O diabetes é um fermento para o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC). Mais da metade dos indivíduos que têm alguma doença cardíaca possuem também algum transtorno relacionado à glicose no organismo. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), mais de dois terços das pessoas que morrem do coração têm diabetes e mais de 80% das mortes por diabetes estão relacionadas a problemas cardíacos e renais, ou seja, vasculares.

Estudo divulgado no EASD (Congresso Europeu de Diabetes) mostrou que um a cada três pacientes com Diabetes Melitus tipo 2 tem doença cardiovascular estabelecida e nove a cada 10 têm doença cardiovascular aterosclerótica. O estudo CAPTURE, a primeira pesquisa  global, não intervencionista, avaliou a prevalência de doença cardiovascular em quase 10 mil pessoas com diabetes tipo 2 (DM2) em 13 países, incluindo o Brasil.

A doença cardiovascular aterosclerótica é causada pelo acúmulo de gorduras, colesterol e outras substâncias nas paredes das artérias, o que estreita os vasos e resulta em redução do fluxo sanguíneo, podendo levar a eventos como ataque cardíaco e AVC, o conhecido derrame cerebral. O estudo indicou ainda que apenas 20% dos pacientes com DM2 e doença cardiovascular aterosclerótica estavam recebendo tratamento com medicações que têm benefício cardiovascular comprovado.

Meio bilhão de pessoas no mundo e 14 milhões no Brasil são acometidas por doenças cardiovasculares. Atualmente o país registra uma morte a cada 40 segundos devido às doenças cardiovasculares, que causam o dobro de óbitos causados por todos os tipos de câncer juntos, duas vezes mais que todas as causas externas (acidentes e violência), três vezes mais que as doenças respiratórias e seis vezes mais que todas as infecções – incluindo a Aids.

Mais de 380 mil óbitos todo ano no Brasil

O problema é grave porque essas doenças são responsáveis por mais de 30% das mortes no país. São mais de 380 mil óbitos todos os anos no Brasil, cerca de mil mortes por dia. Esses números expressivos preocupam, sobretudo diante de doenças que poderiam ser prevenidas e tratadas. É um assunto de absoluta relevância, um problema de saúde pública”, alerta Marcelo Queiroga, presidente da SBC.

Excepcionalmente neste momento, a pandemia de Covid-19 é o principal problema de saúde pública no Brasil. E alguns cuidados extras se tornaram indispensáveis para viver mais e melhor, principalmente aqueles que sofrem de doenças cardiovasculares. Dados do Ministério da Saúde informam que a cardiopatia é a comorbidade mais associada com a mortes em decorrência da Covid-19, mais um motivo para os portadores dessas enfermidades não negligenciarem a rotina de cuidados à saúde.

“A maioria das mortes por essas enfermidades poderia ser evitada com medidas simples, por isso é tão importante consultar o cardiologista, fazer um checkup, para a prevenção e manutenção da saúde do coração e ficar fora dessas estatísticas”, explica Queiroga, lembrando que, se forem controlados os fatores de riscos, como hipertensão, colesterol, diabetes, sedentarismo, obesidade e tabagismo, além de se tomar a medicação corretamente, quem sofre de doenças cardiovasculares vive melhor.

Tratar a diabetes é muito mais do que controlar açúcar no sangue

Geralmente o paciente de diabetes só é diagnosticado quando apresenta lesão na retina, ou no rim, disfunção erétil ou doença cardíaca, por exemplo. Nesses casos, o diabetes evoluiu silenciosamente sem ser detectado e a confirmação tardia pode trazer complicações irreversíveis. Por isso, alertam especialistas, o diagnóstico precoce é fundamental para prevenir ou minimizar tais problemas. O alerta, a prevenção e o tratamento adequados e o acompanhamento médico podem reverter essa grave situação.

O dia 14 de novembro é lembrado anualmente como o Dia Mundial do Diabetes, doença crônica que afeta a maneira como o corpo metaboliza a glicose. No Brasil, 16 milhões de pessoas têm a doença, ou seja, um em cada nove adultos, e estima-se que 46% deles não sabem. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), em 2045 serão 20 milhões de doentes.

Nós, médicos, temos que fazer muito mais que controlar a hemoglobina glicada: se meu paciente com DM2 tem sobrepeso ou obesidade, preciso fazê-lo perder peso, controlar os risco de infarto, de AVC, ou seja, o controle dos níveis de açúcar representa apenas uma parte do problema, que é hoje global”, explica Andressa Heimbecher, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP).

De acordo com a Dra. Andressa, medicamentos como liraglutida, semaglutida, empagliflozina e dapagliflozina têm mostrado nos últimos anos benefícios além da redução da hemoglobina glicada. “Estudos consistentes indicam que eles podem reduzir risco de infartos, derrames e perda de funcionamento do rim. Como a doença cardiovascular é a principal causa de morte nas pessoas com DM2, é fundamental fazer o rastreio para essas complicações e proporcionar o melhor tratamento”, finaliza a endocrinologista.

Má alimentação e sedentarismo como principais causas

A diabetes se manifesta através de dois tipos. O tipo 1 é caracterizado pela falência das células beta no pâncreas; e o tipo 2, que se dá por resistência à ação da insulina, tendo a obesidade como um dos principais responsáveis. Aproximadamente 90% dos casos se apresentam dessa forma e a Organização Mundial de Saúde (OMS) atribui à má alimentação e à falta de exercício físico. A OMS projeta que em 2025 haverá 2,3 bilhões de pessoas com sobrepeso e mais de 700 milhões de obesos no planeta, aumentando, consequentemente, o número de pessoas com diabetes.

O diagnóstico do paciente diabético, hoje, está associado ao aumento do peso, que está relacionado a hábitos contemporâneos não saudáveis, como inatividade física e excesso de alimentos calóricos. Se as pessoas fizerem exercícios, ingerirem uma menor quantidade de alimentos calóricos e tiverem possibilidade de fazer dieta saudável, rica em alimentos naturais, elas terão uma menor ingestão de caloria. Reduzindo o peso você vai diminuir a sua sobrecarga na produção de insulina”, afirma o diretor de Promoção de Saúde da SBC, José Francisco Saraiva.

Para ele, a criação de hábitos de vida saudáveis é a maior ferramenta na prevenção do diabetes. Para aqueles que já possuem a doença, o melhor a fazer é controlar a insulina, o que perpassa também pelos bons hábitos de vida. A dieta saudável, baseada em alimentos naturais e evitando o consumo de produtos processados, como açúcar, também diminui drasticamente o risco de doenças cardiovasculares.

“Existem inúmeros trabalhos na literatura que apontam para essa questão, quanto mais exercícios se faz, quanto menor o peso, menor a sua chance de complicações de saúde. É muito importante fazer o bom controle da glicose e sabemos que não é apenas isso, mas também o controle do colesterol, da pressão arterial e o combate ao tabagismo. Esse conjunto de ações é que leva à prevenção de problemas cardiovasculares, principalmente infarto e AVC. O problema do diabetes não é somente a doença cardiovascular, são também problemas renais; problemas dos vasos – levando à amputação; nos olhos – levando à cegueira. Não adianta o indivíduo fazer prevenção do infarto e não prevenir outros problemas”, garante o cardiologista.

Com Assessorias

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