A escoliose, caracterizada pela curvatura anormal da coluna vertebral, é o alvo da conscientização durante o mês de junho. Em todo o mundo, o período é dedicado a ampliar o conhecimento sobre essa condição que afeta 4% da população, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O desvio progressivo na coluna lombar pode surgir em qualquer fase da vida, mas é mais comum durante a infância e a adolescência, justamente quando o crescimento é mais acelerado. No Brasil, a OMS estima que mais de 6 milhões de pessoas vivam com algum grau da doença, especialmente adolescentes do sexo feminino.

Embora em muitos casos a curvatura seja discreta e assintomática, a escoliose pode evoluir e provocar dor crônica, cansaço, desequilíbrio postural e dificuldades respiratórias em quadros mais graves. Além do impacto físico, o desconforto com a aparência e as limitações funcionais afetam diretamente o bem-estar emocional e a qualidade de vida, principalmente entre os mais jovens.

As causas da escoliose são variadas. A forma mais comum é a idiopática, que surge sem causa aparente e representa cerca de 80% dos casos. Também existem formas congênitas, neuromusculares (associadas a doenças como paralisia cerebral e distrofias musculares) e degenerativas. Em todas as situações, o diagnóstico precoce pode evitar a evolução da curvatura.

O neurocirurgião funcional e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia na Unicamp Marcelo Valadares, alerta para a alta incidência da escoliose atualmente.

Hoje conseguimos identificar mais casos graças à ampliação do acesso a exames de imagem e ao maior conhecimento entre profissionais da atenção primária e da educação. O aumento do sedentarismo, do tempo prolongado em frente a telas e da má postura desde a infância em detrimento de uma vida ativa têm contribuído para agravar ou acelerar a percepção de assimetrias posturais”, reflete.

Diagnóstico ainda é tardio e tratamento demanda multidisciplinaridade

Especialistas como ortopedistas e neurocirurgiões são capazes de identificar o desvio com base em avaliação clínica, exames de imagem e exames específicos, como o teste de Adams. A escoliose, entretanto, é subdiagnosticada, principalmente em crianças e adolescentes, pois nem sempre causa dor nas fases iniciais e pode passar despercebida no ambiente escolar ou familiar.

O tratamento deve ser individualizado e depende da gravidade do caso, da idade do paciente e da causa da escoliose. Em crianças e adolescentes, o uso de coletes ortopédicos pode ser recomendado com o objetivo de conter a progressão da curvatura durante a fase de crescimento. Já nos casos severos ou quando há impacto importante na qualidade de vida, a cirurgia é indicada para corrigir a deformidade e estabilizar a coluna.

Entre os adultos jovens, especialmente aqueles que não foram diagnosticados na infância, o tratamento tende a priorizar a estabilização da curvatura e o alívio da dor.  Para este público, fisioterapia, fortalecimento muscular, reeducação postural são indicados, além do manejo da dor, o que permite uma vida funcional e ativa mesmo com a presença da escoliose.

Em pessoas idosas, a escoliose costuma ser do tipo degenerativa, causada pelo desgaste natural das articulações e discos da coluna ao longo dos anos. Esse tipo de escoliose pode vir acompanhado de dores crônicas, rigidez, limitação de movimentos e, em alguns casos, compressão de raízes nervosas, levando a sintomas como formigamento, fraqueza ou dor irradiada para pernas. Nessa fase da vida, o tratamento cirúrgico é reservado apenas para casos muito específicos, com risco neurológico ou dor intensa que não responde ao tratamento conservador.

O tratamento da escoliose exige, ainda, abordagem multidisciplinar a fim de aliviar os sintomas apresentados, evitar complicações e preservar a funcionalidade. Fisioterapia, reeducação postural, fortalecimento muscular, e técnicas como acupuntura fazem parte do cuidado integral ao paciente. Para o controle da dor, que pode ser um sintoma frequente mesmo em curvaturas leves, pode-se recorrer a medicações analgésicas e anti-inflamatórios. O acompanhamento psicológico também pode ser indicado.

