Por que as doenças bucais afetam mais as pessoas idosas?

Má limpeza durante a vida pode gerar problemas. Saúde bucal também afeta a saúde mental. Campanha alerta para impacto psicológico da halitose

Antecipando o Dia da Saúde Bucal, Alerj faz ação de prevenção no Centro do Rio. Lei estadual garante atendimento odontológico gratuito no estado (Fotos: Divulgação Alerj)
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A saúde bucal é um dos indicadores de bem-estar e qualidade de vida e é essencial para a mastigação, fala, respiração e autoestima. Ela não está apenas relacionada à estética de um sorriso bonito, mas também à prevenção de doenças e ao bem-estar geral. O dia 25 de outubro é comemorado o Dia Nacional da Saúde Bucal, uma data que foi instituída pela Lei nº 10.465/2002 para chamar a atenção para a importância da saúde oral. 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças orais estão entre as mais predominantes no mundo, atingindo cerca de 3,5 bilhões de pessoas, sendo que 75% desses indivíduos vivem em países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos. Questões como disponibilidade e preço baixo do açúcar e a falta de acesso à atenção profissional são relevantes na prevalência de doenças orais. A separação entre a atenção médica e a atenção odontológica também é apontada como grande problema.

Cuidados adequados com a saúde bucal também podem ajudar a prevenir doenças sistêmicas, como diabetes, doenças cardíacas e pneumonia. As doenças bucais são prevalentes na população idosa e resultam em desafios específicos relacionados à dor, mastigação e alimentação.saúde bucal precária entre os idosos pode afetar negativamente as atividades diárias e, assim, contribuir para a fragilidade geral.

Má limpeza durante a vida pode gerar problemas de saúde

De acordo com o especialista em gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Almir Oliva, a higiene oral é uma atividade que mobiliza muitas habilidades cognitivas, com isto, a população idosa tende a ter mais dificuldades em realizar a ação.

“A população idosa vem tendo um aumento da expectativa de vida, que está associado a um aumento de déficits cognitivos e demência. Apesar de, para a maioria das pessoas, parecer uma atividade simples, a higiene bucal é complexa”.

Dr. Almir reitera que muitas doenças orais podem ser prevenidas e tratadas com ações conhecidas que também são efetivas na prevenção de outras doenças não transmissíveis, fazendo com que a atenção odontológica seja parte integrante das medidas globais de promoção de saúde.

“Desenvolver hábitos saudáveis de higiene oral, controle e uso racional de açúcar, associado a consultas regulares ao dentista são imprescindíveis para a saúde bucal em todas as fases da vida”.

Boa higiene oral ajuda na prevenção de pneumonia em pacientes intubados

Trabalho de especialista em tratamentos bucomaxilares é publicado no American Journal of Infection Control

Um estudo desenvolvido pela equipe de bucomaxilo do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP), ganhou destaque na revista American Journal of Infection Control, uma das mais importantes publicações científicas sobre saúde no mundo. O trabalho, elaborado para o mestrado da Dra. Bruna Sabino, avaliou a eficácia de um protocolo de higiene oral para prevenção de pneumonia associada à ventilação mecânica.

O método proposto foi aplicado em pacientes adultos que ficaram por mais de 48 horas em ventilação mecânica nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) do hospital. Os resultados foram surpreendentes, chamando a atenção dos médicos intensivistas Cristina Terzi e Antônio Luis Eiras Falcão, da Unicamp, que acompanharam o desenvolvimento do trabalho e propuseram a publicação internacional.

“Ter um artigo publicado em uma revista internacional é uma oportunidade de contribuir para o meio científico no sentido de melhorar a qualidade dos atendimentos da odontologia no âmbito hospitalar e mostrar como a odontologia está intimamente ligada ao paciente crítico e suas comorbidades sistêmicas e pode contribuir para a prevenção de doenças e até mesmo sua cura”, destaca Bruna.

