Marcela Porto, mais conhecida como Mulher Abacaxi, causou polêmica no desfile da Acadêmicos de Niterói, na Sapucaí, nesta sexta-feira (17), pela Série Ouro do Carnaval carioca. A rainha da escola de samba esqueceu a parte de cima da fantasia em casa e desfilou com os seios de fora. Mas a atitude da caminhoneira causou um reboliço nas redes sociais. Marcela, que tem 49 anos e é uma mulher trans, acredita ser alvo de preconceito.

“Etarismo e transfobia. Se fosse uma mulher cis e nova isso iria acontecer. Mulheres cis maravilhosas, como Luma de Oliveira, minha eterna musa inspiradora, Viviane Araújo, maravilhosa, e outras já saíram com os seios de fora, por que eu não posso ter essa liberdade? Por que sou uma mulher trans e madura?”, questiona.

Um vídeo da caminhoneira e rainha da Acadêmicos de Niterói viralizou nas redes – confira aqui – e gerou muitos comentários em tom negativo. “Depois cobram respeito dos homens”, escreveu uma internauta. “Qual a necessidade disso? Chega ser caótico de se ver”, opinou uma pessoa. “Que coisa sem cabimento”, avaliou mais uma. “A gente não quer ver silicone, mais, sim, samba no pé”, disse outra no vídeo postado por uma página de samba em conjunto com a própria empresária.

A página Rainha Mattos também publicou o vídeo e mais críticas surgiram. Mas a polêmica não abalou a rainha da escola de samba. Para ela, as pessoas preconceituosas são uma minoria. “O povo me ama muito. Só tem uns recalcados transfóbicos que me criticam. Isso é pouco perto do carinho do povo e vida que segue”, disse.

 

Expectativa de vida de pessoa trans é de 35 anos

No Dia do Orgulho Trans, lembrado anualmente no dia 29 de janeiro, Marcela Porto disse se sentir uma privilegiada por ser dona de uma empresa, ter sua casa própria e ainda ser escolhida para o cargo de rainha de uma escola de samba, a Acadêmicos de Niterói.

“É preciso entender que, infelizmente, são poucas manas que conseguem tudo que eu consegui. Isso tudo não é tão comum em um país tão preconceituoso como o Brasil. Me orgulho de estar aqui representando todas elas. E também de ter 49 anos, sendo que a expectativa de vida de uma pessoa trans é de 35, pois o país mata trans. Temos que mudar essa realidade urgente”, destaca.

A empresária, conhecida como Mulher Abacaxi, conta que foi prestigiada no ensaio por outras mulheres trans. “Elas falaram que sou uma referência, mas não me sinto. É que eu ocupo lugares que poucas ocupam, infelizmente”, finalizou, após dar um show de simpatia e samba no pé.

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Cirurgia de feminização da face custou R$ 50 mil

Para chegar à Sapucaí plena como desfilou a Mulher Abacaxi enfrentou sacrifícios, como a recuperação de uma cirurgia de feminização da face por cerca de um mês. Ela ainda aproveitou a cirurgia de afirmação de gênero para rejuvenescer algumas partes. O conjunto de procedimentos – Frontoplastia (testa e sobrancelhas), Mentoplastia (queixo), Cervicoplastia (pescoço) e Cantopexia (subir o canto dos olhos) – teve um custo de R$ 50 mil e mais R$ 8.300 do hospital, em Natal.

“Havia pontos no meu rosto que deixavam ele mais grosseiro. Isso me incomodava, então quis suavizar mais e deixar mais feminino“, contou Marcela. “O pescoço já estava incomodando por ficar um pouco mais flácido e eu queria mudar. Pensei até em um lifting, mas que o médico optou por trabalhar no pescoço agora e se for o caso, futuramente, fazer um lifting”, diz a caminhoneira.

Mulher Abacaxi com o médico que fez a cirurgia de R$ 50 mil (Acervo pessoal)

De acordo com o médico foram feitos pelo médico cirurgião Rostand Lanverly, que operou a Mulher Abacaxi, neste tipo de cirurgia, o tempo de recuperação depende de cada parte do rosto. “A testa ocorre em poucas semanas até 30 dias. O pescoço também. Já o queixo demora um pouco mais. Em média 3 a 6 semanas para chegar ao resultado final, mas com 30 dias já se consegue ver grandes mudanças”, pontua o profissional, que atende na ICPP, em Natal, e no Instituto da Face, em São Paulo.

Mulher Abacaxi quer ser enredo no carnaval: “Igual a Luma de Oliveira”

No início do mês, ao ser coroada no ensaio técnico da escola de samba da Série Ouro, Marcela revelou um sonho: “Quero ser a primeira trans a virar enredo no Carnaval. Igual a Luma de Oliveira, que é minha musa inspiradora foi. Eu adoraria ter essa homenagem. Quem sabe alguma escola de samba não se anima em fazer?”, deseja.

A empresária usou um look de R$ 9 mil do estilista Luis Fernando Gomes. Marcela também falou sobre a coroação e o ensaio. “Eu sempre me emociono em pisar na Sapucaí. Este lugar tem uma energia incrível. A escola tá linda. Se Deus quiser ano que vem estamos no Grupo Especial”, disse, após ser coroada pelo presidente da Acadêmicos de Niterói, Hugo Junior. 

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