Com frequência ouvimos de muita gente – dos nossos avós especialmente – que um leitinho pela manhã sempre cai bem. Pois bem, a sabedoria popular é mais uma vez comprovada pela ciência. Um estudo realizado por cientistas canadenses da Unidade de Pesquisas Nutracêuticas Humanas da Universidade de Guelph, com colaboração da Universidade de Toronto, demonstrou que consumir leite durante o café da manhã, mesmo com alimentos ricos em carboidratos, reduz a glicose no sangue mesmo após o almoço.
A notícia é ainda mais importante para uma população de 16,8 milhões de brasileiros adultos (20 a 79 anos) que sofrem de diabetes tipo 2. Segundo dados do Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF), somos o quinto país em incidência da doença no mundo, perdemos apenas para China, Índia, Estados Unidos e Paquistão.
De acordo com a endocrinologista Pryscilla Moreira, um dos grandes desafios do paciente com diabetes é justamente combater esse desequilíbrio do metabolismo da glicose, que é, a grosso modo, a quantidade de açúcar no sangue.
“Quando o paciente com diabetes tem uma alimentação descontrolada, no que diz respeito ao açúcar, ele tem uma piora desses níveis glicêmicos, e portanto, uma piora no controle da doença”, explica a médica que atua no complexo de serviços médicos e de saúde em Goiânia, o Órion Complex.
A especialista afirma que uma das melhores maneiras para se controlar a diabetes é por meio de uma dieta saudável e sem excessos. Quando o paciente consegue controlar a glicose por meio da alimentação, é possível diminuir a quantidade de medicação, reduzir significativamente o tempo de evolução de piora da doença e diminuir os efeitos das complicações que podem aparecer.
“Quando falamos em controlar a glicose, não estamos falando só do consumo de doces e açúcar, mas principalmente do carboidrato presente uma série de alimentos como frutas, verduras, nos alimentos com base em farinhas brancas, pois estes sim, quando não controlados corretamente, são os grandes vilões do paciente com diabetes”, esclarece Pryscilla.
Sedentarismo e hábitos alimentares são desafio
A divulgação dos dados preliminares da 10ª edição do Atlas do Diabetes, no último dia 5, pela Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês) mostrou que a doença atinge números alarmantes em todo o mundo. Só em 2021, 6,7 milhões de pessoas morreram em decorrência do diabetes e a previsão é de que 784 milhões de pessoas tenham a doença em 2045.
Os dados mais recentes do Atlas do Diabetes mostram que houve um aumento de 16% no número de pessoas com a doença em todo o mundo em comparação a 2019. A edição deste ano mostra que atualmente são 537 milhões de pessoas entre 20 e 79 anos convivendo com o diabetes. Apesar de estar ligada a questões genéticas e ao uso de determinados medicamentos, para o sedentarismo e hábitos alimentares desregrados são os principais desafios para evitar a doença.
“Pessoas que não praticam exercícios físicos e que têm uma alimentação rica em açúcares e gorduras e ingerem em excesso alimentos industrializados e de origem animal estão mais vulneráveis a desenvolver diabetes”, explica o médico Paulo Benício, clínico geral do Hospital Adventista Silvestre, no Cosme Velho, Rio de Janeiro.
Estilo de vida saudável na pandemia
Manter um estilo de vida saudável se tornou ainda mais difícil durante a pandemia de Covid-19. “As pessoas permaneceram mais tempo em casa durante a pandemia e a tendência foi que houvesse uma diminuição da prática de atividades físicas, escolhas alimentares equivocadas, menor exposição ao sol, alterações na rotina de sono, diversos fatores envolvidos no controle e na prevenção do diabetes”, explicou Paulo Benício, que destacou também que a falta de acompanhamento médico favorece o descontrole da doença.
Para o médico do Hospital Silvestre, estabelecer hábitos mais saudáveis, ter comprometimento com o tratamento médico, apoio familiar, que deve participar das mudanças dietéticas, e acesso à informação são os pilares para lidar com o diabetes.
