Ex-apresentador da TV Globo, o jornalista Fernando Rocha – que comandava o extinto programa Bem-Estar (2011-2019) – compartilhou um vídeo no Instagram nesta quinta-feira (27), revelando que foi diagnosticado com herpes zoster: A doença dolorosa que pode ter um impacto significativo na qualidade de vida das pessoas afetadas. “É uma dor lancinante, como se fosse uma espada fincando na parte da costela”, disse o jornalista de 57 anos.
Conhecida também popularmente como “cobreiro”, a doença é causada pela reativação do vírus varicela zoster, que costuma ser adquirido ainda na infância, por meio da catapora (varicela), e já pode estar presente no organismo de cerca de 94% dos brasileiros adultos.
Fernando alertou seus seguidores sobre a doença: “Se você já teve catapora, tem mais de 40, 45 anos, você pode ter herpes zoster”. E destacou a relação com baixa imunidade e fatores emocionais. Ele também incentivou a vacinação preventiva contra o herpes zoster, disponível somente na rede particular, mas com um custo considerável – chega a custar mais de R$ 2 mil as duas doses necessárias para a completa imunização.
Aumento de casos após a covid-19
Um estudo realizado pela Universidade Estadual de Montes Claros (MG) constatou que os casos de herpes-zóster no país cresceram 35% durante a pandemia de covid-19.
Dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH), do Ministério da Saúde, via DataSUS, divulgados em maio, apontam que em 2023 mais de 127 mil brasileiros foram afetados pelo retorno do herpes zoster, um aumento de 568% em relação aos 19 mil casos de 2022.
De acordo com os dados, houve um aumento de 10,6% no número de internações hospitalares causadas pelo herpes zoster em 2023 em relação ao ano anterior. Foram 2.600 casos registrados.
Alta pode estar relacionada ao envelhecimento da população
A alta nos diagnósticos do herpes zoster pode estar relacionada ao envelhecimento da população. Segundo dados do IBGE, através do Censo 2022, o total de idosos no Brasil cresceu 57,4% em 12 anos,4 e o varicela zoster tende a se manifestar com o avanço da idade, principalmente, a partir dos 50 anos, quando começa a ocorrer um declínio natural do sistema imunológico.
Muitas pessoas ainda desconhecem os riscos do herpes zoster e menosprezam seus sintomas e sequelas. A doença está relacionada ao envelhecimento da população, presença de doenças crônicas e condições imunossupressoras e outros fatores que levam à queda da imunidade”, explica o infectologista Jessé Reis Alves, gerente médico de vacinas da GSK.
Recentemente, o jornalista Tiago Scheuer também revelou seu diagnóstico de herpes zóster e, assim como Fernando, enfatizou a importância de conscientizar o público sobre essa doença muitas vezes subestimada.
O relato pessoal é um lembrete de que a herpes zóster pode afetar qualquer pessoa, independentemente da idade ou condição de saúde. Ele destacou não apenas a angústia física que acompanha o vírus, mas também a necessidade da vacinação na prevenção dessa doença debilitante.
Catapora x herpes zoster
A catapora é uma doença altamente contagiosa, geralmente benigna, causada pelo vírus varicela-zoster, que se manifesta com maior frequência em crianças e com incidência no fim do inverno e início da primavera. De acordo com o Ministério da Saúde, estima-se que ocorram cerca de 3 milhões de casos de catapora anualmente no Brasil.
O herpes zoster, também conhecido como cobreiro, é uma doença causada pela reativação do vírus varicela-zoster, o mesmo vírus responsável pela catapora. Uma vez contraída na infância, a pessoa fica imune à catapora, mas o vírus permanece alojado no organismo e pode ser reativado, causando a doença.
Os sintomas da herpes-zoster se manifestam de forma diferente da catapora. Na maior parte dos casos, antes do aparecimento das lesões na pele, o paciente pode apresentar dor no trajeto do nervo, sensação de formigamento, agulhadas, adormecimento, pressão, coceira, febre, dor de cabeça e mal-estar.
