

Uma transição justa precisa contribuir para reduzir as assimetrias entre o Norte e o Sul Global, forjadas sobre séculos de emissões. A emergência climática é uma crise de desigualdade. Ela expõe e exacerba o que já é inaceitável. Ela aprofunda a lógica perversa que define quem é digno de viver e quem deve morrer. Mudar pela escolha nos dá a chance de um futuro que não é ditado pela tragédia. O desalento não pode extinguir as esperanças da juventude. Devemos a nossos filhos e netos a oportunidade de viver em uma Terra onde seja possível sonhar“, destacou o presidente.
Em seu discurso, o presidente citou o pensador indígena Davi Kopenawa para pedir clareza aos negociadores.
O xamã yanomami Davi Kopenawa diz que o pensamento na cidade é obscuro e esfumaçado, obstruído pelo ronco dos carros e pelo ruído das máquinas. Espero que a serenidade da floresta inspire em todos nós a clareza de pensamento necessária para ver o que precisa ser feito“.
Realizada pela primeira vez na Amazônia – bioma com a maior biodiversidade do planeta e um regulador do clima global -, a COP30 tem o enorme desafio de recolocar o tema das mudanças climáticas no centro das prioridades internacionais
Lula enfatizou que o aquecimento global pode empurrar milhões de pessoas para a fome e a pobreza, fazendo retroceder décadas de avanço, e lembrou do impacto desproporcional que mudança do clima causa sobre mulheres, afrodescendentes, migrantes e grupos vulneráveis, o que deve ser levado em conta nas políticas de adaptação.
O presidente reafirmou o papel dos territórios indígenas e de comunidades tradicionais nos esforços de mitigação do aumento das temperaturas, pela preservação das florestas e, consequentemente, a regulação do carbono na atmosfera. “No Brasil, mais de 13% do território são áreas demarcadas para os povos indígenas. Talvez ainda seja pouco”.
Crítica aos negacionistas
Em seu discurso, Lula fez duras críticas aos que negam a ciência e usam a desinformação para contrariar as evidências trágicas das mudanças no clima global. Ele repetiu fala anterior de que a COP30 será a “COP da verdade”.
Na era da desinformação, os obscurantistas rejeitam não só as evidências da ciência, mas também os progressos do multilateralismo. Eles controlam algoritmos, semeiam o ódio e espalham o medo. Atacam as instituições, a ciência e as universidades. É momento de impor uma nova derrota aos negacionistas. Sem o Acordo de Paris, o mundo estaria fadado a um aquecimento catastrófico de quase cinco graus até o fim do século. Estamos andando na direção certa, mas na velocidade errada”, apontou.
Acelerar a ação climática
Lula pediu que os líderes acelerem as ações necessárias para conter o aumento da temperatura do planeta, voltou a defender um mapa do caminho para superar a dependência dos combustíveis fósseis – que causam 75% do aquecimento global -, e sugeriu a criação de um conselho mundial sobre o tema.
Avançar requer uma governança global mais robusta, capaz de assegurar que palavras se traduzam em ações. A proposta de criação de um Conselho do Clima, vinculado à Assembleia Geral da ONU, é uma forma de dar a esse desafio a estatura política que ele merece”, pontuou.
Ao citar o chamado à ação por parte do Brasil na COP30, Lula destacou a necessidade de formulação e implementação de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês) mais ambiciosas, garantia de financiamento, transferência de tecnologia e capacitação aos países em desenvolvimento, além de priorizar políticas de adaptação aos efeitos da mudança do clima.
A mudança do clima já não é uma ameaça do futuro. É uma tragédia do presente. O furacão Melissa que fustigou o Caribe e o tornado que atingiu o estado do Paraná, no Sul do Brasil, deixaram vítimas fatais e um rastro de destruição. Das secas e incêndios na África e na Europa às enchentes na América do Sul e no Sudeste Asiático, o aumento da temperatura global espalha dor e sofrimento, especialmente entre as populações mais vulneráveis”, observou.
Confira reportagem do Repórter Brasil Tarde, da TV Brasil, sobre a abertura da COP30
Coração amazônico
De improviso, antes de começar a ler o discurso oficial, Lula agradeceu ao povo do Pará e disse que os participantes da COP30 serão recebidos por “homens e mulheres muito alegres, muitos educados, que vão cuidar de vocês aqui nessa cidade como jamais foram cuidados”.
O presidente ainda enfatizou a culinária paraense, ao sugerir que os visitantes comam maniçoba e que é mais barato cuidar do clima do que fazer guerra, em alusão aos gastos militares que superam US$ 2 trilhões e a necessidade de atingir US$ 1,3 trilhão anuais para ação climática.
Trazer a COP para o coração da Amazônia foi uma tarefa árdua, mas necessária. A Amazônia não é uma entidade abstrata. Quem só vê floresta de cima desconhece o que se passa à sua sombra. O bioma mais diverso da Terra é a casa de quase 50 milhões, incluindo 400 povos indígenas, dispersa por nove países em desenvolvimento, que enfrentam imensos desafios sociais e econômicos”.
Presidente da COP30 menciona tornado no Paraná em primeiro discurso

O presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, ressaltou a necessidade de urgência na adoção de uma agenda de ações para enfrentar a crise climática global. 
Corrêa do Lago fez menção a desastres naturais como o tornado que atingiu a cidade de Rio Bonito do Iguaçu (PR), a mais afetada, e em pelo menos outras 11 cidades de região centro-sul paranaense, deixando seis pessoas mortas e 750 feridos.
“A questão da urgência é o elemento adicional, que está tão presente e somos lembrados, com grande tristeza, como, por exemplo, essa semana no Brasil no Paraná, ou nas Filipinas ou poucas semanas atrás na Jamaica. Temos uma responsabilidade imensa”, apontou.
Para o embaixador, desastres como esses ressaltam a importância de a COP resultar em ações concretas, unindo a ciência, a educação, a cultura e o multilateralismo.
“Esta portanto é uma COP de implementação. Eu espero que seja lembrada também como uma COP de adaptação, uma COP que vai avançar na integração do clima, na economia, nas atividades, na criação de emprego e mais do que tudo, uma COP que vai ouvir a ciência”, afirmou.
COP29
O discurso de Corrêa do Lago foi precedido pelo do presidente da COP 29, Mukhtar Babayev, que fez um balanço do trabalho desenvolvido. Realizada em Baku, no Azerbaijão, a conferência aprovou uma nova meta de financiamento para ajudar os países a protegerem suas populações e economias contra desastres climáticos e a compartilharem os vastos benefícios do crescimento da energia limpa.
Entre os pontos acordados estão triplicar o financiamento climático para países em desenvolvimento, passando da meta anterior de US$ 100 bilhões anualmente para US$ 300 bilhões anualmente até 2035 e ampliar o financiamento aos países em desenvolvimento, proveniente de fontes públicas e privadas, para o montante de US$ 1,3 trilhão por ano até 2035.
O valor foi considerado insuficiente pelos países em desenvolvimento e pela delegação brasileira, que demandaram US$ 1,3 trilhão por ano como base da meta.
O objetivo financeiro de Baku vai ser um sucesso. Precisamos ter o espírito desse acordo. As comunidades precisam ser protegidas e ter financiamento”, defendeu Babayev. Para a presidência de Baku essa não é só uma promessa. “Vamos manter isso no sistema [da ONU] provando que a construção de novos acordos não é em vão. A busca para manter os doadores e patrocinadores dos US$ 100 bi é real”, acrescentou.
Da Agência Brasil