“O Governo precisa investir em campanhas de prevenção e informação. Sabemos que mudar a rotina e os hábitos alimentares não é algo simples e envolve preconceitos, questões familiares, sociais e culturais. Investir em educação nutricional é o segredo para melhorar a adesão da população a práticas mais saudáveis e ao tratamento da diabetes”, enfatiza Paulo Benício.
Atenção aos alimentos de alto índice glicêmico
O diabetes é uma doença crônica relacionada com a insulina, hormônio responsável pelos níveis de glicose no sangue. O quadro diabético surge quando o organismo do paciente não produz insulina ou não consegue usar adequadamente o que produz. Dessa forma, o diabetes pode ser classificado em diferentes subtipos, sendo os mais frequentes o diabetes mellitus tipo 1 e o diabetes mellitus tipo 2, que podem surgir por fatores genéticos, alimentares ou até pelo avanço da idade.
“Os alimentos com índice glicêmico mais elevado produzem excursões glicêmicas mais pronunciadas. Ou seja, levam à hiperglicemia após as refeições com mais frequência. Portanto, devem ser evitados. Pessoas com DM precisam transformar seus hábitos de forma que o consumo de carboidratos seja controlado e dar preferência aos carboidratos mais complexos, mais ricos em fibras e com menor índice glicêmico”, explica o endocrinologista Roberto Zagur, coordenador do Departamento de Diabetes, Exercício e Esporte da Sociedade Brasileira do Diabetes (SBD).
Isso não quer dizer que os carboidratos devem ser excluídos da dieta de uma pessoa com DM, mas devem sim ser restringidos e melhor escolhidos. “Boas escolhas em termos de carboidratos, sem dúvida, são fundamentais no tratamento e podem ser decisivas no controle da hiperglicemia. Pessoas com DM também podem sentir mais fome por terem resistência à insulina no hipotálamo, por isso é importante uma dieta de controle glicêmico, explica Zagury. Para ajudar neste controle é preciso estar atento à alimentação e uma suplementação especial pode ajudar.
Benefícios do leite
Além do que foi revelado no estudo da Universidade de Guelph, a endocrinologista Pryscilla Moreira cita outros benefícios do leite, um alimento proteico que auxilia muito numa melhor absorção dos carboidratos. “A quantidade de proteínas que o leite oferece é muito importante para que o paciente tenha um maior controle de seus níveis glicêmicos”, pontua a médica.
Mas, independente desse benefício aos diabéticos, a médica explica que o leite, de maneira geral, é muito benéfico para a população, afinal é uma fonte barata de proteína e de cálcio, mineral importantíssimo para a formação de ossos e dentes, para a regulação da coagulação sanguínea e para funções neuromusculares.
Bem-estar e saúde
Ao longo de séculos, o leite tem sido vinculado, não só a sua função primária de alimento, mas também com a questão da saúde e do bem-estar. Para muitos especialistas em saúde e comportamento, isso provém muito provavelmente da relação profunda que temos com o leite logo que nascemos, por meio do processo de amamentação.
Apesar de sua origem animal, o leite de vaca está entre os alimentos mais seguros para o consumo humano. Para se manter nesse segmento dos alimentos promotores de saúde e bem-estar, a indústria láctea está entre as que mais evoluíram no setor alimentício.
“O moderno processo de pasteurização e de esterilização, por meio do método UHT [da sigla em inglês para Ultra High Temperature], garante um produto estéril de quaisquer microorganismos nocivos à saúde”, explica André Luiz Rodrigues Junqueira, presidente do grupo Marajoara Laticínios.
Ele lembra ainda que a legislação brasileira não permite a adição de nenhum tipo de conservante ao leite, o que faz do alimento uma opção ainda mais saudável, tanto para adultos quanto para crianças. Por ser um produto de origem animal, o leite é alvo de uma rigorosa fiscalização, que é cumprida pelas indústrias de laticínios”, detalha André Luiz.
“Hoje, graças a modernas técnicas de processamento conseguimos produzir uma série de tipos de leite, bem como diversos derivados. Temos hoje além do leite longa vida, que está entre os itens mais consumidos, temos os desnatados, semi-desnatados, os sem lactose; uma grande evolução do produto que fez com que mais pessoas consumam esse alimento”, disse ele.
Com Assessorias