As lesões de pele, caracterizadas por vermelhidão com vesículas, surgem de modo gradual, levam de dois a quatro dias para se estabelecer e geralmente acometem só um lado do corpo. Em duas a quatro semanas formam-se crostas e o quadro evolui para cura.
Dor crônica do herpes-zóster tem tratamento desafiador
As dores costumam ser descritas como sensação de queimadura, dor latejante, cortante ou penetrante, formigamento e agulhadas, ardor e coceira locais, além da erupção de pequenas bolhas agrupadas na pele e febre, dor de cabeça e mal-estar. A doença pode provocar dores incapacitantes, que podem se estender por 90 dias ou mais, como é o caso da neuralgia pós-herpética (NPH).
Diante dos desafios inerentes ao herpes zoster, principalmente relacionados à neuralgia pós-herpética (NPH) – dor extremamente desagradável que surge nas regiões do corpo acometidas pela doença – houve, nos últimos anos, uma intensificação das campanhas de vacinação, conscientização e prevenção da doença.
Médica intervencionista em dor e autora do livro “Existe vida além da dor”, Amelie Falconi explica que a NPH é a complicação de longo prazo mais comum da reativação do vírus varicela-zoster, que culmina no surgimento do herpes-zóster, doença caracterizada por bolhas na pele, eritemas e inflamação local. Conforme dra. Amelie, a NPH se manifesta como dor crônica que persiste por mais de três meses após os primeiros sintomas do herpes-zóster.
Além da dor, que pode variar de intensidade e duração, a NPH apresenta outros sintomas, tais como: sensibilidade ao toque, formigamento, coceira e queimação na área afetada”, comenta.
Embora seja fácil diagnosticar a NPH devido à sua apresentação clínica e associação com o episódio de herpes-zóster, dra. Amelie pondera que o tratamento da condição é, geralmente, desafiador. “Isto porque, muitas vezes, o controle da dor não é satisfatório”, diz. Inclusive, ressalta a médica intervencionista em dor, estudos já demonstraram que menos da metade dos pacientes com NPH alcançam redução significativa dos sintomas.
Nesse sentido, destaca dra. Amelie, ganha elevada importância o controle adequado dos sintomas de NPH no início do quadro, visando, sobretudo, prevenir o agravamento da condição e seu desdobramento em dor crônica. Segundo ela, para evitar a cronificação da NPH, é fundamental o tratamento antiviral precoce, com a medicação correta e em doses adequadas. ‘O ideal é iniciar o tratamento em até 24h ou 48h após o aparecimento das lesões”, diz.
O tratamento específico da dor desde o início das lesões também pode ser, conforme dra. Amelie, uma ótima ferramenta para evitar que a dor se torne crônica. “Além disso, principalmente naqueles pacientes com maior risco de evoluirem com dor crônica, é importante considerar a possibilidade de procedimentos intervencionistas minimamente invasivos também no início da dor aguda”, sugere.
No que se refere ao tratamento específico da dor, dra. Amelie ressalta que o consenso dos especialistas sugere que regimes de medicação multimodais e procedimentos intervencionistas sejam provavelmente a melhor abordagem.
A médica intervencionista em dor explica que os tratamentos não invasivos tradicionais incluem medicamentos orais e tópicos, sendo que algumas sociedades recomendam antidepressivos, gabapentinoide (anticonvulsivantes) e o adesivo de lidocaína (anestésico) a 5% como primeira linha de tratamento.
“O uso de opióides para combater a NPH também pode ser necessário pela intensidade da dor ”, diz a médica.
Além de reconhecer e tratar o herpes-zóster de maneira precoce e assim mitigar as chances de desenvolvimento de NPH e manejar os sintomas de NPH através de medicamentos e procedimentos intervencionistas, uma excelente abordagem em relação à doença e seus desdobramentos é a prevenção.
Esta se concentra na identificação de populações em risco de contrair o herpes-zòster e na administração de uma vacina”, explica dra. Amelie.
