo para monitoramento, poderemos saber quais unidades de saúde voltaram a funcionar, o que estão conseguindo produzir, quantas consultas e/ou internações estão realizando… Assim poderemos avaliar como o sistema de saúde reage nas próximas semanas e meses”, explica Barcellos.

Fonte; Fiocruz

 

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