Quando junho chega, o Brasil se transforma. As ruas se enchem de bandeirinhas, o cheiro de milho e canjica toma conta do ar e o céu vira palco para o espetáculo de luzes dos fogos de artifício. Mas, por trás do encanto das festas juninas, uma estatística preocupante se repete ano após ano: o número de queimaduras dispara e, em muitos casos, de forma evitável.

As festas juninas encantam pela alegria das quadrilhas, as comidas típicas e o clima, aquecido por fogueiras e lareiras. Mas, para que esse período seja celebrado com tranquilidade, é importante estar atento a riscos comuns dessa época do ano, como queimaduras, acidentes com fogos de artifício e o uso inadequado de aquecedores em ambientes fechados.

Fogueiras improvisadas, panelões fervendo e fogos mal manuseados aumentam os casos de queimaduras, especialmente entre crianças. As fogueiras são um símbolo das festas juninas, mas estão entre as principais causas de queimaduras neste período.

De acordo com estimativas da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), cerca de 1 milhão de brasileiros sofrem algum tipo de queimadura por ano. Desse total, crianças e idosos são as principais vítimas.  Segundo dados da SBQ e do Ministério da Saúde, cerca de 400 mil crianças sofrem queimaduras todos os anos no Brasil. Desse total, aproximadamente 30 mil precisam de internação hospitalar.

Um cenário que se intensifica especialmente nos meses de junho e julho. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão, em 2024, mais de 34 mil atendimentos por queimaduras foram realizados no país durante os meses de festa junina, sendo as mãos as regiões mais afetadas, com lesões de segundo grau, deformidades permanentes ou até amputações.

Diante disso, especialistas revelam os perigos invisíveis por trás do brilho das festividades e reforçam como agir diante dos acidentes mais comuns da temporada de São João. O perigo está por toda parte: fogueiras improvisadas, bebidas quentes servidas em recipientes frágeis, panelões de quentão fervente ao alcance das crianças.

Todo ano vemos casos graves envolvendo bebês e crianças pequenas que sofrem queimaduras com líquidos quentes. São acidentes rápidos e maioria dos casos acontece por descuido, falta de informação ou pela sensação equivocada de que ‘não vai acontecer comigo’”, alerta Andrezza Barreto, enfermeira da Vuelo Pharma e especialista em tratamento de lesões de pele. 

Luiz Philipe Molina Vana, coordenador do Centro de Tratamento à Criança Queimada (CTCQ) do Sabará e ex-presidente da SBQ, também chama atenção para épocas do ano em que os riscos aumentam, como nas festas juninas, quando há maior exposição a fogueiras, fogos de artifício e até balões — que, além de ilegais, são extremamente perigosos.

Esses períodos exigem vigilância redobrada, assim como nas férias escolares, quando as crianças passam mais tempo em casa e, consequentemente, mais expostas a acidentes”, explica.

Atenção aos fogos de artifício

Entre os acidentes mais graves estão os causados por fogos de artifício – muitas vezes manuseados por pessoas sem qualquer orientação técnica. Apesar de tradicionais, eles representam um risco sério quando manipulados sem o devido cuidado.Um erro de cálculo, um fósforo aceso antes da hora, e a brincadeira pode virar tragédia.

Fogos são explosivos. Precisam ser tratados com o mesmo cuidado que se teria com gasolina ou produtos tóxicos. O manuseio de fogos deve ser feito apenas por adultos, sempre com produtos certificados por órgãos competentes. Itens como bombinhas e rojões não devem, em hipótese alguma, ser entregues a crianças”, reforça Andrezza.

Para quem deseja uma alternativa mais segura e inclusiva, a recomendação é optar por fogos silenciosos, que reduzem o risco de acidentes e o impacto em pessoas com sensibilidade auditiva, como autistas, idosos e animais de estimação.

Cuidado na hora de acender a fogueira

No caso de fogueiras, é importante lembrar que o fogo deve ser aceso apenas em ambientes abertos e bem ventilados, nunca em áreas internas, varandas ou espaços com cobertura. Mesmo em locais apropriados, é essencial manter uma distância segura e restringir o acesso de crianças e animais ao redor da fogueira.

O uso de substâncias inflamáveis como álcool ou gasolina para acender o fogo é desencorajado, podendo provocar explosões e queimaduras graves. Em eventos públicos ou privados que utilizam fogueiras, o ideal é que a estrutura seja montada por profissionais capacitados, com acompanhamento e sinalização adequada.

Crianças pequenas são especialmente curiosas e podem se aproximar de fontes de calor sem perceber o perigo. Já os idosos, por apresentarem pele mais sensível e menor percepção de calor, também estão mais propensos a queimaduras e quedas em ambientes mal iluminados.

É essencial manter os ambientes bem iluminados e os itens potencialmente perigosos fora do alcance. Tapetes soltos, fios aparentes e calçados inadequados aumentam o risco de quedas, principalmente entre os mais velhos”, alerta.