Conforme a médica, os fatores de risco bem estabelecidos para um episódio de herpes-zóster que progride para NPH incluem: idade, imunossupressão grave; presença de uma fase prodômica (que precede o aparecimento de sintomas); dor intensa durante surto de zóster; alodinia (dor que não ocorreria em situações normais); envolvimento oftálmico e diabetes mellitus.
Além da vacinação, a especialista orienta que para evitar o desenvolvimento de herpes-zóster e consequentemente da NPH, a pessoa deve manter um sistema imunológico saudável.
Ajuda nesse sentido manter um estilo de vida saudável, caracterizado por uma dieta equilibrada, exercícios regulares e controle do estresse. Também é de grande valia para a prevenção da doença, especialmente se estiver com o sistema imunológico comprometido, evitar contato próximo com pessoas que têm catapora”.
Saiba mais sobre a doença
O que é herpes zoster?
O herpes zoster é causado pelo vírus varicela-zoster, o mesmo vírus que causa a varicela (catapora). Após uma pessoa ter varicela, o vírus permanece dormente no sistema nervoso por muitos anos. Em alguns casos, o vírus pode reativar mais tarde na vida, resultando em herpes zoster. Embora não seja claro o que desencadeia a reativação, fatores como o envelhecimento, estresse, doenças que enfraquecem o sistema imunológico e certos medicamentos podem aumentar o risco.
Sintomas do herpes zoster
O sintoma mais característico do herpes zoster é a dor provocada pelas lesões cutâneas, que se apresentam como bolhas agrupadas em uma área específica do corpo, muitas vezes acompanhadas por sintomas como dor intensa, coceira e sensibilidade ao toque. Essas lesões podem surgir em qualquer parte do corpo, mas são mais frequentes no tórax, no abdômen e na face, seguindo os trajetos dos nervos.
O herpes zoster se manifesta inicialmente com dor, queimação, formigamento ou coceira em uma área específica do corpo, geralmente de um lado do tronco ou rosto. Após alguns dias, uma erupção cutânea aparece, formando pequenas bolhas cheias de líquido que podem se romper e formar crostas. Outros sintomas podem incluir febre, dor de cabeça, sensibilidade à luz e cansaço.
A dor associada ao herpes zoster pode ser intensa. Em alguns casos, mesmo após a cura da erupção cutânea, a dor pode persistir por meses ou até anos, uma condição conhecida como neuralgia pós-herpética. Esta complicação é mais comum em pessoas mais velhas e pode ser debilitante.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico do herpes zoster geralmente é clínico, baseado nos sintomas e na aparência da erupção cutânea. O tratamento precoce é crucial para reduzir a gravidade e a duração dos sintomas. Antivirais são mais eficazes quando iniciados dentro de 72 horas após o início dos sintomas. Analgésicos e anti-inflamatórios podem ser prescritos para aliviar a dor.
Vacina deve ser aplicada em duas doses
A prevenção do herpes zoster é possível através da vacinação. O imunizante pode reduzir significativamente o risco de desenvolver a doença e suas complicações. As vacinas contra herpes-zóster, tanto a Zostavax quanto a Shingrix, não estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) e podem ser encontradas exclusivamente nos serviços privados de vacinação.
A respeito da vacinação, dra. Amelie destaca que o procedimento está disponível na rede particular, sendo administrada em duas doses, com intervalo de dois a seis meses. “Apesar de ser uma vacina particular, ela deve ser estimulada para os pacientes com mais de 50 anos ou pacientes com menos que já tiveram zóster”, alerta.
De acordo com estudo publicado na Lewis Katz School of Medicine at Temple University, duas doses da vacina recombinante contra zóster são necessárias, independentemente da história prévia da doença ou da prévia administração da vacina do vírus vivo atenuado.
Quem deve ser vacinado?
A vacina recombinante contra herpes zoster é recomendada para:
– Adultos com 50 anos ou mais.
– Pessoas que tiveram herpes zoster anteriormente para prevenir recorrências.
– Pessoas com condições crônicas, como diabetes ou doenças pulmonares, que podem aumentar o risco de herpes zoster e suas complicações.
Com Assessorias