Com sintomas semelhantes aos da dengue e também transmitida por mosquitos, a febre Oropouche está se espalhando rapidamente pelo Brasil, preocupando especialistas em saúde. O Ministério da Saúde confirmou 6.285 casos da doença em 2024.  Em maio, a pasta emitiu um alerta nacional sobre a disseminação atípica da febre Oropouche.

É uma arbovirose, ou seja, uma doença causada por um vírus que é transmitido por artrópodes. Trata-se de uma doença febril causada pelo vírus Oropouche, que é transmitido principalmente por picadas de mosquitos, especialmente do gênero Culicoides – conhecido popularmente como maruim.

A febre Oropouche é comum em várias regiões da América do Sul e tem sido relatada em países como Brasil, Peru e Panamá. Embora endêmica na Amazônia desde os anos 1960, a transmissão local do vírus Oropouche agora também foi confirmada em estados como Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Piauí.

No Rio, o primeiro caso foi registrado em março deste ano, de um paciente que se contaminou na Região Norte do país. Já em junho, o estado chegou a 54 casos confirmados, sendo 45 autóctones – ou seja, originários em território fluminense. Mas ainda não se fala de um possível surto ou epidemia de Oropouche no estado.

Por se tratar de uma doença com primeira detecção no estado, e que tem sido detectada com maior frequência em surtos mais recentes no país, estudos e análises sobre os casos, os vetores e hospedeiros estão em andamento, o que irá nos apoiar para aprimorar as ações de vigilância, bem como para avaliar o real risco de epidemia pela doença”, informou a Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) em abril.

Painel vai acompanhar evolução de casos no RJ

No entanto, diante do aumento de casos, a pasta decidiu lançar um painel de monitoramento da Febre do Oropouche (FO). O objetivo é ampliar o acesso da população às informações sobre a doença em todo o estado do Rio de Janeiro.

O painel distribui a análise dos casos por semana de início de sintomas; local provável de infecção (LPI); por município de notificação e por município de infecção e ainda mostra, os casos confirmados, faixa etária, casos por raça/cor e gênero dos pacientes, além da distribuição de casos por sinais, sintomas e comorbidades.

O conjunto de dados é atualizado semanalmente a partir de análises realizadas no Laboratório Central de Saúde Pública Noel Nutels (Lacen/RJ).  Os casos confirmados fazem parte de uma vigilância laboratorial, onde uma amostragem de casos negativos para dengue, chikungunya e Zika é testada para outras arboviroses (Febre Oropouche e Mayaro).

O Lacen/RJ testará um percentual de amostras, mapeando as nove regiões de saúde do Estado do Rio. Todas as amostras de óbitos em investigação atual e crianças menores de 5 anos suspeitas de arboviroses com resultados para dengue, chikungunya e Zika negativos também serão avaliadas.

Esse painel será mais uma forma de oferecermos transparência à população em relação aos casos de febre de Oropouche no nosso estado e todo o cenário epidemiológico da doença. É mais um trabalho desempenhado pela nossa equipe, aliado aos investimentos em tecnologia realizados no nosso Centro de Inteligência em Saúde (CIS)”, ressaltou a secretária de Estado de Saúde, Claudia Mello.

Mudanças climáticas e desmatamento

A disseminação do vírus está ligada a fatores como desmatamento, atividades de garimpo, avanço agrícola, construção de infraestruturas e crescimento urbano desordenado, que aproximam humanos de mosquitos silvestres e reservatórios naturais. Além disso, o aquecimento global e mudanças climáticas têm criado condições favoráveis para a reprodução dos mosquitos em novas áreas.

No Brasil, o vírus Oropouche circula tanto em ciclos silvestres quanto urbanos. No ciclo silvestre, mosquitos arborícolas infectam humanos acidentalmente ao picá-los em áreas de mata, mas primatas não humanos e bichos-preguiça e talvez as aves são os hospedeiros vertebrados são os reservatórios naturais que sustentam a circulação do vírus, embora nenhum vetor artrópode definitivo tenha sido identificado.

No ciclo urbano, os mosquitos adaptados ao ambiente urbano transmitem o vírus de humano para humano, sem necessidade de reservatórios animais. O principal vetor é o mosquito Culicoides paraensis, conhecido popularmente como maruim ou mosquito pólvora. assim como o Culex quinquefasciatus, o pernilongo, que também pode ser um vetor.

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Sintomas semelhantes aos da dengue

Os sintomas da febre Oropouche são muito semelhantes aos da dengue, com febre, dores no corpo, dores musculares e articulares, dor de cabeça, náuseas e, ocasionalmente, vômitos.

No entanto, manchas na pele, comuns na dengue, são raras na febre Oropouche. As complicações neurológicas, como meningite e encefalite, embora raras, podem ocorrer”, ressalta Carolina Lázari, infectologista e patologista clínica membro da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML).