Uso de aquecedores exige cuidado especial

Para Letícia Jacome, clínica geral do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, as comemorações devem ser planejadas com segurança, especialmente quando envolvem crianças, idosos e pessoas com mobilidade reduzida. “Festas populares como o São João são momentos de afeto e confraternização. Com atenção aos cuidados básicos, é possível garantir que todos aproveitem com bem-estar e segurança”, afirma.

Ela lembra que junho também marca a queda nas temperaturas em diversas regiões do país. Por isso, o uso de lareiras, aquecedores elétricos ou a gás torna-se mais frequente. No entanto, o uso inadequado desses equipamentos em locais mal ventilados pode provocar a inalação de monóxido de carbono, um gás tóxico, sem odor e potencialmente letal.

Jamais durma com lareiras ou aquecedores a gás ligados em ambientes fechados. Sempre mantenha janelas entreabertas para permitir a circulação do ar e desligue os aparelhos antes de dormir”, orienta a especialista.

Primeiros socorros para queimaduras: o que fazer

Diante de uma queimadura, o primeiro impulso pode ser aplicar alguma “receita caseira”. Mas, segundo Andrezza, isso é um dos maiores erros. “Nada de pasta de dente, manteiga, óleo ou ervas. Isso só piora a situação”, orienta.

Em caso de queimaduras leves, a orientação é lavar a área afetada com água corrente fria em abundância por pelo menos 10 minutos e deixar a área descoberta. “Não aplique nenhum tipo de substância caseira como manteiga, pasta de dente ou pó de café. Essas práticas populares podem agravar a lesão e dificultar o tratamento”, explica a médica.

 “Não se deve aplicar nenhum tipo de produto caseiro, como pasta de dente, manteiga ou pomadas. Isso pode agravar a lesão”, reforça Dr. Molina.

Se a queimadura apresentar bolhas, dor intensa, pele esbranquiçada ou escurecida, é sinal de maior gravidade e é preciso procurar atendimento médico imediato.

Queimaduras em crianças: riscos dentro de casa acendem alerta 

Líquidos quentes lideram as causas, e crianças de até 5 anos são as principais vítimas

O risco de queimaduras não acontece somente durante as festividades juninas. O dia 6 de junho, o Brasil volta os olhos para um problema que acontece, na maioria das vezes, dentro de casa — e que pode ter consequências graves. A data marca o Dia Nacional de Luta Contra Queimaduras, uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) para conscientizar sobre os riscos e reforçar medidas de prevenção.

No Brasil, 1 milhão de pessoas sofre queimaduras, sendo que cerca de 70% ocorrem dentro de casa. Entre as vítimas mais frequentes estão as crianças de 0 a 5 anos, faixa etária que concentra a maior parte dos atendimentos também no Sabará Hospital Infantil, em São Paulo. Na unidade já foram atendidas 41 crianças por queimaduras, sendo que quatro precisaram de internação (uma por eletricidade, duas por água quente e uma por óleo).

As estatísticas também apontam um dado preocupante: a maioria dos acidentes ocorre dentro de casa, principalmente na cozinha. Líquidos quentes, como água e óleo ferventes, lideram as causas, seguidos por alimentos e bebidas aquecidos, além do contato com superfícies quentes, como panelas, ferros de passar e fornos.

Grande parte desses acidentes acontece por descuido momentâneo. As crianças pequenas são muito curiosas e não têm noção do perigo. Por isso, o olhar atento dos adultos é fundamental”, alerta Luiz Philipe Molina Vana, coordenador do Centro de Tratamento à Criança Queimada (CTCQ) do Sabará e ex-presidente da SBQ.

Para evitar acidentes, os especialistas recomendam cuidados simples, mas que fazem toda a diferença:

  • Nunca deixe crianças sozinhas na cozinha ou perto de fontes de calor.
  • Panelas devem estar sempre com os cabos virados para dentro do fogão.
  • Evite que crianças manipulem líquidos quentes, velas, fósforos ou isqueiros.
  • Produtos inflamáveis, como álcool, devem ser mantidos fora do alcance.
  • Durante as festas juninas, crianças não devem se aproximar de fogueiras nem manusear fogos de artifício.

Dr Molina lembra que cuidar de uma criança com queimaduras exige uma estrutura de atendimento multidisciplinar que tenha experiência tanto em minimizar sequelas como também conte com orientação voltada para o aspecto psicológico do acidente.

O Sabará Hospital Infantil, por exemplo, dispõe do CTCQ — Centro de Tratamento à Criança Queimada, primeiro serviço exclusivo em hospital privado no país voltado para crianças e adolescentes vítimas de queimaduras. O centro oferece atendimento emergencial, cirúrgico e acompanhamento multidisciplinar, fundamental para minimizar sequelas físicas e emocionais.

Com Assessorias

 

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