A empregada doméstica Maria dos Santos, de 63 anos, convive desde os 39 com a hipertensão. Por ser uma doença silenciosa, ela não sabia o que se passava até que, em 1992, teve que ser submetida a uma cirurgia de períneo. Ao ser internada constatou a pressão alta. Então, precisou esperar nove dias até que o problema fosse controlado para fazer a cirurgia e ainda permaneceu internada por mais 14 depois do procedimento.
“Sentia constantes dores na nuca e fortes pressões na cabeça. Sempre que sofria algum aborrecimento minha pressão subia muito e já fui internada diversas vezes por conta da doença. Em uma das vezes minha pressão chegou a 22”, contou Maria. Após descobrir a doença, ela passou a usar muito tempero para dar sabor à comida, pois não pode abusar do sal. Toma remédios todos os dias para pressão alta, um deles é um diurético que ajuda controlar a pressão arterial. Ainda não conseguiu aderir a exercícios físicos, por conta disso sua pressão, mesmo com os remédios se mantém em 15 por 8.
No Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial, celebrado em 26 de abril, a Sociedade Brasileira de Hipertensão alerta para um problema que mata 300 mil brasileiros anualmente. São 820 mortes por dia, 30 por hora ou uma a cada 2 minutos. Ainda segundo os dados, a doença deve atingir em torno de, no mínimo, 25% da população brasileira adulta, chegando a mais de 50% após os 60 anos, e está presente em 5% das crianças e adolescentes no Brasil. É responsável por 40% dos infartos, 80% dos derrames e 25% dos casos de insuficiência renal terminal.
O sub-diagnóstico é um dos principais fatores que levam ao agravamento da pressão arterial, pois quando não identificada precocemente, pode comprometer o organismo a ponto de levar ao óbito. Estima-se que existam mais de 30 milhões de hipertensos no Brasil, sendo que, segundo o Ministério da Saúde, apenas 10% desta população faz o controle adequado da doença. O Brasil tem cerca de 40 milhões de hipertensos, segundo dados do Ministério da Saúde. Apenas 20% dessa população sabe que sofrem da doença, 20% dos que sabem se tratam e só 20% dos que se tratam conquistam um equilíbrio no tratamento. Ou seja, em cada 100 pessoas hipertensas, apenas uma tem ciência da sua realidade e trata a doença com sucesso.
A hipertensão arterial sistêmica, popularmente conhecida como “pressão alta”, é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento da aterosclerose, doença que gera as principais causas de morte no mundo, o infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral. Existem dois tipos Hipertensão, a Primária ou Essencial que não se sabe a causa e surge na idade adulta decorrente de maus hábitos, e a Hipertensão Secundária, sendo a maior parte dessas congênita e pode aparecer na infância ou adolescência.
O problema acontece devido a elevação dos níveis de pressão sanguínea nas artérias. É considerada uma doença “silenciosa”, pois muitas vezes seus sintomas são confundidos com desconfortos corriqueiros. Geralmente, as manifestações mais comuns são: dor de cabeça, cansaço e/ou tonturas; em alguns casos é possível ocorrer o sangramento pelo nariz. A associação destes fatores contribui para a indicação do quadro hipertensivo – quando ultrapassa a média 12 por 8 (120 por 80 mmHg).
“O excesso do consumo de sal, o tabagismo, a falta de atividade física e a obesidade são as principais causas do surgimento da hipertensão arterial. “O tratamento da hipertensão é feito através de mudanças no estilo de vida e de remédios de uso contínuo. Hoje temos à nossa disposição um verdadeiro arsenal terapêutico para estabilizar a doença, por isso, vale afirmar que só se mantém hipertenso quem não quer se tratar”, explica o cardiologista Antonio Brasileiro, porta-voz da Pontual Farmacêutica.
Segundo ele, após descobrir a doença, é fundamental mudar hábitos para ajustar o quadro da doença, já que a colaboração do paciente no tratamento é essencial para estabilizar a hipertensão. Além do sal, pessoas hipertensas devem evitar tudo o que interfere no peso corporal, qualquer item alimentar que possa favorecer problemas cardiovasculares. Inserir frutas, verduras e legumes na rotina alimentar e evitar tudo o que é gorduroso.
