Você sabia que, anualmente, cerca de três mil brasileiros perdem a vida enquanto aguardam por um transplante? É o que revela um relatório divulgado pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). As altas taxas de recusa familiar na doação de órgãos continuam sendo o principal desafio no país. Mais de 600 crianças e adolescentes esperam na fila por um sim
Entre os fatores para a recusa familiar, estão a não aceitação da manipulação do corpo, a crença religiosa, o medo da reação dos parentes, a desconfiança da assistência e o não entendimento do diagnóstico da chamada morte encefálica, quando se acredita na possibilidade de reversão do quadro. Por isso, é importante desmistificar o ato e informar à família e amigos sobre o desejo de ser doador.
Uma das vidas salvas pelo ‘sim’ de uma família é a da pequena Eloa Terres, de 10 anos, que durante oito meses esperou na fila por um coração compatível. A mãe recebeu o diagnóstico da filha ainda durante a gravidez: cardiopatia congênita.
Descobrimos a doença dela durante um ultrassom gestacional de rotina. Desde que nasceu, ela sempre teve a coloração da pele mais roxa, pois saturava muito baixo. E, mesmo com todos os cuidados e tratamentos, ela sentia muito cansaço e ficava ofegante até para fazer coisas simples do dia a dia, como andar, subir escadas e tomar banho”, conta Loislaine Terres.
Durante toda a infância, Eloa passou por procedimentos como cateterismos e diversos internamentos, até que veio a notícia de que precisaria de um transplante cardíaco. A família, que aguardou com ansiedade durante alguns meses a ligação da equipe médica do Pequeno Príncipe, que avisaria quando um coração compatível surgisse, hoje agradece o gesto de amor que mudou a vida da menina de 10 anos.
Só temos a agradecer a família que disse sim para a doação de órgãos. Lembro como se fosse hoje quando nos falaram que o transplante dela tinha sido um sucesso. Ver minha filha bem é um sentimento que não tem explicação”, finaliza a mãe.
Hoje, Eloa faz parte das estatísticas de sucesso em transplante de órgãos no Brasil. Mas outras 44.608 pessoas, segundo o Sistema Nacional de Transplantes, ainda esperam pela mesma oportunidade. Dessas, mais de 600 são crianças e adolescentes.
Por isso, neste Dia Nacional de Doação de Órgãos, lembrado em 27 de setembro, tem o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a importância do ato de doar e e o impacto que esse ato pode trazer para a vida das pessoas. A cada 14 pessoas aptas a doar, apenas quatro chegam a concluir a doação. Isso reforça a importância da manifestação, ainda em vida, do desejo de ser um doador aos familiares de primeiro ou segundo grau (pais, filhos, irmãos, avós e cônjuges).
Sabemos que a perda de um ente querido é um momento delicado e muito difícil, mas caso tenha algum familiar que possa doar os órgãos, é importante dizer sim. Esse ato de amor pode salvar pelo menos seis vidas”, explica o cardiologista pediátrico Bruno Hideo, do Pequeno Príncipe, hospital pediátrico de Cuririba, que realiza transplantes de rim, fígado, coração, válvulas cardíacas, tecidos e medula óssea.
Somente em 2023, foram realizados 307 transplantes, e em 2024, até agosto, foram 199. Em 2024, o Serviço de Transplante Renal completa 35 anos, e o de transplante cardíaco, 20 anos. A estrutura de UTIs, com 76 leitos, o Centro Cirúrgico, com nove salas, a disponibilidade de profissionais de 47 especialidades e áreas da pediatria com equipes altamente especializadas oferecem uma importante retaguarda, dando suporte a esses procedimentos.
Entre os órgãos mais doados estão os rins, fígado, coração, pâncreas e pulmão, além dos tecidos, córnea e medula óssea. Diante da complexidade de algumas doenças, existem casos em que um ou até mais órgãos chegam a um ponto de disfunção, perdendo a sua capacidade vital. Esses casos são extremamente comuns
Com Assessorias