Os distúrbios do trato gastrointestinal representam um desafio global de saúde e afetam mais de cinco milhões de pessoas em todo o mundo. Conhecidas como doenças inflamatórias intestinais (DIIs), elas afetam mais de 5 milhões de pessoas no mundo e só no Brasil acometem 100 pessoas a cada 100 mil habitantes, de acordo com a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) e da Organização Brasileira de Doença de Crohn e Colite (GEDIIB).

Isso significa que uma em cada mil brasileiros esteja com alguma DII, número que coloca esse grupo de enfermidades tão comum quanto a apendicite, por exemplo.  Mas se há semelhança em número de casos, porque não temos tantos diagnósticos de doença de Crohn, a mais frequente das DIIs?  Para o diretor da Federação Brasileira de Gastroenterologia, Antônio Carlos Moraes, a resposta pode estar no preconceito dos pacientes com a própria doença.

“O principal sintoma é a diarreia crônica, mas muitas pessoas não gostam de assumir que estão com esse problema; há uma vergonha em expor a situação, atrapalhando a velocidade do diagnóstico”, destaca o profissional, afirmando que essa rapidez é essencial para a retomada da vida do paciente.

41% dos pacientes só descobrem a doença depois de um ano

Por se tratarem de doenças que atrapalham o enfermo devido aos seus sintomas limitantes – diarreia, dores abdominais, sangramento ao evacuar, febre, fadiga, falta de apetite – , as DIIs devem começar a ser tratadas o quanto antes para que o paciente recupere sua rotina. Porém, segundo pesquisa da Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD), 41% dos diagnosticados só descobrem a doença depois de um ano, enquanto 43% demoram pelo menos quatro consultas até terem o diagnóstico.

Médicos e pacientes precisam trabalhar em conjunto para que esse tempo encurte, porque são meses em que o paciente pode ficar sem estudar, trabalhar, ter o seu lazer e se relacionar. Dessa forma ,ter equipe médica treinada para identificar uma possível doença inflamatória intestinal e direcionar o paciente aos exames se faz essencial.

“É muito raro um plantão em que você não tenha caso de apendicite. É um problema muito comum, pensado e diagnosticado com rapidez. Por outro lado, não vemos essa mesma velocidade nas doenças intestinais. Precisamos treinar as equipes para estarem alertas a essas doenças e saber identificar os sinais alarmantes, principalmente na presença de diarreia crônica, cólica abdominal e febre”, explica Antônio Carlos, que também é diretor do setor de Gastroenterologia da Rede D’Or.

Maio Roxo: ‘precisamos acabar com o autopreconceito’

Maio é o mês do roxo, cor da campanha que visa alertar sobre as doenças inflamatórias intestinais. Instituída para conscientização, luta e solidariedade em relação às DIIs, a campanha tem como objetivo aumentar a compreensão pública sobre essas doenças, reduzir o estigma e promover melhores cuidados e tratamentos.

“No Maio Roxo, devemos alertar ainda mais sobre esse grupo de doenças, pois limitam muito a vida social e profissional dos pacientes. Precisamos acabar com o autopreconceito dos sintomas e da presença das DIIs, encurtando, assim, o tempo para diagnóstico e o início do tratamento”, afirma o gastroenterologista.

Apesar de não haver cura para as DIIs, os tratamentos conseguem controlar os sintomas, induzir e manter a remissão e melhorar a qualidade de vida dos pacientes com o uso de medicamentos para reduzir a inflamação, modificar a resposta imunológica e aliviar os sintomas, além de claro, a adoção de mudanças na dieta e estilo de vida.

Como surgem as doenças inflamatórias intestinais

Existem quatro teorias principais sobre o surgimento das DIIs:

o exposoma, ou teoria da hiperhigienização – quando o meio ambiente foi se tornando mais limpo e diminuindo o número de doenças infectocontagiosas, as doenças autoimunes se multiplicaram;

genoma, que relaciona essas doenças à carga genética do paciente;

imunoma, a forma como cada indivíduo reage a um fator de agressão – uma gastrenterite, por exemplo, pode desenvolver uma doença inflamatória;

alterações na microbiota, conhecida como flora intestinal, a qual conhecemos menos de 10%.

Mesmo de origem incerta, a garantia é que, uma vez desenvolvida, a doença inflamatória intestinal acompanhará o paciente durante toda a vida. Ainda segundo pesquisa da ABCD, 80% dos pacientes relatam que têm sua vida afetada mesmo em períodos de remissão da DII.

Má alimentação, estresse e tabagismo

Mas, afinal, o que na verdade são as doenças inflamatórias intestinais? Elas englobam condições crônicas e autoimunes que provocam inflamação no trato gastrointestinal, impactando significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Elas são caracterizadas por sintomas como diarreia crônica, urgência para evacuar, cólica abdominal, fadiga e perda de peso.

As mais comuns a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa. Enquanto a primeira pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal, desde a boca até o ânus, a segunda é caracterizada pela inflamação limitada ao cólon e ao reto.

Os fatores que podem contribuir para o desenvolvimento das doenças inflamatórias intestinais incluem uma combinação de predisposição genética, disfunções no sistema imunológico, alterações na microbiota intestinal e fatores ambientais como dieta, estresse e tabagismo.

“Embora a causa exata ainda não seja totalmente compreendida, acredita-se que esses fatores interagem de maneira complexa, levando à inflamação crônica no trato gastrointestinal”, afirma Thiago Cornelio, cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Evangélico de Sorocaba (HES).

Prevenção, diagnóstico e tratamento

Ainda segundo ele, o diagnóstico dessas condições é complexo e requer uma avaliação detalhada do histórico médico, exames físicos e diversos exames complementares. “Os principais desafios no diagnóstico incluem a similaridade dos sintomas com outras doenças gastrointestinais, o que pode levar a atrasos no diagnóstico correto”, diz Dr. Thiago Cornelio.

O tratamento das condições é focado principalmente na redução da inflamação, alívio dos sintomas e prevenção de complicações. Ele inclui uma variedade de medicamentos, terapias nutricionais e, em casos graves, intervenções cirúrgicas para remover áreas afetadas do intestino.

Dr. Thiago afirma que, atualmente, não existe uma estratégia comprovada para prevenir as doenças inflamatórias intestinais, já que as causas são uma combinação de vários fatores diferentes. No entanto, modificações na dieta e no estilo de vida desempenham um papel crucial no manejo dessas condições.

Evitar alimentos que desencadeiam sintomas, manter uma nutrição adequada, evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool podem contribuir significativamente para o controle dos sintomas. “Além disso, exercícios físicos regulares e técnicas de gerenciamento de estresse podem melhorar a qualidade de vida e potencialmente influenciar o curso da doença”, completa.

Com Assessorias

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