Doença silenciosa que apresenta sintomas apenas quando já está em fase mais avançada, o Diabetes Mellitus (DM) é um dos desafios de saúde que mais crescem neste século. A doença atinge mais de 10% da população mundial e é apontado como a quarta maior causa de morte no mundo. Os dados e projeções são importantes para avaliar o tamanho do desafio para combater esse problema que é global.
São 463 milhões de pessoas entre 20 e 79 anos vivendo com diabetes, de acordo com a Federação Internacional do Diabetes (IDF, da sigla em inglês), que mapeia a dimensão da doença em 138 países, a cada dois anos. De acordo a IDF, a estimativa é que, em 2030, 578 milhões de pessoas serão diabéticos. Outro dado alarmante é que mais de 1 milhão de crianças e adolescentes com menos de 20 anos têm diabetes tipo 1.
O número de brasileiros diabéticos cresce a cada ano. As estatísticas apontam que o Brasil é o país com o maior número de pessoas com diabetes na América Latina. Segundo dados de 2019 da IDF, o país aparece entre os 10 países do mundo com mais casos e lidera o ranking de prevalência na América do Sul e Central, com 16,8 milhões de pessoas com a doença, o equivalente a 11,4% da população nacional.
A cada ano observa-se o aumento do número de óbitos causados por essa comorbidade: foram 65 mil em 2018. O Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) indica que o percentual de pessoas com diagnóstico de diabetes entre as capitais do país e Distrito Federal foi de 6,3% em 2010 e de 7,4% em 2019. A diabetes esteve, em 2018, entre as cinco principais causas de morte.
Quase metade dos pacientes não sabe que tem a doença
o número crescente de casos da doença está diretamente relacionado à má alimentação, sedentarismo e ganho de peso. Essa epidemia silenciosa carrega outro agravante importante: quase metade dos que convivem com o diabetes sequer sabe da ocorrência do problema. Para mudar esta realidade, a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) promove a campanha Novembro Diabetes Azul, por conta do Dia Mundial de Combate ao Diabetes (14 de novembro), criado pela IDF.
Desde 2018, o diabetes voltou a ter destaque no calendário de eventos do Ministério da Saúde, sob o título “Novembro Diabetes Azul”. Segundo a SBD, esta é a maior campanha de conscientização sobre a doença no mundo, alcançando uma audiência global superior a um bilhão de pessoas em mais de 160 países. Criado em 1991 pela IDF em parceria com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Dia Mundial do Diabetes ajuda a conscientizar a sociedade e reforçar sobre a importância da prevenção e tratamento da doença.
Ausência de sintomas dificulta diagnóstico
A falta de diagnóstico de boa parte dos casos de DM está relacionada, principalmente, a ausência de sintomas físicos evidentes, pois a maioria só aparece em fases mais avançadas. Alguns sintomas aparecem quando os níveis de glicose no sangue estão muito elevados e podem alertar para o diagnóstico de diabetes, como urina excessiva, excesso de sede, perda de peso e visão borrada.
É importante lembrar que o diabetes tipo 2 é uma doença muito silenciosa e pode levar anos até que aconteçam as suas primeiras manifestações clínicas e, por isso, as pessoas que têm fatores de risco devem ser avaliadas periodicamente, para fazer o diagnóstico mais precocemente.
Os chamados sintomas agudos surgem quando os níveis de açúcar já se encontram muito elevados, causando perda de peso abrupta sem esforço, cansaço excessivo, visão turva, muita sede e vontade de urinar a todo momento”, explica o endocrinologista credenciado da Paraná Clínicas, Caoê von Linsingen.
Se não tratado de maneira adequada, o excesso de açúcar no sangue pode gerar complicações graves nos vasos sanguíneos e nos nervos do paciente, como “problemas renais e de retina, cegueira, risco aumentado de infarto do coração e derrames cerebrais, alterações no intestino e parestesias, que são descritas pelos pacientes como uma queimação constante nas extremidades do corpo com perda de sensibilidade”, completa o médico especialista.
Por isso, é tão importante acompanhar periodicamente os níveis de glicemia no sangue – em especial, quando há histórico familiar, como pais ou avós com a doença. “O diabetes é uma doença traiçoeira, pois mesmo antes de causar sintomas já aumenta os riscos de efeitos secundários. Nos exames de check-up a glicemia de jejum deve sempre ser solicitada. Detectar precocemente a alteração permite intervenção eficaz mais cedo, e melhor controle no risco de complicações futuras”, enfatiza Dr. Caoê.
Mas, afinal, o que é diabetes?