Saiba mais sobre a doença
A doença é caracterizada pela alta pressão que o sangue exerce para se movimentar a partir das artérias do coração. Para uma pressão ser considerada normal, ela deve se manter em torno de 120/80 mmHg – ou 12 por 8. Dentre as causas da hipertensão, 90% se devem ao histórico familiar e 10% a patologias como alteração renal, arterial e endocrinológica. No entanto, além da idade de risco e da hereditariedade, outros fatores contribuem para a pressão alta: fumo, excesso de álcool, má alimentação (principalmente o excesso de sal nos alimentos), estresse, obesidade, diabetes e sedentarismo.
“Há alguns grupos que devem estar mais atentos a hipertensão, tanto em sua prevenção quanto controle, como as mulheres e as pessoas de raça negra. É recomendável que o adulto verifique sua pressão arterial com intervalo de 6 meses, principalmente se tiver histórico na família, com o objetivo de se realizar um diagnóstico precoce. O risco nas mulheres potencializa após a menopausa, quando perde a proteção do estrogênio, que é o principal hormônio fique ajuda a resguardar as artérias. Já o envelhecimento aumenta o risco em ambos os sexos”, declara a coordenadora do serviço de cardiologia do Hospital Oeste D’Or, Dra. Bárbara Abufaiad.
O aumento dos registros de pessoas com hipertensão arterial tem preocupado os órgãos de controle em saúde. Dados apontam que o número de pessoas diagnosticadas no Brasil cresceu 14,2% na última década. O alerta ainda é maior para as mulheres, que têm despontado nas ocorrências de hipertensão arterial. Vale ressaltar que a doença é uma das principais causas de AVC (acidente vascular cerebral) e infarto, no mundo, sendo que medidas simples podem contribuir com a prevenção e combate.
As doenças cardiovasculares já representam um terço de todas as causas de morte em mulheres. Além da alteração hormonal, a atuação da mulher no mercado de trabalho, muitas vezes fazendo dupla jornada (trabalho fora e afazerem domésticos), estresse e a dificuldade de adotar hábitos de vida saudáveis, vêm fazendo com que adquira hipertensão arterial em idades mais precoces.
A avaliação periódica visa a identificação de pessoas com um risco maior para doenças cardiovasculares como infarto do miocárdio e acidente vascular encefálico, através da identificação dos fatores de risco como a hipertensão, diabetes, dislipidemia, sobrepeso, sedentarismo, tabagismo e a história familiar. O tratamento está relacionado diretamente à fase do diagnóstico. Se a hipertensão arterial for identificada com níveis baixos, o tratamento geralmente não emprega medicamentos, e segue a orientação de mudanças na alimentação, como redução no consumo de sal; assim como a prática de atividades físicas e outras que contribuam para a redução do estresse. No entanto, caso em quadro elevado de hipertensão, a medicação é indicada respeitando o perfil de cada paciente.
Mesmo para os casos em que a pressão arterial se encontra estabilizada é indicado o uso contínuo da medicação, isto porque a hipertensão não tem cura, e sim controle. No entanto, há casos isolados em que a medicação é suspensa, resultado, geralmente, de uma mudança rígida dos hábitos alimentares e comportamentais do paciente.
Fique atento aos sinais
A maioria dos hipertensos não apresenta qualquer sintoma da doença. Sinais como dor de cabeça, dor na nuca, enjoos, tonturas, sangramento nasal, rubor facial e falta de ar podem estar associados à pressão alta, mas não são específicos dela. Por isso, é importante consultar um cardiologista periodicamente. Após o diagnóstico da doença, deve-se seguir à risca as recomendações do médico, não realizar a automedição e promover uma mudança drástica no estilo de vida. “Vale ressaltar que a mudança de hábitos é um dos principais fatores para o controle da hipertensão. Além disso, visitar seu médico uma vez por ano e seguir as orientações dele é fundamental”, afirma George Fernandes Maia, cardiologista do Seconci-SP.
8 maneiras para prevenir a hipertensão
1. Reduza o consumo de sal nos alimentos, assim como preparações gordurosas, carboidratos, gordura e sódio em excesso, além de manter hábitos saudáveis de alimentação.
2. Pratique regularmente exercícios físicos, pelo menos 20 minutos de caminhada diária;
3. Evite o consumo excessivo de álcool e, preferencialmente, não fume;
4. Faça visitas regulares ao cardiologista, principalmente se há histórico de hipertensão na família;
5. Minimize as situações de estresse, pois hábitos relaxantes melhoram a qualidade de vida;
6. Ingerir dois litros de água por dia;
7. Não fumar;
8. Monitorar e tratar outras doenças que possam causar a hipertensão, como o diabetes, doenças renais, doenças vasculares e doenças da tireoide, se existirem.
