Sua vida tem sido estressante? A alimentação desregrada? Suas atividades físicas estão prejudicadas com a pandemia? Aumentou o consumo de tabaco e álcool? E de comidas prontas, industrializadas? Você se sente ansioso? E durante a pandemia do coronavirus, os problemas se acentuaram? Pois saiba que você pode estar hipertenso e não sabe.
Um estudo divulgado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia relatou aumento de casos de hipertensão e também de problemas cardiovasculares que chegaram a aumentar o número de óbitos em 2020 em 132%. Mas a preocupação com a pressão arterial em nível acima do desejável pode representar também um risco a mais para a Covid-19.
A Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz divulgou um relatório que mostra que o crescimento das taxas de hospitalizações por Covid-19, no mês de março, em pessoas com faixas etárias de 30 a 59 anos superou o aumento global da doença. Considerando todas as idades, o crescimento de casos chegou a 700%, se comparado a janeiro, enquanto em jovens essa escalada passou de assustadores 1.000%.
Essa é mais uma preocupação das autoridades de saúde, já que a hipertensão é um dos agravantes para os infectados pelo coronavírus. Ao longo da pandemia, profissionais de saúde e pesquisadores têm tentado compreender os motivos dessa piora dos pacientes hipertensos.
Estudos indicam que a Covid-19 é uma doença que modifica respostas metabólicas, inflamatórias e de coagulação, gerando o comprometimento de vários órgãos, incluindo o coração. Pessoas que já tenham alterações crônicas do coração ficam, então, mais suscetíveis a ter evolução mais grave da doença.
Especialista em hipertensão, a cardiologista Aline Moraes, coordenadora do serviço de Check-up do Hospital Marcelino Champagnat, reforça que o aumento da pressão arterial pode fazer alterações como a hipertrofia do músculo cardíaco, o que pode aumentar o risco de trombose.
Em alguns pacientes hipertensos, notamos que há uma espécie de engrossamento que o coração faz para dar conta da pressão mais alta e que dificulta o relaxamento do coração. Quando essa hipertrofia é considerável, ela pode gerar também aumento dos átrios. Essas alterações podem fazer o paciente reter mais líquido nos pulmões, provocar arritmias e aumentar o risco de trombose – todos problemas muito associados à pior evolução da Covid-19”, reforça.
Segundo dados do Vigitel, do Ministério da Saúde, houve aumento em 14% dos diagnósticos de hipertensão arterial em adultos jovens (entre 20 e 44 anos) nos últimos 10 anos. Para a cardiologista Aline Moraes, entre os motivos desse aumento estão o estilo de vida mais sedentário e o maior consumo de sal.
No entanto, também impactou nesse aumento o crescimento do número de jovens que têm realizado a aferição da pressão arterial e a adoção de valores mais baixos para caracterizar normalidade – hoje sendo os famosos “doze por oito” (120 x 80 mmHg).
É possível evitar a pressão alta com bons hábitos
O administrador Gustavo Loesch descobriu a hipertensão aos 29 anos em exames de rotina. Acima do peso e com dieta alimentar desequilibrada, precisou adotar um novo estilo de vida, além do uso da medicação indicada pelo cardiologista, para controlar a pressão arterial. “Perdi peso, cortei gorduras, reduzi o consumo do sal e faço uso de medicamento contínuo há mais de oito anos”, conta.
O médico Cid Pitombo, especialista em tratamentos para obesidade e cirurgia bariátrica por videolaparoscopia, afirma que cerca de 25% dos brasileiros já tinham hipertensão antes da pandemia. Esperamos novos dados do Ministério da Saúde para saber como estamos agora. Certamente é maior porque foi um ano muito estressante para todos.
O alerta que precisa ser reforçado é que que muitas doenças podem ser evitadas se diminuirmos o fumo e álcool excessivo, alimentos industrializados e ultraprocessados, que são carregados de sódio. Também ajuda se abandonarmos de vez o sedentarismo e ao menos, fazermos uma caminhada, pular corda, andar de bicicleta, ou exercícios funcionais em casa mesmo, além de dormitmos ao menos 7 horas por dia.
Fazendo essa rotina, já vai ajudar a aliviar o estresse, grande provocador de hipertensão. Aí pode complementar com atividades prazerosas, como ouvir música, dançar, ler um bom livro, brincar com crianças ou animais e tantos outros hobbies ou atividades que trazem mais calma, conforto e alegria”, reforça
Principais sintomas
A pressão arterial acima de 12×8 ou de 13×9, em idosos, é considerada acima do normal e muitas vezes o indivíduo está acima desse patamar sem sentir nada de diferente, é a chamada ‘doença silenciosa’. A hipertensão pode provocar diversas doenças, como arritmias cardíacas, acidente vascular cerebral isquêmico e hemorrágico, demência, aneurisma da aorta torácica e abdominal, insuficiência cardíaca, angina do peito, infarto agudo do miocárdio, perda progressiva da visão e insuficiência renal. A boa notícia é que ao se controlar a hipertensão com medicamentos, as chances de se desenvolverem essas doenças são muito reduzidas.
Entre os sintomas mais comuns que podem aparecer quando a pressão está acima do normal estão dor de cabeça, dor na nuca, tontura, enjoo, dor no peito (angina), falta de ar e visão turva ou embaçada, mas normalmente a doença se instala sem dar sinais. “E é muito comum famílias terem o mesmo problema, tanto de diabetes quanto de hipertensão, porque normalmente os hábitos ruins são adotados por todos, sobretudo a alimentação rica em sal, açúcar, farinhas e gorduras.
E depois da Covid trazendo tantas complicações associadas a essas comorbidades, o que se espera é a sociedade melhorar todos esses hábitos. Pacientes portadores de obesidade mórbida quando submetidos à cirurgia bariátrica, por exemplo, ao perderem peso, têm o benefício da reversão da hipertensão na maior parte dos casos. Diminuindo além da chance estatística das doenças que a hipertensão leva, a uma importante diminuição no custo com medicamentos, em um momento importante como o que estamos vivendo”, complementa.
Via de regra, a hipertensão arterial é assintomática, e a pressão pode ficar mais elevada em situações de estresse e dor e ser uma resposta normal do organismo. Por isso, as avaliações periódicas são fundamentais, quando não se tem sintomas”, ressalta a médica. “Quem já sofre com pressão alta precisa manter os níveis bem controlados com medicação e um estilo de vida saudável, além de tomar todos os cuidados já conhecidos como uso de máscara, higienização das mãos e distanciamento social para evitar a contaminação do coronavírus”, conclui Dra Aline.
Com Assessorias