O Diabetes é uma doença crônica intimamente relacionada ao hormônio insulina, responsável por controlar a quantidade de glicose no sangue e garantir energia para o organismo. Surge quando o corpo não é capaz de produzir insulina suficiente ou não consegue empregar adequadamente a quantidade que produz.
A substância, que é responsável por levar a glicose até o interior das células e transformá-la em energia, não consegue fazer esse transporte de forma eficiente, o que acaba sobrecarregando o sangue com excesso de açúcar. Quando a pessoa tem a doença, o organismo não produz insulina ou não consegue usar adequadamente o que produz.
A enfermidade ocorre pela falta de insulina e/ou pela incapacidade da insulina exercer adequadamente sua função no organismo, causando um aumento da glicose (açúcar) no sangue, chamado de hiperglicemia, que pode prejudicar vários órgãos, entre eles os nervos, vasos sanguíneos, rins, olhos, coração, colocando a vida do portador da doença em risco.
O diabetes é uma enfermidade crônica que ocorre quando o pâncreas não consegue produzir insulina ou quando o corpo não consegue usar adequadamente a insulina produzida, que é o hormônio responsável por regular a glicose no sangue e garantir energia para o organismo”, afirma Anelize Cardoso Terra, endocrinologista do HSANP.
Os principais fatores de risco
Você já deve ter ouvido falar que o açúcar é o grande vilão para o desenvolvimento da doença, mas ele não é o único: o excesso de calorias ingeridas, má alimentação, obesidade ou sobrepeso, sedentarismo e histórico familiar são fatores de risco para o desenvolvimento dessa enfermidade, que é um problema global e tem aumentado cada vez mais nos últimos anos.
Qualquer pessoa pode desenvolver o diabetes, contudo, diversos fatores contribuem para o aparecimento dessa enfermidade: hipertensão, diagnóstico de pré-diabetebaixos níveis de colesterol HDL, triglicerídeos elevados e consumo elevado de álcool.
Diabetes gestacional e mulheres com recém-nascidos com mais de 4 kg também são fatores de risco para o desenvolvimento de diabetes tipo 2 e devem servir de alerta para a necessidade de consultar um endocrinologista. Diagnósticos de doenças renais crônicas, apneia do sono e síndrome de ovários policísticos são outros fatores que podem pesar.
A médica endocrinologista Lorena Lima Amato explica que o diabetes pode estar relacionado a outras comorbidades. “Por exemplo, o paciente com fibrose cística que é uma doença sistêmica, tem uma destruição de todas as glândulas exócrinas, podendo cursar com diabetes insulino dependente. Paciente com hemocromatose pode ter diabetes pelo excesso de depósito de ferro no pâncreas, além da obesidade que a principal doença relacionada ao diabetes tipo 2”, relata.
Diagnóstico precoce é fundamental
Após diagnosticada a doença, o controle dos níveis de glicose é necessário para evitar complicações futuras, como cegueira, perda da função dos rins, alterações dos nervos, amputações e doenças cardíacas. Dessa forma, a detecção precoce do diabetes é fundamental. É importante não minimizar os sintomas e procurar um médico para manter os exames em dia, além da prática de hábitos saudáveis. Quando o diabetes não é tratado podem surgir complicações graves com risco de vida.
Os principais sintomas incluem sede ou micção em excesso, fadiga e perda de peso. No tipo 1 também pode ocorrer dor de cabeça, náusea, ritmo cardíaco acelerado, sonolência e fraqueza. Já no tipo 2, o paciente não apresenta sintomas inicialmente, mas é possível identificar por meio de algumas observações como: infecções frequentes, feridas que demoram para cicatrizar, formigamento nos pés, furúnculos e alteração na visão.
Uma vez diagnosticado o diabetes, iniciamos a terapêutica com mudança de estilo de vida e medicamentos. O tratamento medicamentoso é uma forma de alcançar o controle glicêmico rapidamente e mantê-lo em níveis adequados para, assim, evitar as complicações crônicas da doença”, afirma a endocrinologista e médica consultora da FQM, Erika Paniago Guedes.
Tratamento inclui mudanças nos hábitos de vida
Ela alerta que a mudança do estilo de vida, com a adoção de dietas equilibradas e a prática de exercícios físicos, é fundamental no tratamento. O paciente com diabetes precisa de consultas médicas periódicas, onde o controle da doença será avaliado para verificar a necessidade de ajustes dos medicamentos para manter os níveis adequados de glicose no sangue.