Este é o segundo trabalho realizado pela médica que tem publicação internacional. Segundo a especialista, o Brasil tem muito a contribuir na área odontológica em nível mundial. “Nossos estudos realizados no Brasil estão sendo muito bem vistos fora do país. Inclusive, muitos profissionais brasileiros estão realizando apresentações ao redor do mundo, levando o conhecimento adquirido e técnicas inovadoras para outros países. Isso é um reconhecimento muito importante para nós, brasileiros”, destaca.

Saúde bucal afeta a saúde mental das pessoas

Insegurança, perda de espontaneidade, baixa autoestima e isolamento social são alguns dos sinais de que algo não vai bem no bem-estar emocional, psicológico e social das pessoas, e esses sintomas são frequentemente identificados por cirurgiões-dentistas em pacientes que acreditam sofrer com a halitose, o temido mau hálito.

“A halitose é uma condição anormal dos odores expirados pelos pulmões, boca e narinas, que se alteram de forma desagradável. Não é uma doença, mas pode denunciar a ocorrência de alguma patologia, problema de saúde ou alteração fisiológica. O mau hálito é um sinal de que algo no organismo está em desequilíbrio. E assim como toda doença ou alteração fisiológica, sistêmica e bucal, a halitose tem tratamento e controle”, Cláudia Gobor, ex-presidente e atual diretora executiva da Associação Brasileira de Halitose.

Esse é apenas um dos inúmeros efeitos negativos na vida das pessoas. Segundo Cláudia, o medo e o isolamento social, resultando em transtornos psicológicos, são alguns deles, muitas vezes afastando o indivíduo do convívio social, afetivo e profissional.

“Na maioria dos casos, a pessoa desenvolve ansiedade, depressão, alcoolismo, baixa autoestima, hábitos deletérios, como escovação excessiva dos dentes, limpeza exagerada da língua, e se torna dependente das gomas de mascar e balas para disfarçar o problema”, conta a dentista.

Halitose: campanha nacional alerta para consequências psicológicas

As consequências psicológicas que a halitose pode gerar são o tema da Campanha Nacional de Combate ao Mau Hálito 2023: Mau hálito: silencioso, invisível e devastador, que termina neste dia 25 de outubro, quando se celebra também o Dia Nacional do Cirurgião-Dentista. Promovida pela ABHA, a campanha foi iniciada em 22 de setembro, data que marca o Dia Nacional de Combate ao Mau Hálito.

A ação conta com palestras e ações sobre adequação dos hábitos diários para manutenção da saúde bucal e informações sobre tratamento direcionado, que possam tranquilizar o paciente. Segundo Cláudia Gobor, dentista especialista pelo MEC no tratamento de Halitose, as campanhas acontecem todos os anos para conscientizar a população e profissionais de saúde sobre os temas atuais da área.

“Nosso objetivo, dessa vez, é mostrar os efeitos negativos emocionais e psicológicos em quem tem receio e passa pelo problema, e instruí-los a saber o que fazer, qual profissional procurar, se pode usar ou não produtos populares a fim de resolver a situação. A nossa campanha quer estimular as pessoas a falarem sobre o assunto, já que essa é uma situação pela qual todos nós podemos passar. Quebrar paradigmas faz parte do nosso trabalho”, finaliza.

Principal referência quando se fala em halitose no país, a Associação Brasileira de Halitose foi fundada na Bahia, em 1998, e completa 25 anos no dia 31 de outubro. Além de incentivar o desenvolvimento e aprimoramento de estudos e pesquisas na área de Halitose, contribuindo para o crescimento técnico e científico dos profissionais de diferentes áreas da saúde. Um dos objetivos é alertar a população contra o uso indevido de produtos que não possuem registro junto à Anvisa.

Dia do Dentista

A Odontologia desempenha um papel fundamental na promoção da saúde geral no Brasil. Além de tratar doenças bucais, os cirurgiões-dentistas têm a importante missão de educar a população sobre a importância dos cuidados bucais adequados. Por isso, a data também celebra o Dia do Cirurgião- Dentista. O Brasil possui mais de 400 mil cirurgiões-dentistas, de acordo com o Conselho Federal de Odontologia (CFO). Segundo a entidade, o país possui uma das maiores proporções de cirurgiões-dentistas por habitante em todo o mundo, o que é um grande avanço na área da saúde bucal.

