Segundo levantamento da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), a lista de espera para recebimento de um órgão cresceu 15% no primeiro semestre de 2020, em comparação ao primeiro semestre de 2019. Cerca de 40,7 mil brasileiros adultos aguardavam por transplante, período em que foram realizados 3.632 transplantes de órgãos sólidos no país. Além disso, no mesmo período, a taxa de doadores efetivos caiu 6,5%.

Os dados mostram que houve diminuição no número de transplantes de pâncreas (-29,1%), pulmão (-27,1%), coração (-27,1%), rim (-18,4%) e fígado (-6,9%), e, de forma mais acentuada, de córneas (-44,3%) em comparação ao primeiro semestre de 2019.

Para evitar o risco de contaminação pela Covid-19 durante a internação, também houve queda nos transplantes com doador vivo, tanto de rim (-58,5%) quanto de fígado (-23,6%). A Covid-19 tem colaborado para essa redução, embora a recusa familiar continue se mostrando o principal entrave à doação.

As regiões do país que viram maior diminuição na taxa de doadores efetivos foram Norte (47,4%), Nordeste (37%) e Centro-Oeste (12,6%). Enquanto isso, as regiões Sul e Sudeste tiveram um aumento de 5% e 3,1%, respectivamente.

Devido à pandemia, o Brasil viu uma diminuição no número de procedimentos, porém, ainda assim, a queda não foi tão drástica quanto a que foi vista em países como Espanha e Estados Unidos”, afirmou Gustavo Fernandes Ferreira, médico nefrologista e vice-presidente da ABTO.

Brasil é segundo colocado em transplantes no mundo

O Brasil é um dos únicos países do mundo que oferece acesso integral, universal e gratuito aos serviços de saúde para toda a população do país através do Sistema Único de Saúde (SUS). Entre as diversas atividades exercidas pelo SUS estão os transplantes de órgãos. Segundo o Ministério da Saúde, 96% dos procedimentos no país são financiados pelo SUS.

O Brasil ocupa o segundo lugar em números absolutos de transplantes de órgãos no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. De janeiro a junho de 2020 ano foram realizados 3.632 transplantes entre coração, fígado, pâncreas, pulmão e rim; 3.963 de córnea e 1.302 de medula óssea no país.

No entanto, o país cai para a 33ª posição em proporção ao tamanho da população. Atualmente, mais de 30 mil pacientes aguardam por um transplante. Do total de potenciais doações, cerca 40% não são autorizadas pela família, e outras 10% são perdidas por falhas no manejo clínico do paciente em morte encefálica.

Hospitais particulares registram aumento de transplantes

Na contramão dos dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), que apontaram queda nos transplantes de órgãos no primeiro semestre de 2020 por conta do impacto do isolamento social, dois hospitais particulares registram alta nesse procedimento.

O Hospital Alemão Oswaldo Cruz realizou, entre os meses de janeiro de setembro de 2020, um total de 26 transplantes de órgãos de pacientes atendidos nas unidades Paulista e Vergueiro. O número é 8,33% superior ao total de procedimentos feitos em todo o ano de 2019, quando a instituição contabilizou 24 transplantes.

Nos nove meses de 2020, a Unidade Vergueiro do Hospital Alemão Oswaldo Cruz realizou 17 transplantes, sendo 14 de fígado, dois de rim e o primeiro transplante de pâncreas da Unidade. Na Unidade Paulista, foram sete transplantes renais e dois de fígado. Todos os receptores seguem em acompanhamento ambulatorial, sem rejeição do enxerto.

Já o Hospital Leforte – Unidade Liberdade conseguiu aumentar o número de procedimentos realizados durante a pandemia. O maior aumento foi registrado nos transplantes de fígado, com alta de 160% entre março e setembro de 2020, em comparação ao mesmo período do ano anterior. Em todo o país, no primeiro semestre, esse tipo de transplante sofreu queda de quase 7%, segundo a ABTO. Outro destaque foi registrado nas cirurgias para transplante de pâncreas e rins simultâneos, cuja alta foi de 47% desde o início da pandemia.

Protocolos de segurança para realizar transplantes

De acordo com Américo Cuvello Neto, coordenador do transplante de órgãos sólidos, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz cumpriu os protocolos estabelecidos pelas autoridades sanitárias competentes, como Ministério da Saúde, Organização Mundial da Saúde (OMS) e Vigilância Sanitária, para o enfrentamento à pandemia.

A definição de fluxos internos e equipes assistenciais distintas para atendimento de pacientes com o diagnóstico da Covid-19 é outra medida fundamental a ser seguida para garantir a segurança e o desfecho dos transplantes.

O receptor de órgão é um paciente que inspira cuidados antes, durante e após a cirurgia. Definimos fluxos internos e espaços específicos para atendê-los durante o período de internação e, seguimos com um criterioso acompanhamento pós-alta. Esse conjunto de medidas é crucial para os bons resultados conquistados neste momento de pandemia”, afirma Cuvello.

