Complicações cardiovasculares são a maior causa de morte em diabéticos no Brasil e no mundo, embora apenas 56% dos pacientes saibam que a doença pode trazer riscos cardíacos, segundo pesquisa realizada em 2017, pelo Ibope. A Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) alerta que o risco de se ter um infarto aumenta 40% nos diabéticos homens e 50% nas mulheres. Diante dos dados, o controle da doença é importante para reduzir os riscos cardiovasculares.
O cardiologista José Francisco Kerr Saraiva, presidente da Socesp, explica que o diabetes pode evoluir para níveis bastante graves, causando cegueira, impotência sexual, mau funcionamento de órgãos vitais e crescente dificuldade de cicatrização de feridas e lesões, levando até mesmo à amputação de membros. “Além disso, também é um dos principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares, favorecendo a ocorrência de infarto e derrames (acidentes vasculares cerebrais — AVC)”.
“As chances de consequências como infarto e derrame (AVC) são de duas a quatro vezes maiores na pessoa com diabetes”, explica o o endocrinologista Alexander Benchimol, pesquisador da PUC-RJ. “Isso porque a resistência à insulina, combinada a outros mecanismos, pode causar alterações nos vasos sanguíneos, aumentando a predisposição a essas complicações”, completa.
Quando a doença se manifesta, também potencializa outros fatores de risco, como o colesterol elevado e a hipertensão. “A presença desses fatores torna ainda mais importante o acompanhamento médico regular e a adoção de hábitos de vida saudáveis”, pontua Benchimol. Junto do tratamento medicamentoso, que será escolhido de forma individualizada pelo endocrinologista, é preciso manter uma dieta que ajude no controle da glicemia. “Além disso, a prática regular de exercícios físicos diminui a resistência à insulina, potencializando o tratamento”, afirma o cardiologista.
“Ou seja, há justificados motivos para prevenir a ocorrência desse mal e, mais ainda, para tratá-lo de modo eficaz assim que se descobre a sua existência. Como os sintomas não são imediatos, o controle médico periódico, com a realização de exames de sangue, é muito importante para o diagnóstico anterior ao aparecimento dos primeiros problemas”, alerta Dr. Saraiva.
Embora complicações cardiovasculares sejam frequentemente associadas ao diabetes, apenas 56% dos pacientes conhecem essa relação. As estatísticas reforçam a pertinência desses cuidados: estima-se que cerca de 10% dos habitantes adultos do Brasil tenham a doença, que, segundo o Ministério da Saúde, atinge 5,2% dos homens e 6% das mulheres. Dentre as pessoas acima de 65 anos, a incidência é de 21%.
Casos do tipo 2, maioria no Brasil, podem ser evitados
Conviver com o diabetes faz parte da rotina de mais de 14 milhões de brasileiros, segundo a Federação Internacional do Diabetes (IDF). O dado coloca o Brasil em quarto lugar no ranking das nações com maior incidência e as projeções para o futuro mostram uma progressão expressiva: até 2040, pelo menos 23 milhões de pessoas terão a doença.
A boa notícia é que esses novos casos podem ser prevenidos, já que 90% deles trata-se do tipo 2. Diferente do diabetes tipo 1, de causas autoimunes, o tipo 2 está diretamente associado aos hábitos alimentares, sedentarismo e obesidade.
O fator genético também conta, mas não é o único determinante. É uma doença complexa, que surge devido à combinação de diversos fatores”, afirma. Uma vez instalada, a condição é para a vida toda. “Por isso, é importante que o paciente adote um estilo de vida saudável e tenha adesão ao tratamento medicamentoso”, ressalta Benchimol.
Como formas de prevenção da doença, os especialistas recomendam alimentação correta e equilibrada, combate à obesidade, consumo muito moderado de bebidas alcoólicas, prática regular de exercícios físicos (sempre com orientação médica) e abandono do tabagismo.
Quando procurar ajuda para se tratar
Embora o diabetes seja uma doença crônica, é possível viver com qualidade de vida e controlá-la com o tratamento correto. Existem medicamentos muito modernos, que podem não só ajudar a equilibrar os índices glicêmicos, como também proteger a saúde cardíaca do paciente”, explica o endocrinologista. O mais importante é que a pessoa entenda a doença e a importância de seu controle. “Isso aumenta as chances de adesão e sucesso do tratamento. Para isso, também é importante que o atendimento médico seja cada vez mais personalizado”, diz Benchimol.
Quando o diabetes instala-se, o tratamento deve ser imediato e regular. O médico determinará se há necessidade de administração de insulina, sua frequência e dosagem. Em todos os casos, o controle da dieta, a redução drástica do consumo de açúcar e doces, emagrecimento saudável e prática de exercícios físicos ajudam muito no reequilíbrio dos níveis de glicose no sangue.
“Também é recomendável a interação com núcleos de convivência de pacientes, nos quais a troca de experiências e a ajuda mútua e solidária contribuem muito para a boa condição psicológica de todos, com impacto positivo na terapêutica. Esses grupos podem ser encontrados nos serviços públicos, ONGs da área da saúde ou serviços de voluntariado”, orienta o presidente da Socesp.
Saraiva é professor titular da disciplina de cardiologia da Faculdade de Medicina da PUC Campinas e doutor em cardiologia pela Universidade de São Paulo,. “Prevenir o diabetes é muito importante. Porém, quando ele ocorre, o tratamento correto, o acompanhamento médico e o controle regulares são decisivos, pois garantem boa qualidade da vida em grande parte dos casos”, conclui.