Outros órgãos também sofrem, além do coração
- · Olhos: a hipertensão pode gerar alterações visuais, levando até a cegueira;
- · Cérebro: é um dos fatores que ocasionam o acidente vascular encefálico isquêmico ou hemorrágico, também conhecido como derrame cerebral;
- · Rins: pode gerar alterações renais que podem evoluir para falência dos rins, e necessidade de realização de hemodiálise;
- · Doenças do coração, como infarto, insuficiência cardíaca (aumento do coração levando a falta de ar) e angina (dor no peito).
Bariátrica ajuda a controlar hipertensão
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) reforça que o tratamento cirúrgico da obesidade pode resultar na remissão da pressão alta em mais de 60% dos casos. “A hipertensão arterial é a elevação da pressão dos vasos sanguíneos e pode ser agravada por vários fatores, entre eles, a obesidade. No entanto, a cirurgia bariátrica tem se mostrado uma ferramenta eficaz no controle da hipertensão arterial. Isso porque, a obesidade está diretamente relacionada à ingestão inadequada de alimentos ricos em calorias, gorduras, sal e também está associada ao sedentarismo”, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Caetano Marchesini.
Em um recente estudo publicado pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar – entidade sem fins lucrativos que realiza pesquisas para subsidiar políticas públicas na área de saúde – foi comprovado que a cirurgia bariátrica é reduz e mantém uma perda de peso, superior a 15% e que pode chegar a 40% por mais dez anos, e também controla comorbidades associadas à obesidade, entre elas, ahipertensão. O Estudo do Instituto, realizado pelo Núcleo de Avaliação de Tecnologias da Saúde da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, concluiu que além do benefício da perda de peso, a cirurgia bariátrica reduz a mortalidade de obesos mórbidos devido a melhora das doenças associadas à obesidade. A remissão de casos de hipertensão arterial foi constatada em 61,7% dos pacientes submetidos a cirurgia bariátrica.
A cardiologista Rita Baratta explica que a obesidade é um fator de risco cardiovascular. “A idade e a genética são fatores de risco não modificáveis. Já o estilo de vida relacionado à obesidade é um fator de risco modificável”, conta a cardiologista. Segundo ela, a gordura aumenta os níveis de insulina no sangue e a retenção de sódio pelos rins, contribuindo para o desenvolvimento dahipertensão arterial.
Estudos mostram que a redução do peso corporal ocasiona redução da pressão arterial. Como exemplo, a cardiologista cita uma pesquisa recente, realizada na Suécia, e que acompanhou por oito anos 1.500 pacientes obesos. “No caso dos pacientes operados, quando eles atingiram uma redução de peso de 18% foi constatada a queda da pressão arterial. No caso dos pacientes obesos que não passaram pela cirurgia, apenas 20% deles conseguiram se manter magros só com exercícios físicos e dieta”, contou Rita Baratta.
Para ela, a cirurgia bariátrica para o tratamento da obesidade mórbida é de suma importância para reduzir fatores de risco cardiovasculares como a hipertensão arterial. “A cirurgia bariátrica trabalha com a redução do esforço no coração e, dessa forma, diminui os níveis de pressão. Com a perda de peso corporal, a prática de exercícios físicos e mudanças na dieta, o controle da hipertensão é feito mais facilmente”, reforça Rita Baratta.
Perda de peso reduz risco de hipertensão
A nutricionista Tamires Precybelovicz, integrante do núcleo de Saúde Alimentar da Comissão de Especialistas Associados (COESAS) da SBCBM, ressalta que a mudança comportamental, estilo de vida saudável e um plano alimentar equilibrado são as principais medidas para o controle da pressão arterial. “O padrão alimentar atual promove o aumento da pressão arterial pelo aumento do consumo de sódio presente em alimentos pré-preparados, juntamente com o aumento de gordura nesses alimentos, promovendo melhor palatabilidade e gerando a longo prazo, excesso de peso”, relata Tamires.
Ela explica, que para alguns pacientes é recomendado o padrão alimentar DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertenion), baseado no consumo de frutas, hortaliças, fibras, minerais e laticínios com baixo teor de gordura. Os benefícios dessa dieta estão relacionados com o alto consumo de potássio, magnésio e cálcio. “No entanto, para indivíduos com obesidade mórbida, a cirurgia bariátrica deve ser considerada, se mantido o acompanhamento a longo prazo”, finaliza Tamires.
Da Redação, com assessorias