Na década de 1950, o Brasil vivia uma epidemia de casos de poliomielite, conhecida popularmente como paralisia infantil. Em 1961, houve uma vacinação em massa no Estado do Rio de Janeiro, mas como não existiam campanhas nacionais, a vacinação ocorria de forma pontual. Somente em 1977 é que a vacina contra paralisia infantil entra para o calendário nacional de imunização.
Com um ano e nove meses de vida, Maria de Fátima Alves de Oliveira foi diagnosticada com poliomielite, A temida doença a deixou com sequelas em uma das pernas e um dos braços. Ela recorda que seu pai chegou a construir um carrinho de madeira para ajudá-la a se locomover. Ela só voltou a andar com oito anos de idade, após fazer diversos tratamentos e usar botas por muito tempo.
Hoje, aos 69 anos, a aposentada lamenta que a oportunidade de ser vacinada surgiu depois de ter contraído a doença. Moradora do Rio de Janeiro, Maria de Fátima não abre mão do cuidado com a família. Ela sempre foi muito atenta à caderneta de vacinação da filha e repete a preocupação com o seu netinho, reforçando a importância de manter as vacinas em dia.
A historia de Maria de Fátima ganha especial atenção neste Dia Mundial de Combate à Poliomielite, em 24 de outubro. Autoridades sanitárias alertam que os índices baixos de cobertura vacinal nos últimos anos podem colocar em xeque uma realidade que vem desde 1987, quando foi registrado o último caso da doença no Estado do Rio. Isso porque a meta de 95% de imunização prevista pelo Programa Nacional de Imunização (PNI) não é atingida desde 2016.
“Uma geração com quase 40 anos de idade, que não presenciou os efeitos da paralisia infantil, corre risco de ser surpreendida pelo aparecimento de possíveis casos”, alerta a Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ). A pasta destaca a importância de a população aproveitar a Campanha Nacional de Multivacinação, até o dia 31 deste mês, para vacinar as crianças que não receberam o imunizante contra a doença.
A vacinação é a única forma de prevenção
A vacinação é a única forma eficaz de prevenir a poliomielite e a luta contra a pólio no Brasil deixou um dos maiores símbolos da saúde pública: o Zé Gotinha. Criado nos anos 1980 para personificar as campanhas de vacinação, o personagem se tornou ícone da confiança nas vacinas e símbolo de um país que, por décadas, foi referência mundial em imunização.
A vacina contra a poliomielite lançou o personagem ‘Zé Gotinha’, conhecido no Brasil e no mundo pela luta contra a doença. Com o apoio dessa figura simpática e representativa para o SUS, conseguimos vencer a pólio, mas precisamos manter as altas coberturas vacinais evitando o retorno dessa doença que é grave. Apesar de ainda estarmos longe dos 95% de cobertura necessários, a boa notícia é que temos ampliado os índices nos últimos anos. Vacinas salvam vidas”, ressaltou a secretária de Estado de Saúde, Claudia Mello.
A campanha oferece todas as vacinas previstas no calendário nacional. Um dos principais pontos da campanha é o resgate de crianças e adolescentes com doses atrasadas. No caso da pólio, o objetivo é contemplar esquemas vacinais de menores de 5 anos de idade com doses de Vacina Injetável contra a Poliomielite (VIP), que em 2024, substituiu a Vacina Oral da contra a Poliomielite (VOP), a famosa gotinha. A vacina deve ser administrada em um total de quatro doses: aos 2, 4 e 6 meses e uma dose de reforço aos 15 meses.
Cobertura vacinal em queda no Estado do Rio
‘Vacinação é a única forma de prevenção contra poliomielite’, diz profissional de saúde
Este ano, a cobertura vacinal da pólio nos menores de 1 ano de idade no Estado do Rio está em 71,86% e o reforço para quem tem um ano chegou a 70,09% em todo o estado, até 1º de agosto. Mas a queda vem sendo registrada há nove anos.
