Desde o começo da pandemia do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro insiste em levantar a bandeira contra a ciência, debochando de pessoas doentes, desprezando as mortes e fazendo chacota da primeira vacina que tivemos disponível em nosso país, a qual chamou de VACHINA. Chegou a incentivar que as pessoas só vacinassem se quisessem, já que a aplicação não seria obrigatória no Brasil.

A última foi negar mais uma vez da ciência. Em um culto realizado em Anápolis (GO) na noite desta quarta-feira (9), voltou a defender o já comprovadamente ineficaz “tratamento precoce” contra a Covid-19. Chegou a comparar remédios que não possuem comprovação científica com as vacinas aplicadas no país, afirmando que ambas são medidas “experimentais” contra a doença.

Talvez ele tenha esquecido que os imunizantes aplicados no Brasil, foram aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que analisa a segurança e eficácia das vacinas. O próprio ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, relatou na véspera, durante depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, que hidroxicloroquina, cloroquina e ivermectina não têm eficácia comprovada contra covid-19. Os medicamentos citados por Bolsonaro também são fortemente desaconselhados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

E eu pergunto: a vacina tem comprovação científica ou está em estado experimental ainda? Está [em estado] experimental. Nunca vi ninguém morrer por tomar hidroxicloroquina, em especial na região amazônica“, disse. “Não veio da minha cabeça o que eu falo sobre essa doença, veio de conversas com pessoas que realmente se preocupam com pesquisas sobre o assunto”, afirmou.

Chás de casca de árvore

Novas declarações de Bolsonaro levantando suspeitas contra vacinas foram feitas em culto evangélico (Foto: Reprodução)

Bolsonaro fez uma segunda comparação dos imunizantes, desta vez, com chás que indígenas preparam na tribo quando acometidos pelo vírus. “Estive há três semanas visitando os tucanos e ianomâmis na região de São Gabriel da Cachoeira, e perguntei se os índios haviam sido acometido de Covid nas duas etnias. Quase todo mundo, sim. E nas duas etnias, perguntei: “Quantos morreram?”. “Nenhum”. “Tomaram o quê?” Citaram três nomes de chá de casca de árvore. “Ah, não tem comprovação científica”. E eu pergunto: a vacina tem comprovação científica ou está em estado experimental ainda? Está em estado experimental”, apontou.

O presidente afirmou, então: “nunca ter visto ninguém morrer por tomar hidroxicloroquina. Nunca vi ninguém morrer por tomar hidroxicloroquina, em especial na região amazônica para incidência de malária, lúpus. Por que não investir nisso, por ser barato? Interessa viver em cima de mortes para se ganhar mais recursos? Quem é que mata gente? Quem manda o dinheiro que sou eu ou quem desvia o dinheiro na ponta da linha?”, questionou em mais uma indireta a governadores.

Presidente também lança dúvidas sobre número de mortes

Depois das fraudes nas urnas, agora são as notificações de mortes por Covid-10. Bolsonaro afirmou que, quando retiradas “fraudes” na notificação, o Brasil será o país com menor número de mortes por milhão de habitantes causadas pela Covid-19 em 2020. Segundo ele, isso ocorreu por conta do “tratamento precoce” da doença, prática não reconhecida e rejeitada por especialistas. Bolsonaro também voltou a afirmar que houve super-notificação de mortes pelo vírus em 2020.

Se nós retirarmos as possíveis fraudes, nós vamos ter em 2020, ou melhor, teremos em 2020 sim, o Brasil com o menor número de mortes por milhão de habitantes por causa da covid. Que milagre é esse? O tratamento precoce. Quem aqui tomou hidroxicloroquina? Querem prova maior? Eu tomei. Outros tomaram ivermectina. Outros em estado mais grave, alguns poucos porque é difícil encontrar no Brasil, [tomaram] a proxalutamida“, declarou.

O presidente voltou a citar o TCU (Tribunal de Contas da União) e a existência de uma “tabela“, produzida por seus auxiliares, que comprova a supernotificação de mortes pelo vírus no ano passado. A própria corte de contas emitiu uma nota negando a existência de um relatório oficial com essa informação, como mencionado por Bolsonaro. Nesta quarta-feira, o TCU afastou o auditor que fez o documento paralelo e com dados não comprovados, que tem sido citado pelo presidente.

Garoto-propaganda de indústria farmacêutica

A defesa de medicações sem comprovação científica por parte do ‘doutor’ Bolsonaro vai além dos discursos. Ele teria ligado para o primeiro-ministro indiano, Narenda Modi, para pedir que o país acelerasse a exportação de insumos para a fabricação de hidroxicloroquina, de acordo com reportagem publicada pelo jornal “O Globo”.

Na ligação, Bolsonaro citou nominalmente dois laboratórios, atuando diretamente em favor de duas empresas privada: os laboratórios EMS e Apsen. Ambos são comandados por empresários considerados apoiadores do presidente — Carlos Sanchez e Renato Spallicci, respectivamente—, de acordo com o jornal.

A informação está contida em um telegrama secreto do Ministério das Relações Exteriores que está em posse da CPI da Covid no Senado, ao qual o jornal teve acesso. O documento contém a transcrição do telefonema feito por Bolsonaro a Modi em 4 de abril do ano passado, segundo a reportagem. Em março do ano passado, a Índia havia suspendido a exportação de vários insumos devido à pandemia.

Maior influenciador da cloroquina no mundo

O presidente é o maior influenciador digital da cloroquina no mundo, por meio do Facebook. Ele gerou 11 milhões de interações e 1,7 milhão de compartilhamentos na rede social. A informação é do jornal O Estado de S. Paulo.​

Desde o começo da pandemia até o fim de maio deste ano, Bolsonaro foi autor de 42 textos — entre 100 publicados. Ou seja, quatro em cada 10 foram escritos por ele. O medicamento não tem eficácia comprovada, mas, mesmo assim, segue sendo indicado por bolsonaristas como tratamento precoce da Covid-19.

Com Poder 360, Correio Braziliense, Uol e Metrópoles (atualizado em 10/6/21)

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