Levando em consideração a quantidade de novos profissionais formados e a base atual de profissionais no país, a expectativa é que até 2030, provavelmente, serão mais de meio milhão de cirurgiões-dentistas somente aqui no Brasil. A saúde bucal é um aspecto essencial da saúde geral, e o aumento do número de cirurgiões-dentistas no País é um passo significativo na promoção do bem-estar do povo brasileiro.

 

Agenda Positiva

Alerj leva atendimento de saúde bucal ao Largo da Carioca

Antecipando o Dia Mundial da Saúde Bucal, lembrado nesta quarta-feira (25/10), uma equipe de dentistas disponibilizada pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) realizou mais de 60 atendimentos nesta terça-feira (24/10) em três tendas montadas no Largo da Carioca, no Centro do Rio. A iniciativa de prevenção da saúde bucal foi da Comissão de Representação para o Cumprimento das Leis (Cumpra-se), em parceria do Departamento de Assistência Médica da Casa.

Após a revisão clínica, cada pessoa atendida ganhou uma cópia da Lei 8206/18, que garante atendimento odontológico gratuito em toda a rede pública, além de um kit de higiene bucal e de uma lista com as unidades que prestam esse tipo de serviço oferecido pelo Governo do Estado. Segundo o deputado Carlos Minc (PSB), presidente da Comissão, a iniciativa tem o objetivo de fazer valer a lei, assim como cobrar a ampliação nos pontos de oferta do serviço odontológico público nas unidades do Estado.

Deputado Carlos Minc cobra ampliação nos pontos de oferta do serviço odontológico público no estado (Foto: Divulgação Alerj)

“Quando fizemos o Cumpra-se desta lei, há cerca de quatro, cinco anos atrás, existiam pouquíssimos serviços gratuitos, mas agora temos uma lista de quase 200 pontos na região metropolitana, que contam com estes serviços. Nós também vamos comparar os dados atuais com os da época da sanção dessa medida”, explicou o parlamentar.

Ainda segundo o parlamentar, é necessário atenção e tornar esse atendimento mais acessível para as pessoas, pois as infecções que se iniciam na boca podem desencadear outras doenças mais graves. “A lei é informativa, preventiva e assistencial e tem que se converter em direito à saúde”, completou.

 

Maioria tem ausência dentária e extrações a fazer

Rafael Campelo, dentista do Departamento Médico da Alerj, disse que a maioria das pessoas atendidas durante a ação tem ausência dentária, além de extrações a fazer.

“Recebemos um paciente que tinha 25 dentes ausentes, dos 28 de uma arcada completa. E os que restavam, estavam praticamente perdidos. A ação foi excelente, fizemos um trabalho de conscientização com os pacientes que precisam buscar tratamento odontológico”, pontuou. ‘A saúde começa pela boca’

Moradora do Rio Comprido, Anastácia Carlos Agostinho, de 52 anos, gostou da iniciativa e já saiu de uma das tendas de atendimento com encaminhamento para realizar seu tratamento em uma unidade de saúde pública.

“Fizeram uma avaliação e me aconselharam ir à uma Clínica da Família para restaurar um dente que caiu depois de um mal atendimento. Eu nem sabia que era possível ter cárie depois de um tratamento de canal, gostei muito desse atendimento”, disse.

Surpreendido com as tendas montadas no Largo da Carioca, Edem Carvalho, de 53 anos, aproveitou para fazer uma verificação odontológico em uma das tendas montadas.

“Passei por uma revisão e fui presenteado com um kit. Fiz uma extração recentemente e gostaria de repor o dente, tendo sido encaminhado para tratamento numa unidade pública de saúde. Cuidar dos dentes é muito importante e vejo esta iniciativa como fundamental para a população”, comentou.

Com Assessorias

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