Temos trabalhado para ampliar a cobertura vacinal, não apenas contra a poliomielite, mas também contra outras doenças. Além da campanha de multivacinação, que está em curso, trabalhamos apoiando os municípios ao longo de todo o ano. Esse esforço vem trazendo bons resultados, mas precisamos do apoio de toda a sociedade”, afirmou a gerente de Imunização da SES-RJ, Keli Magno.
Até 2015, os indicadores para crianças de 1 ano superaram a meta de 95% (em 2014 ficou em 100,89% e no ano seguinte em 107,03%). Em 2016, começou a baixar: 89,93%; 2017: 88,76%; 2018: 87,48%; 2019: 73,62%; 2020: 56,84%; 2022: 58,89%. E a partir de 2023, apresentou elevação para 78,31% e em 2024 para 81,77%. Mas ainda abaixo da meta.
A dose de reforço para crianças de 15 meses repete o movimento de baixa cobertura, ficando em 64,52% em 2016; 77,20% em 2017; 67,55% em 2018; 60,18% em 2019; 47,55% em 2020; 45,86% em 2021; 49,23% em 2022; 63,52% em 2023; e 79,47% em 2024.
É importante estar vacinado e vigilante para evitar que a doença volte, pelo fato de ainda existir a circulação do vírus em outros países. Uma pessoa pode ter contato com o vírus em uma viagem ao exterior e por não estar vacinada, abre brecha para se infectar e contrair a doença, além de servir como fonte de infecção para novos casos aqui no Brasil. A vacinação é a única forma de prevenção contra poliomielite”, alerta Cristina Giordano, coordenadora de Vigilância Epidemiológica da SES-RJ.
Cenário da pólio no Brasil e no mundo
Vírus não circula no Brasil desde 1990, mas casos em outros países e cobertura vacinal em baixa representam riscos
A doença está controlada no Brasil há 37 anos e nas Américas desde 1994, quando países do continente americano receberam a certificação da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) de área livre da circulação do poliovírus. Mas ainda há registros da doença em países como Afeganistão e Paquistão, em algumas regiões da África e da Ásia.
O Brasil tem papel histórico na erradicação da pólio: graças a campanhas de vacinação em massa, o país registrou o último caso de poliomielite em 1989, segundo a Fiocruz. No entanto, a ameaça de volta da doença assombra o país. A Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou, recentemente, o Brasil como país com risco muito alto de retorno da doença. A cobertura vacinal da poliomielite no país vem apresentando resultados abaixo da meta de 95% desde 2016.
A vacina contra a pólio é a única forma de prevenir a doença e evitar suas graves sequelas. Todas as crianças menores de cinco anos devem ser vacinadas, conforme esquema de vacinação de rotina e na campanha nacional anual do Ministério da Saúde. Desde 2016, o esquema vacinal contra a poliomielite passou a ser de três doses da vacina injetável – aos 2, 4 e 6 meses – e duas doses de reforço com a vacina oral bivalente (gotinha).
Saiba mais sobre a poliomielite
Sintomas mais frequentes
Febre, mal-estar, dor de cabeça, dor de garganta e no corpo, vômitos, diarreia, prisão de ventre, espasmos, rigidez na nuca, meningite.
Principais sequelas
Problemas e dores nas articulações; dificuldade de locomoção; crescimento diferente das pernas, o que provoca escoliose; osteoporose; paralisia de uma das pernas; paralisia dos músculos da fala e da deglutição, dificuldade de falar; atrofia muscular; hipersensibilidade ao toque.
Tratamento
Por meio de fisioterapia e de exercícios que ajudam a desenvolver a força dos músculos afetados, além de ajudar na postura, melhorando a qualidade de vida. Pode ser indicado o uso de medicamentos para aliviar as dores musculares e das articulações.
