Certamente você já ouviu falar sobre hemorroidas: estruturas anatômicas normais formadas por vasos sanguíneos, situados na parte interna do canal anal. Quando esses vasos aumentam de tamanho e inflamam surge a doença hemorroidária, que pode ser interna, situada dentro do canal anal, ou externa.

A doença hemorroidária interna está relacionada ao aumento no fluxo sanguíneo arterial, que ocorre devido ao alargamento do diâmetro das artérias e veias retais que irrigam tecidos, musculatura e vasos sanguíneos.

As hemorroidas geralmente são causadas por esforço durante evacuações, por obesidade ou gravidez. O desconforto é um sintoma comum, além de possível coceira e sangramento. A condição, que afeta a qualidade de vida e tem incidência alta na população mundial, pode atingir cerca de 50% a 65% das pessoas em algum momento da vida.

Hoje, o que se conhece para tratar a doença são dietas ricas em fibras acompanhada da ingestão de líquidos, medicamentos e cirurgias – que podem causar grande desconforto no pós-operatório e durar semanas.

Alternativa seguram eficaz e com menor dor

Para pacientes com risco cirúrgico ou anestésico elevado por conta de comorbidades, a embolização das artérias retais superiores deve ser considerada como uma alternativa segura, eficaz e associada a menor dor. É o que revelou um estudo publicado pelo Einstein em 2023 sobre essa técnica – realizada no centro de medicina intervencionista da organização.

O estudo mostrou que a embolização reduziu significativamente a dor de pacientes no tratamento da doença hemorroidária. Esse é o primeiro ensaio randomizado publicado no mundo comparando a embolização com a cirurgia convencional para tratar o problema.

A pesquisa publicada pelo Einstein comparou duas técnicas para os casos que necessitam de cirurgia. No estudo comparativo e randomizado, foram analisados os resultados pós-operatórios de curto e médio prazos das duas opções escolhidas para tratar as hemorróidas.

A intervenção em estudo foi a embolização das artérias retais superiores, e a cirurgia convencional foi empregada como grupo controle. Os objetivos foram estudar a segurança e eficácia da embolização e comparar a dor, desconforto e uso de analgésicos após os dois procedimentos estudados.

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Estudo avaliou 29 pacientes com indicação de cirurgia

Ao todo, participaram da análise 29 pacientes com sintomas de doença hemorroidária graus 2 e 3 e com indicação de tratamento cirúrgico, atendidos no Hospital Municipal da Vila Santa Catarina – Dr. Gilson de Cássia Marques de Carvalho, unidade de saúde da Prefeitura de São Paulo (SP) gerenciada pelo Einstein.

Os participantes foram aleatoriamente designados para os grupos de estudo. Catorze foram submetidos à cirurgia convencional e 15 à embolização das artérias retais superiores, que representa um procedimento minimamente invasivo.

A dor pela escala visual analógica e o uso de analgésicos foram avaliados três vezes ao dia durante os primeiros 7 dias do pós-operatório. Além disso, sintomas recorrentes e satisfação com o tratamento também foram analisados no 1º, 3º, 6º e 12º meses subsequentes”, explica Felipe Nasser, médico assistente do Centro de Medicina Intervencionista do Einstein.

A média de dor na primeira evacuação após o procedimento foi de aproximadamente 6 no grupo de cirurgia e zero no grupo de embolização. O uso médio de medicação para dor também foi maior no grupo de cirurgia (28,9 doses nos pacientes cirúrgicos, e apenas 2,4 doses nos que passaram por embolização). Uma queda de mais de 90%.

Resultado equivalente ao da cirurgia, mas vantagem é menos dor

Nasser ressalta que variáveis importantes associadas ao tratamento das hemorróidas não foram avaliadas ainda, como custo e recidiva dos sintomas, mas os melhores índices observados em relação a conforto e qualidade de vida podem ser decisivos para que se privilegie uma das técnicas.

Essa decisão deve ser do paciente. Segundo ele, vale a pena salientar que o tratamento com embolização não impede a realização do tratamento cirúrgico convencional, em casos nos quais não ocorra melhora de algum dos sintomas.

No que diz respeito à abolição dos sintomas, o estudo demonstrou que para os pacientes estudados e seguidos por até um ano, embolização e cirurgia foram equivalentes.

Embora o sucesso clínico seja equivalente, com o procedimento intervencionista minimamente invasivo nós podemos oferecer para o paciente um pós-operatório com menos dor e um retorno mais breve à rotina. Esse resultado nos deixa otimistas de que temos na embolização hemorroidária, sim, uma opção superior à técnica cirúrgica convencional, principalmente em pacientes cuja principal queixa seja o sangramento da hemorroida”, conclui.

Embolização de hemorroidas é minimamente invasivo

Um dos primeiros no uso da técnica no Brasil, Francisco César Carnevale, chefe do Serviço de Radiologia Vascular Intervencionista do Instituto de Radiologia (InRad), do Hospital das Clínicas e do Hospital Sírio Libanês, diz que o objetivo é oferecer um tratamento minimamente invasivo, proporcionar rápida recuperação e menos desconforto.

Trata-se de um procedimento minimamente invasivo, orientado com equipamentos de imagem para dirigir um catéter até as hemorroidas. Chegando nelas, as mesmas são ‘entupidas’, isto é, embolizadas”, define o médico.

Outra vantagem da embolização de hemorroidas é ser feita sob anestesia local e o paciente fica acordado 100% do tempo.

O paciente retorna rapidamente às suas atividades, tanto laborais quanto sociais e familiares. A grande vantagem da embolização é que traz resultados similares aos cirúrgicos, sem necessidade de internação hospitalar. A alta ocorre após três a seis horas, com anestesia local, menos dor pós-tratamento, resultando em melhor qualidade de vida para o paciente”, diz.

Professor livre-docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Dr. Carnevale é também o precursor da embolização de próstata, um tratamento reconhecido internacionalmente para a hiperplasia prostática benigna. A doença tem como sintoma principal a dificuldade para urinar, decorrentes da próstata aumentada.

O método desta cirurgia minimamente invasiva é o mesmo para as hemorroidas. Nada mais é do que uma técnica de cateterismo, só que, ao invés de fazer o cateterismo do coração, nós fazemos o cateterismo da próstata e, agora, da hemorroida”, compara.

Entenda como funciona a técnica

Nesta nova técnica, um cateter de 2 mm de diâmetro é introduzido pela virilha (mesma técnica do cateterismo), e chega à artéria do intestino, que é responsável pela formação das hemorroidas. É feita uma fotografia e também uma tomografia das artérias para confirmar a localização destas veias e artérias hemorroidárias e realizar a sua obstrução.

Fazemos uma obstrução intencional (embolização) no local do sangramento usando microesferas de resina acrílica inofensivas ao paciente juntamente com micromolas metálicas. Estes materiais não causam problemas para o paciente e não se deslocam. A embolização é muito segura porque é guiada por imagens altamente sofisticadas”, detalha Dr. Carnevale.

A embolização de hemorroidas começou em vários países do mundo, como Rússia (onde foi feita pela primeira vez), Europa e Estados Unidos. “No Hospital das Clínicas da USP (HCFMUSP),  passou a ser desenvolvido em 2021 um protocolo de pesquisa, após especialização com o Dr. Vincent Vidal, na França. O intercâmbio França-Brasil visa o aperfeiçoamento da técnica da embolização no tratamento das hemorroidas.

Com assessorias

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