Quando a escoliose assume um caráter doloroso ou limitante, é essencial intervir com uma equipe preparada. Ao ouvir o paciente e entender suas queixas, podemos montar um plano terapêutico com estratégias conservadoras que, se bem conduzidas, são suficientes para preservar a autonomia funcional, controlar a dor e garantir qualidade de vida”, explica o neurocirurgião.

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Semana da Coluna: mutirão de cirurgias transforma a vida de oito adolescentes com escoliose

Procedimentos de alta complexidade são realizados por especialistas com apoio de ex-residentes que hoje são referência no país

Em alusão ao mês mundial de conscientização da escoliose, o Hospital Pequeno Príncipe realiza, de 10 a 13 de junho, a Semana da Coluna, um mutirão de cirurgias de alta complexidade que pode transformar a vida de oito adolescentes com escoliose grave. Todos os pacientes, com idades entre 10 e 15 anos, são atendidos exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e foram selecionados conforme o grau de comprometimento da coluna e o tempo de espera pela cirurgia.

Os adolescentes deverão passar por um procedimento chamado artrodese da coluna, que consiste na fusão de duas ou mais vértebras para estabilizar a estrutura óssea e melhorar a qualidade de vida. Serão duas cirurgias por dia, cada uma envolvendo uma equipe de aproximadamente dez pessoas e com média de duração de quatro horas e 30 minutos.

O impacto desse tipo de cirurgia na vida de uma criança ou adolescente é imenso. Trata-se de devolver dignidade, permitir que eles voltem a brincar, estudar e projetar o futuro com mais autonomia. E, em muitos casos, a cirurgia muda não somente a vida dos pacientes, mas de toda a família”, afirma o chefe do Serviço de Ortopedia do Pequeno Príncipe, Luis Eduardo Munhoz da Rocha.

Diagnóstico e causas da condição

A escoliose é caracterizada por uma curvatura anormal da coluna em forma de “S” ou “C”. Além de dores musculares e desconforto, os casos mais graves podem afetar a capacidade respiratória e o funcionamento do coração.

As causas da escoliose podem ser congênitas, neuromusculares, idiopáticas ou degenerativas. A idiopática é a mais comum — representa cerca de 80% dos casos, segundo a Organização Mundial da Saúde — e tem origem desconhecida. Quando identificada precocemente, é possível evitar a progressão da curvatura e preservar a função pulmonar e motora.

As doenças graves da coluna estão cada vez mais evidentes no público infantojuvenil. Por isso, reforçamos a importância da atenção ao desenvolvimento físico das crianças e adolescentes e da busca por diagnóstico o quanto antes”, destaca Rocha.

Encontro de gerações para transformar vidas

A mobilização também tem um significado simbólico: reúne gerações de profissionais formados no próprio Hospital Pequeno Príncipe. O Hospital conta ainda com o apoio de quatro cirurgiões convidados, três deles ex-residentes da instituição que hoje atuam como referência no tratamento de deformidades da coluna em diferentes regiões do país.

Algumas dessas cirurgias exigem esforço físico e emocional muito intensos. Seria pesado para a equipe fazer tudo sozinha. Por isso, convidamos colegas que passaram pela residência aqui e hoje são referência nacional em escoliose. Além de ajudar nos procedimentos, esse reencontro representa uma rica troca de conhecimento”, realça Luiz Müller Ávila, especialista do Serviço de Ortopedia.

Entre os convidados estão:

  • Samuel Conrad, de Porto Alegre (RS), principal cirurgião de escoliose do estado, ex-fellow do Pequeno Príncipe;
  • Daniel Cunha e André Moreira Castilho, de Belo Horizonte (MG), reconhecidos por sua atuação em deformidades pediátricas em Minas Gerais;
  • Fernando Soccol, de Pato Branco (PR), ex-residente que hoje atua com coluna pediátrica e adulta no interior do estado.

O mutirão é mais do que uma ação pontual. É a síntese do nosso compromisso com a assistência de excelência, a formação profissional e o cuidado integral com nossas crianças e adolescentes”, finaliza Luiz Müller.

Com Assessorias

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