Marcelo Perosa, coordenador da equipe de transplantes do Hospital Leforte – Unidade Liberdade, foi feito um grande esforço para aperfeiçoar a captação de órgãos e adequar-se rapidamente aos novos protocolos de segurança contra a Covid. “Implantamos rapidamente a teleconsulta e mantivemos o ambulatório de transplantes ativo. O nosso maior esforço, contudo, foi na captação de órgãos. Não tiramos o pé do acelerador. Organizamo-nos em logísticas complexas para captar órgãos em todo o país”, conta o Dr. Perosa.

Quanto ao fluxo de pacientes, o cirurgião explica que existem UTI e enfermaria, além de profissionais separados para evitar contágio por Covid. “Todo paciente passava por tomografia de tórax na admissão para o transplante”, diz o especialista.

Como a sorologia para Covid é demorada e o órgão retirado não pode esperar, fazer a tomografia de tórax foi uma forma mais rápida para identificar suspeitas de contágio pelo novo coronavírus, mesmo em pacientes assintomáticos. Em quatro ocasiões, o transplante não pode ser realizado por achados suspeitos da tomografia de tórax do paciente.

Tem sido muito enriquecedora esta experiência durante as dificuldades impostas pela pandemia e, alinhados com orientações de Sociedades de Transplantes, não interrompemos a atividade de transplantes pois sabemos que a mortalidade de pacientes em fila de espera é muito superior a eventual mortalidade pela Covid”, afirma o Dr. Perosa.

Medula óssea: preocupação com o cadastro de doadores

No caso dos transplantes de medula óssea, necessários para pacientes com doenças do sangue, a grande preocupação é com o cadastro de novos doadores. Esse número sofreu queda de 30% desde o início da pandemia. Isso prejudica o paciente, que pode esperar meses na fila até encontrar um doador compatível.

O transplante de medula óssea é indicado para casos de doenças do sangue, como leucemia aguda, leucemia mieloide crônica, linfomas, anemias graves, hemoglobinoplatias, imunodeficiências congênitas, mieloma múltiplo, osteopetrose, talassemia major e outras. Além do cadastro de novos doadores, é preciso manter os dados atualizados, pois não são raros os casos em que um paciente compatível é identificado, mas o doador não é encontrado.

Veja o balanço de transplante do Grupo Leforte*

Órgão20192020Variação
Fígado1026160%
Rim – Doador falecido25264%
Pâncreas + Rim192847%
Pâncreas1610-37%
Total709028%

*Acumulado entre março e setembro

Farmacêutica doa testes para facilitar diagnóstico

Por protocolo da ABTO, a cirurgia hoje só pode ocorrer após testagem negativa para Covid-19. Diante da queda no número de doações de órgãos durante a pandemia, a farmacêutica EMS se mobilizou para criar o projeto Transplante Seguro. A iniciativa tem como objetivo apoiar a retomada dos transplantes e as pessoas que necessitam de doações de órgãos em território nacional.

O projeto consiste na disponibilização de testes RT-PCR Covid-19 para importantes centros e serviços de transplantes do País. “Queremos contribuir para que esse cenário seja mudado rapidamente e não deixar o transplante morrer no Brasil”, afirma Alexandre Gonçalves, diretor da unidade Hospitalar da EMS.

Como se tornar um doador de órgão?

Dr. Gustavo explica que as doações de órgãos podem ser feitas por pessoas vivas ou por falecidos. “É possível doar parte do fígado, da medula óssea ou do pulmão, assim como um dos rins, ainda em vida. Para doadores falecidos, o procedimento só é autorizado quando há morte encefálica e autorização da família”, explicou o vice-presidente da ABTO.

Cada órgão possui um tempo de isquemia para que o transplante pode ser realizado. “A isquemia é o tempo máximo em que o órgão pode ficar sem receber irrigação sanguínea. Esse tempo varia de acordo com o órgão. Por exemplo, o coração tem um tempo de isquemia de 4 horas, enquanto o do fígado é de 12 horas e o de rim, 48 horas”, esclarece o nefrologista.

Dr. Gustavo afirma que é preciso avisar a família sobre o desejo de ser um doador de órgãos, “pois, a família precisa autorizar a doação quando há morte encefálica. Só com esse consentimento, conseguimos avaliar os órgãos do falecido que poderão ser doados a quem necessita de um transplante”.

O Sistema Nacional de Transplantes (SNT) é o órgão responsável pelo controle da lista de espera que é definida pela Central de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada estado. O paciente que espera por um transplante pode esperar por um longo tempo, já que a demanda por órgãos é maior do que o número de doadores. “Por isso, é de extrema importância que as pessoas se conscientizem sobre o assunto e caso se tornem doadores que comuniquem junto à suas famílias”, ressalta.

No caso da doação de medula óssea é possível se cadastrar voluntariamente no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), que já possui mais de 4 milhões de cadastros, colocando o Brasil como o terceiro maior registro do mundo. O Redome também possibilita uma busca global, o que aumenta as chances de o paciente encontrar um doador compatível para o transplante de medula óssea.

Para saber mais sobre doação de órgãos, acesse: http://site.abto.org.br/

Com Assessorias

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