Vale ressaltar que o gerenciamento da taxa de glicemia reduz o risco de desenvolver complicações e pacientes já diagnosticados podem levar uma vida normal, ativa e feliz. O tratamento adequado e o acompanhamento médico são imprescindíveis”, ressalta.
O tratamento do diabetes na criança e adulto é similar, o que muda são os alvos de controle da hemoglobina glicada. “Nas crianças pode ser mais permissivo, até 8%, e no adulto, até 7%”, detalha Dra. Lorena. Segundo a médica, a amamentação pode colaborar com menos incidência de diabetes tipo 1. Já a prevenção da obesidade associado a hábitos de vida saudáveis são grandes aliados contra o aparecimento do diabetes tipo2.
Dra Anelize enfatiza que a adoção de medidas para uma vida saudável é a melhor forma e de prevenção. “É importante seguir uma dieta balanceada para ajudar a controlar os níveis de açúcar no sangue, o colesterol, a pressão arterial e o peso, que são fatores de risco. A alimentação aliada à pratica de atividades físicas resultam em pressão arterial equilibrada, melhoram os níveis de lipídeos no sangue e a saúde dos vasos sanguíneos. Por fim, se for consumir bebida alcóolica, que seja sempre de forma moderada e acompanhada por um alimento, pois o consumo isolado pode causar hipoglicemia”, conclui.
Tratamento pode ser feito pelo SUS
No Brasil, estima-se que 9 milhões de pessoas que acessam a Atenção Primária têm DM, sendo que 35% dessas pessoas estão cadastradas nas unidades de saúde. Em 2019, 11 milhões de consultas para pessoas acometidas por essa doença foram realizadas no Sistema Único de Saúde (SUS). No mesmo ano, o número de internações por diabetes foi 136 mil, gerando um custo de R$ 98 milhões aos cofres públicos.
Prevenção e autocuidado são palavras-chave quando se fala em diabetes. Isso porque, na maioria das vezes, não há manifestação de sintomas ou mal-estar no paciente, acendendo um sinal de alerta para as possíveis complicações de saúde geradas pela doença. Por isso, no Dia Mundial de Combate ao Diabetes, comemorado neste sábado (14/11), o Ministério da Saúde reforça a importância do diagnóstico precoce e do acompanhamento adequado para controle da doença no país.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece acompanhamento e tratamento completo, inclusive com distribuição de insulina quando necessário. O atendimento conduzido pela Atenção Primária à Saúde pode evitar hospitalizações e complicações relacionadas à doença. As úlceras nos pés – mais conhecidas como pé diabético – e as amputações de extremidades são as de maior impacto socioeconômico e que afetam a qualidade de vida do paciente com diabetes.
Neste ano, o Ministério da Saúde já investiu mais de R$ 221 milhões para aumentar os cuidados às pessoas com doenças crônicas não transmissíveis, entre elas, a diabetes, na Atenção Primária. A doença também pode provocar problemas arteriais, cardíacos, renais, nos olhos e no sistema nervoso.
Quando você sabe que você tem um fator de risco, como um pai, uma mãe que tem diabetes, ou está aumentando o peso, precisa procurar fazer esse autocuidado preventivo. O diabetes anda de braços dados com a obesidade, a hipertensão arterial e a dislipidemia. Essas doenças juntas colocam o paciente como uma bomba atômica metabólica, caso ele não se cuide”, relata a endocrinologista Hermelinda Pedrosa, presidente do Departamento de Diabetes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Os principais tipos de diabetes
O diabetes pode ser classificado em diferentes subtipos, sendo os mais frequentes o diabetes mellitus tipo 1 e o diabetes mellitus tipo 2. No caso do diabetes tipo 1, em geral a doença manifesta-se muito precocemente. Geralmente, é causada por auto imunidade contra as células pancreáticas produtoras de insulina. O corpo apresenta, desde o início, deficiência na produção de insulina pelo pâncreas, sendo geralmente diagnosticado durante a infância e adolescência.
Para detectar essa patologia é necessário realizar o exame de sangue. Contudo, alguns sintomas podem ser identificados com mais facilidade: poliúria (urinar demais), aumento do apetite, alterações visuais, feridas que demoram a cicatrizar, distúrbios cardíacos e renais.
O tipo mais frequente de diabetes é o tipo 2, representando cerca de 90% de todos os casos da doença. É quando o corpo não consegue utilizar adequadamente a insulina que produz. É mais comum em pessoas com mais de 40 anos, mas também pode ocorrer em jovens, associado sobretudo à obesidade.