De acordo com a especialista, a diferenciação entre a oropouche e outras arboviroses, doenças transmitidas por mosquitos, é um desafio.  “Os sintomas são compartilhados por várias arboviroses. A oropouche e a dengue têm dores articulares difusas, sem sinais inflamatórios marcantes, ao contrário da chikungunya e do vírus Mayaro, que costumam causar dores articulares intensas com inchaço e vermelhidão”, explicou Lázari.

Confirmação apenas por testes laboratoriais

Segundo ela, a confirmação do diagnóstico só é possível por meio de exames laboratoriais. A patologista clínica da SBPC/ML enfatiza que o diagnóstico da doença é feito inicialmente por PCR, detectando o RNA do vírus até o quinto dia após o início dos sintomas. A descentralização dos testes de PCR para laboratórios estaduais tem aumentado a detecção de casos.

Após o sétimo dia, a sorologia com pesquisa de anticorpos IgM e IgG torna-se a técnica recomendada. A sorologia para febre Oropouche é bastante específica, sem reatividade cruzada com outros arbovírus”, explicou Lázari.

Como se prevenir da febre Oropouche

Sobre a prevenção, a especialista da SBPC/ML reforça que as medidas são semelhantes às da dengue, como controle ambiental para evitar criadouros de mosquitos e uso de repelentes e roupas protetoras em áreas de mata.

Não há vacina disponível para a febre oropouche, e o tratamento é focado no alívio dos sintomas, com hidratação e medicação para dor e náuseas”, ressaltou Lázari.

Apesar de a maioria dos casos terem evolução favorável, a doença pode apresentar recaídas após uma melhora inicial, e as complicações neurológicas, embora raras, podem ser graves, necessitando de cuidados intensivos.

A infectologista alerta para a importância de monitoramento da doença e controle de sua disseminação, especialmente em áreas urbanas, para evitar epidemias de larga escala.

 

Saiba mais sobre a Febre do Oropouche

O que é?

A febre do Oropouche é uma zoonose causada por um arbovírus (vírus transmitido por artrópodes) do gênero Orthobunyavirus, da família Peribunyaviridae. O Orthobunyavirus oropoucheense (OROV) foi isolado pela primeira vez no Brasil em 1960, a partir de amostra de sangue de uma bicho-preguiça (Bradypus tridactylus) capturado durante a construção da rodovia Belém-Brasília.

Como é transmitida?

O vírus é transmitido predominantemente pela picada do inseto infectado Culicoides paraensis, conhecido popularmente como maruim, presente em áreas de acúmulo de matéria orgânica e beira de mangues e rios.  Esse inseto não se reproduz como o Aedes aegypti, mosquito da dengue, o que requer mais atenção da população quanto às medidas para o seu controle.

A transmissão ocorre quando a fêmea do inseto pica uma pessoa ou animal infectado e, em seguida, uma pessoa saudável, passando o vírus para ela. Uma preocupação das autoridades sanitárias é a possibilidade de o culex (pernilongo comum) poder ser um vetor da doença em áreas urbanas, o que não é comum nem tem sido observado na região Norte do país.

– Quais os sintomas?

A doença produz um quadro semelhante ao da dengue. Seu período de incubação é de quatro a oito dias (variação de três a 12 dias). O início é súbito, geralmente com febre, dor de cabeça, artralgia, mialgia, calafrios e, às vezes, náuseas e vômitos persistentes por até cinco a sete dias. Ocasionalmente, pode ocorrer meningite asséptica.

– Como é feito o diagnóstico?

Durante a fase aguda da doença, que geralmente dura de dois a sete dias, é possível detectar o material genético do vírus (RNA) por métodos moleculares (RT-PCR) em amostras de soro, principal forma de diagnóstico utilizada atualmente.

– Qual é o tratamento para Febre do Oropouche?

Não há vacina e tratamento específicos disponíveis. O tratamento é sintomático, assim como na dengue, ou seja, o paciente é tratado de acordo com os sinais e sintomas clínicos. Na maioria dos casos, o paciente se recupera em uma semana.

– Tem como prevenir?

Não há estudo que indique eficácia da vacina da dengue ou outro imunobiológico, para a Febre do Oroupuche. As medidas de prevenção consistem basicamente em evitar o contato com áreas de ocorrência e minimizar a exposição às picadas dos vetores, seja por meio de recursos de proteção individual (uso de roupas compridas, de sapatos fechados e de repelentes nas partes do corpo expostas) ou coletiva (limpeza de terrenos e de locais de criação de animais; recolhimento de folhas e frutos que caem no solo; uso de telas de malha fina em portas e janelas).

Com informações da SES-RJ e SBPC/ML

 

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