A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 1 bilhão de pessoas entre 12 e 35 anos correm o risco de ter a audição prejudicada devido à exposição prolongada e excessiva a ruídos recreativos, incluindo músicas em fones de ouvido e shows. No Brasil, o cenário é alarmante. Dados do IBGE indicam que mais de 10 milhões de pessoas já convivem com algum grau de deficiência auditiva.
A prevenção na juventude tornou-se a pauta central do Dia Nacional de Prevenção e Combate à Surdez, celebrado em 10 de novembro, chega em 2025 com um alerta focado em uma nova geração. Se antes as principais preocupações se voltavam ao envelhecimento e a doenças, hoje o maior risco é silencioso, autoimposto e está nos ouvidos de crianças e adolescentes: o uso excessivo e incorreto de fones de ouvido em volume elevado.
O hábito moderno se tornou o principal vilão da saúde auditiva. Esse cenário preocupante é reforçado pelo último Relatório Mundial da Audição da OMS, que estima que aproximadamente 2,5 bilhões de pessoas em todo o mundo terão algum tipo de perda auditiva até 2050. O problema é grave nas Américas, onde a OMS indica que cerca de 217 milhões de pessoas (21,52% da população regional) já vivem com perda auditiva, número que pode saltar para 322 milhões até 2050.
No Brasil, dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) indicam que 2,2 milhões de pessoas possuem deficiência auditiva. O risco está diretamente relacionado à intensidade do volume e ao tempo de exposição. Segundo a OMS, sons de até 85 decibéis (dB) permitem uma exposição segura por até oito horas. Contudo, a cada 5 decibéis de aumento, o tempo seguro de exposição cai pela metade: 90 dB (comuns no trânsito intenso) são seguros por apenas quatro horas, e 95 dB por duas horas.
Estamos criando uma geração de futuros deficientes auditivos. O dano causado pelo ruído é cumulativo e irreversível. A perda auditiva não ‘dói’, ela acontece aos poucos, e quando o paciente percebe, geralmente já é tarde demais”, afirma o Prof. Dr. Robinson Koji Tsuji, presidente da Sociedade Brasileira de Otologia.
A “epidemia” dos fones de ouvido
Segundo o Dr. Tsuji, a popularização de dispositivos de áudio pessoais mudou o perfil da perda auditiva. “O grande vilão é a intensidade versus o tempo de exposição. O uso de fones de ouvido, especialmente os intra-auriculares, por horas a fio e em volumes que ultrapassam os 85 decibéis – o equivalente ao ruído de um liquidificador – causa lesões permanentes nas células sensoriais da cóclea. Estamos vendo pacientes cada vez mais jovens em consultório com perda auditiva que, antes, só esperaríamos em idosos”, explica o médico.
O otorrinolaringologista da Afya Ipatinga, Lauro Nunes de Oliveira Filho, explica que o uso de fones de ouvido em volume muito alto e por muito tempo pode provocar lesão nas estruturas internas da orelha responsáveis por captar e transmitir o som, levando ao que se chama de “perda auditiva induzida por ruído”.
Esses danos nem sempre causam imediatamente um déficit que a pessoa percebe, é possível escutar normalmente e já haver início de alteração. Em alguns casos o primeiro sinal que aparece pode ser o zumbido, som no ouvido que ninguém mais ouve, mas não é regra que o zumbido seja sempre o primeiro indicativo. Pode vir primeiro uma leve dificuldade para ouvir em ambientes com barulho, sensação de cansaço nos ouvidos ou de que precisa aumentar o volume para entender”.
O perigo real dos fones de ouvido é que muitos dispositivos podem atingir picos de 110 ou 120 decibéis, níveis que podem causar lesões auditivas em questão de minutos. Dr Lauro comenta que nem sempre a perda auditiva induzida por ruído (PAIR) de fones de ouvido é reversível, e que se as exposições se repetem ou se intensificam, ocorrem lesões permanentes nas células da orelha interna ou em suas conexões, que não se regeneram.
O uso diário de fones de ouvido tornou-se parte da rotina de milhões de pessoas. Seja no transporte, na academia ou no trabalho, os fones são companheiros constantes. Mas o uso incorreto, especialmente em volumes altos e por tempo prolongado, pode causar danos permanentes à audição, muitas vezes de forma silenciosa”, complementa Dr Lauro Nunes.
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Cuidados e recomendações para o uso seguro de fones de ouvido
Segundo o Dr. Tsuji, a maioria dos casos de surdez induzida por ruído é 100% evitável. “A prevenção é a única solução”, diz “A principal recomendação é a regra do 60/60: nunca utilizar os fones de ouvido acima de 60% do volume máximo e por, no máximo, 60 minutos seguidos. É preciso fazer pausas, deixar o ouvido descansar. E, para quem frequenta shows ou ambientes muito barulhentos, o uso de protetores auriculares é fundamental.”
O uso frequente de fones de ouvido faz parte do dia a dia de muitas pessoas, seja para lazer, trabalho ou estudos. O otorrinolaringologista da Afya Ipatinga ressalta as 5 principais recomendações para manter a saúde auditiva protegida.
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Mantenha o volume em níveis seguros: Procure manter o volume abaixo de 60% da capacidade máxima do dispositivo. Evite compensar o barulho do ambiente aumentando o som, prefira fones com isolamento acústico ou cancelamento de ruído.
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Limite o tempo de uso: Procure usar os fones por no máximo 60 minutos seguidos e dê intervalos antes de retomar o uso. Quanto maior o volume, menor deve ser o tempo de exposição.
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Faça pausas para descanso auditivo: Dê pausas regulares para que os ouvidos descansem, alguns minutos sem fones já fazem diferença. Essa pausa ajuda a evitar fadiga auditiva e reduz o risco de danos cumulativos à audição.
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Prefira ambientes silenciosos: Em locais barulhentos (como ônibus, metrôs ou ruas movimentadas), a tendência é aumentar o volume para “superar” o ruído. Sempre que possível, ouça música ou podcasts em ambientes mais tranquilos. Se for inevitável o uso em locais ruidosos, opte por fones com boa vedação ou tecnologia de cancelamento de ruído.
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Utilize recursos de proteção auditiva: Muitos dispositivos contam com funções de alerta de volume alto ou limite de som seguro, ative essas opções. Alguns aplicativos e celulares registram o tempo de uso em volumes elevados, use essas informações para ajustar seus hábitos.
Diagnóstico precoce e os tratamentos modernos
O Dia Nacional de Prevenção e Combate à Surdez também serve para reforçar a importância do diagnóstico. A recomendação é que qualquer pessoa que se exponha a ruídos com frequência realize uma audiometria anualmente. Para os casos em que a perda já se instalou e é de grau severo a profundo, o Dr. Tsuji lembra que a tecnologia é uma aliada poderosa.
A surdez não significa mais silêncio. Para pacientes que não se beneficiam de aparelhos auditivos convencionais, o implante coclear é o tratamento padrão-ouro, capaz de restaurar a percepção sonora de forma eficaz. Mas, antes de chegar a esse ponto, precisamos focar na prevenção, especialmente nesta data.”
Um dos médicos mais respeitados do país na área de otologia e surdez, com mais de 1000 cirurgias de implante coclear realizadas, ele atua como coordenador do Grupo de Implante Coclear do HC-FMUSP e presidente do comitê de implantes cocleares da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia.
Com Assessorias