Os sintomas característicos são sede e fome excessivas, perda de peso, sendo que visão turva, infecções genitais, dores, cansaço e fraqueza também podem aparecer. Em geral, apenas quando a glicemia está acima de 180 mg/dl é que as pessoas começam a ter os primeiros sinais.
TIPOS DE DIABETES
Diabetes tipo 1: doença crônica hereditária, que concentra entre 5% e 10% do total de diabéticos no Brasil. Cerca de 90% dos pacientes diabéticos no Brasil têm esse tipo. Ele se manifesta mais frequentemente na infância ou adolescência, mas pode ser diagnosticado em adultos também. O tratamento exige o uso diário de insulina para controlar a glicose no sangue.
Diabetes tipo 2: ocorre quando o corpo não aproveita adequadamente a insulina produzida. A causa do diabetes tipo 2 está diretamente relacionado ao histórico familiar, idade superior aos 45 anos, sobrepeso, sedentarismo, triglicerídeos elevados, hipertensão arterial e hábitos alimentares inadequados.
Pré-diabetes: é quando os níveis de glicose no sangue estão mais altos do que o normal, mas ainda não estão elevados o suficiente para caracterizar um diabetes tipo 1 ou tipo 2. É um sinal de alerta do corpo, que normalmente aparece em obesos, hipertensos e/ou pessoas com alterações nos lipídios.
Diabetes gestacional: ocorre temporariamente durante a gravidez. As taxas de açúcar no sangue ficam acima do normal, mas ainda abaixo do valor para ser classificada como diabetes tipo 2.
Existem três tipos principais:
– Diabetes tipo 1 (insulinodependente): É causado por uma reação autoimune no qual o sistema imunológico do corpo ataca as células beta do pâncreas que produzem insulina, fazendo com que as células produtoras do hormônio percam sua capacidade de produção. O pâncreas produz pouca ou nenhuma insulina, resultando na retenção da glicose no sangue ao invés de ser utilizada como energia pelas células do corpo. Geralmente, se manifesta na infância ou adolescência, mas pode ser diagnosticado em adultos também. Nesse tipo, a pessoa precisa ser tratada por meio de aplicações diárias de injeções de insulina.
– Diabetes tipo 2: É o tipo mais comum, que atinge cerca de 90% das pessoas e está associado a um estilo de vida não saudável. Aparece quando o organismo não consegue utilizar adequadamente a insulina que produz ou não produz insulina suficiente para controlar a taxa de glicemia, fazendo com que o nível de glicose no sangue se mantenha elevado. A enfermidade se manifesta com mais frequência em adultos. O tratamento é feito por medicamentos, exercícios físicos e planejamento alimentar.
– Diabetes gestacional: As mudanças hormonais durante a gravidez podem aumentar o nível de glicose no sangue da gestante, mas o aumento de peso excessivo também é um fator de risco. Por isso, recomenda-se que todas as gestantes verifique, a partir da 24ª semana de gravidez (início do 6º mês), como está a glicose em jejum e, mais importante ainda, a glicemia após estímulo da ingestão de glicose, o chamado teste oral de tolerância à glicose.
Entenda a diferença
Tipo 1: crianças e adultos jovens
Tem causa autoimune, quando o próprio organismo destrói as células que fabrica e são responsáveis pela produção de insulina. É menos prevalente, tem início abrupto e precisa ser tratado com aplicação periódica de insulina injetável obrigatoriamente.
Tipo 2: mais comum após os 40 anos
É causado por fatores genéticos associados a um estilo de vida baseado em sedentarismo, má alimentação e obesidade. É o tipo mais comum, tem início silencioso e pode ser controlado com a adoção de hábitos mais saudáveis, uso de medicamentos orais ou, dependendo da gravidade do caso, com injeções de insulina.
Gestacional: de 2 e 4% das grávidas
É uma condição temporária causada pelo aumento de peso e a ação hormonal da placenta. Além de afetar a mãe, esse tipo pode resultar em má formação do bebê, crescimento exagerado de órgãos e maior risco de infecção. Uma dieta equilibrada, exercícios físicos regulares e monitoramento da glicemia são essenciais para o controle durante a gestação.
Mapa do diabetes no Brasil
5º país do mundo em prevalência
16,8 milhões de brasileiros
11,4% da população nacional
46% de casos não diagnosticados
Fonte: IDF Diabetes Atlas – 9th edition 2019
Controle sua glicemia de jejum
– abaixo de 99mg/dL é normal
– entre 100 e 125mg/dL é alterada
– a partir de 126mg/dL é diabetes
Com Assessorias