Agenda Positiva
Dia Mundial da Pólio
Cristo Redentor é iluminado em apoio à erradicação da paralisia infantil
Símbolo do Brasil se une ao Rotary em campanha global que busca eliminar para sempre o vírus da poliomielite. Cibgresso também recebe iluminação especial
Na sexta-feira, dia 24 de outubro, das 18h30 às 19h30, o monumento ao Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, será iluminado em vermelho e amarelo para lembrar ao mundo que a poliomielite ainda não foi erradicada. O objetivo é alertar para a importância da vacinação, a fim de prevenir contra o vírus causador da paralisia infantil.
A ação, em parceria com o Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor, faz parte da campanha “Juntos contra a Pólio”, liderada pelo Rotary, que há quase 40 anos mobiliza recursos, voluntários e parcerias estratégicas para imunizar crianças e aproximar o planeta da vitória definitiva contra a doença.
A iluminação integra a mobilização nacional liderada por clubes do Rotary, Rotaract e Interact em todo o Brasil, em sintonia com iniciativas globais para marcar o Dia Mundial de Combate à Pólio, celebrado em 24 de outubro.
Além do Cristo Redentor, prédios públicos, arenas esportivas e pontos turísticos em diversas cidades receberão iluminação especial e atividades de conscientização. O Congresso Nacional foi iluminado de vermelho nesta segunda e terça-feira (dias 21 e 22), em apoio à Campanha Nacional de Imunização contra a Poliomielite.
O papel do Rotary para combater a pólio
O Dia Mundial de Combate à Pólio é um momento anual celebrado todo 24 de outubro, quando associados do Rotary, defensores da saúde pública e todos que desejam um mundo livre dessa doença se reúnem para reconhecer o progresso na luta contra a paralisia infantil e destacar as iniciativas que ainda é preciso tomar para erradicá-la de forma definitiva.
No continente americano, o último caso associado com o poliovírus selvagem, ocorreu em 1991, no Peru. Nosso continente foi o primeiro a receber da OMS, em 1994, o Certificado de Erradicação dos Poliovírus. Em 1999, foi registrado o último caso de poliovírus selvagem do tipo 2 no mundo.
No mundo todo, os associados do Rotary desenvolvem e implementam projetos comunitários sustentáveis para combater doenças, promover a paz, fornecer água limpa, apoiar a educação, ajudar mães e filhos, colaborar ao crescimento de economias locais e proteger o meio ambiente. Todos os anos, a Fundação Rotária distribui cerca de US$ 100 milhões em subsídios para financiar esse trabalho.
Por mais de 35 anos, o Rotary e seus parceiros lideraram o esforço para erradicar a poliomielite no mundo todo. Quando o Rotary e seus parceiros criaram a Iniciativa Global de Erradicação da Poliomielite em 1988, 125 países relataram um total de 350 mil casos de poliomielite. Desde então, os casos da doença foram reduzidos em 99,9%. Apenas dois países, Afeganistão e Paquistão, ainda registram casos de poliovírus selvagem.
Os associados do Rotary contribuíram com mais de US$ 2,9 bilhões – incluindo quase US$ 23 milhões levantados apenas por meio de membros da organização no Brasil para o programa Pólio Plus – e incontáveis horas de voluntariado para proteger mais de 3 bilhões de crianças em 122 países contra a poliomielite.
O Pólio Plus foi criado pelo Rotary International em 1985 com o objetivo de erradicar a paralisia infantil no mundo, por meio da arrecadação de fundos e da mobilização de voluntários para apoiar a imunização, vigilância e outras ações de saúde pública. O nome “Plus” (“Mais”) refere-se aos benefícios extras, como acesso à água potável e outros projetos de saúde comunitária, oferecidos além da vacinação para engajar e ganhar a confiança das populações locais.
O Rotary e seus parceiros estão aplicando as lições aprendidas no combate à poliomielite para apoiar outras áreas da saúde pública. A infraestrutura que ajudaram a construir para erradicar a poliomielite agora apoia outras áreas da saúde pública e é utilizada no tratamento e prevenção de doenças como hepatite, diabetes, malária, HIV/AIDS, câncer do colo do útero, na promoção de saúde mental e muito mais.