O calendário marca dezembro e, com ele, surge um fenômeno que, embora não seja um diagnóstico clínico oficial, já faz parte do vocabulário de consultórios e conversas informais: a “dezembrite”. O termo define o mix de ansiedade, cansaço físico e sobrecarga emocional que costuma atingir o ápice nesta época.
Entre o trânsito caótico, o fechamento de metas no trabalho e a pressão social por uma felicidade de “comercial de TV”, muitos brasileiros chegam ao dia 31 no limite da exaustão. Segundo psicólogos, o período é gatilho para o chamado “burnout de fim de ano”. A sensação de encerramento de ciclo traz, inevitavelmente, uma retrospectiva forçada que nem sempre é gentil.
O peso da retrospectiva e a “ditadura da felicidade”
Para o psicólogo Richard Avila, mestre em Ciências da Saúde e fundador do Espaço Terapêutico Nosco, a dezembrite é o reflexo de um acúmulo de tensões. “Todo mundo está estressado, correndo para resolver pendências de um ano inteiro. O nível de ansiedade eleva-se pela soma de cobranças profissionais e encontros familiares que podem desencadear ainda mais tensão”, explica.
Essa pressão é amplificada pelo contraste entre a realidade individual e a expectativa social. Maia Neto, coordenador do curso de Psicologia da Unifametro, ressalta que a ideia do “espírito natalino” — onde a harmonia deve ser plena — pode gerar um forte sentimento de inadequação. “Nem todas as pessoas vivem esse contexto de bem-estar. Muitas se sentem tristes justamente por não estarem alinhadas ao que a sociedade divulga como o ‘correto’ para o período”, pontua.
Sintomas e o papel da mente negativa
Os sinais da dezembrite são variados e impactam diretamente a qualidade de vida:
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Insônia e cansaço extremo;
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Irritabilidade e impaciência no trânsito e em filas;
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Sentimento de fracasso por metas não atingidas;
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Angústia e sensação de vazio.
De acordo com Avila, o cérebro tende a ser “negativista” nesse balanço final, focando apenas no que faltou. “A autocobrança contribui para uma exigência emocional cada vez maior. É preciso olhar para os próximos passos com mais empatia e entender que a perfeição é inalcançável”, afirma.
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Estratégias práticas para enfrentar o período
A boa notícia é que pequenas mudanças de perspectiva e técnicas de atenção plena podem aliviar o fardo emocional. O psicólogo Vitor Friary, diretor do Centro de Mindfulness no Rio de Janeiro, sugere o uso da atenção plena para lidar com a ansiedade. “Exercícios simples de meditação e respiração diafragmática ajudam a aumentar a tolerância consigo mesmo e com os outros, reduzindo as pressões. O mindfulness ensina a acolher os sentimentos sem julgamento”, destaca.
Dicas dos especialistas para um fim de ano mais leve
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O “pote das vitórias”: Richard Avila sugere listar pequenas conquistas — como vencer uma crise de ansiedade ou ter feito uma caminhada — e guardá-las em um pote. Visualizar o volume de coisas boas ajuda o cérebro a sair do foco negativo.
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Pés no chão com as metas: Em vez de planejar correr uma maratona em 2026, planeje caminhadas de 15 minutos. “Estabeleça objetivos factíveis e organize-os em pequenos passos”, aconselha Maia Neto.
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Acolhimento emocional: Entenda que sua recuperação emocional não segue o calendário. Se você não está se sentindo festivo, acolha esse sentimento em vez de tentar compensar a perda com uma alegria forçada.
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Autoempatia: Fale para si mesmo as palavras de apoio que você diria a um amigo querido. O “extrato real” do seu ano inclui desafios que surgiram no meio do caminho e que não estavam no plano original, mas que você superou.
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Busque ajuda profissional: Se os sintomas de desânimo ou ansiedade forem paralisantes, a psicoterapia é a ferramenta mais eficaz para ressignificar esses ciclos e evitar que a dezembrite se transforme em algo mais grave.
Com Assessorias




