A escolha de uma dieta vegana ainda gera dúvidas e debates, principalmente quando se trata de crianças. Por se encontrarem em uma fase importante para o desenvolvimento físico e mental, muitas questões surgem em torno do tema: será que elas conseguirão manter esse estilo de vida? A dieta é realmente benéfica para a saúde? E, sobretudo, essa alimentação garantirá a energia e força necessárias?

Para contextualizar o assunto, é importante destacar que veganos são aqueles que não consomem produtos e/ou alimentos derivados de animais. Por isso, há quem ainda ache que crianças não devem seguir esse tipo de dieta, porém, especialistas afirmam que, logo após o desmame, já é possível fazer essa introdução alimentar com os pequenos.

Entretanto, é necessário um planejamento de acordo com as necessidades da idade e com a individualidade da criança. Se a dieta respeitar esses fatores e for realizada da maneira correta, a criança crescerá forte e saudável”, afirma Alice Coca, nutricionista do CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”.

Sociedade Vegetariana Brasileira se posiciona sobre o tema

Em recente posicionamento sobre o tema, a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) reitera que a alimentação vegana, se bem planejada, como deve ser qualquer outro padrão alimentar, e quando possível, com o acompanhamento de um nutricionista, pode suprir todas as necessidades nutricionais de crianças, desde a infância até a adolescência.

A entidade defende que sejam asseguradas que “todas as necessidades nutricionais de cada fase da infância sejam atendidas adequadamente” e que, independentemente do padrão alimentar, realizem as suplementações recomendadas pelas organizações de saúde, como a Sociedade de Pediatria Brasileira e Ministério da Saúde, além de avaliar a necessidade de vitamina B12 e vitamina D.

A SVB aponta ainda que diversas instituições internacionais afirmam que dietas vegetarianas, incluindo dietas veganas, são apropriadas para todas as etapas do ciclo de vida, incluindo gravidez, lactação, infância, adolescência, e para atletas. E cita estudos que mostram que dietas veganas podem fornecer uma nutrição adequada e equilibrada, proporcionando menores chances de obesidade e sobrepeso, redução significativa de doenças crônicas não transmissíveis, maior consumo de vegetais, frutas e verduras, menor ingestão de doces e menor ingestão de gordura total e saturada. (saiba mais abaixo)

Nutricionista traz os benefícios da dieta vegana para as crianças

Para atingir melhores resultados nutricionais, é necessário manter uma variedade de alimentos à disposição, além de ter um excelente monitoramento profissional a longo prazo. Outro ponto bastante importante é buscar entender a necessidade de suplementação, que pode mudar caso a caso.

A nutricionista enfatiza que, embora a dieta vegana seja rica e diversificada, é importante ressaltar que alguns nutrientes essenciais para o organismo humano são encontrados em maior quantidade, ou exclusivamente, em carnes. Esse é o caso da vitamina B12, que é de origem predominantemente animal.

Além dessa vitamina, devemos considerar que nove aminoácidos essenciais, aqueles que o corpo não produz e precisam ser obtidos através da alimentação, estão presentes em 100% da proteína do ovo e em 90% da proteína da carne. Alcançar a ingestão diária recomendada desses nutrientes durante a infância pode se tornar um desafio, exigindo também suplementação nesse sentido. O ferro é outro nutriente que frequentemente requer um cuidado para além da alimentação.”

Apesar disso, o veganismo pode oferecer uma série de benefícios para as crianças. Entre eles estão a redução do risco de doenças crônicas, um melhor controle do peso e a redução do consumo de alimentos ultraprocessados.

A dieta vegana também tende a ser rica em fibras, o que pode melhorar a saúde intestinal. Além disso, crianças que seguem esse movimento acabam desenvolvendo certa consciência ambiental, visto que a prática está diretamente ligada à sustentabilidade e ao respeito pela vida animal.

Lanche rápido e saudável, é possível?

Sim, totalmente! E para diversificar as opções de refeições e lanches veganos, existem alternativas deliciosas. “Algumas sugestões incluem sanduíche de tofu com um fio de azeite e orégano, feito com pão vegano, ou palitinhos de cenoura com húmus podem ser ótimas escolhas. Outros lanches incluem bolinhos de aveia e hambúrgueres à base de proteína texturizada de soja ou vegetais, acompanhados de talos e folhas verdes”, aponta a especialista.

Frutas frescas com iogurte de biomassa de banana verde também são opções saborosas e cheias de cor para o lanche da criançada. Quanto aos sucos naturais, é possível encontrar uma variedade de sabores! Beterraba com laranja e cenoura é uma das principais indicações da nutricionista.

Para substituir alimentos populares, como leite, chocolate, iogurte e cereais, algumas trocas podem ser realizadas. “O leite de vaca pode ser substituído por leites vegetais, como os de amêndoas, coco ou arroz; o chocolate tradicional pode ser trocado por opções de alfarroba, disponíveis em pó ou em gotas; e o iogurte pode ser substituído pelo “inhaminho”, um iogurte à base de inhame, ou ainda fazê-lo com biomassa de banana verde”, ressalta Alice.

Os famosos cereais industrializados podem dar lugar a aveia em flocos, quinoa ou chia, oferecendo ainda mais fibras e minerais. “De modo geral, incorporar pratos ricos em leguminosas, quinoa, tofu e proteína de soja na dieta da criança contribuirão para um consumo adequado de proteínas em diferentes horas do dia.”

Decisão consciente e em conjunto

Mesmo com os benefícios, antes de começar qualquer tipo de dieta restritiva, é essencial dialogar sobre o assunto e verificar se a criança está de acordo. Outro aspecto que faz toda a diferença é buscar proporcionar novas experiências alimentares, respeitando as preferências e o ritmo de adaptação da criança.

Aconselho que, antes de introduzir uma dieta vegana para os filhos, os pais adotem esse estilo de vida para si mesmos. Afinal, uma criança tende a seguir a alimentação familiar. Em outras palavras, se a família não seguir uma dieta vegana, será difícil para a criança adotá-la somente porque os pais assim desejam”, finaliza Alice.

O que dizem as autoridades sobre alimentação vegana na infância?

Essa prática alimentar é endossada por algumas organizações internacionais, tais como: American Heart Association, a Kids Health, da Nemours FoundationCollege of Family and Consumer Sciences, da Universidade da Georgia, a Academy of Nutrition and DieteticsDietitians of Canada, a Sociedade Italiana de Nutrição Humana, a American Academy of Pediatrics ea Canadian Pediatric Society como estratégia na prevenção e no tratamento de doenças crônicas.

No Brasil, o Ministério da Saúde, na Matriz para organização dos cuidados em relação à alimentação e nutrição na atenção básica, traz a seguinte recomendação: “Identificar, acolher e realizar o cuidado adequado e oportuno de indivíduos ou famílias que adotem outras práticas alimentares, por exemplo o vegetarianismo e veganismo”.

Já no Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 anos, o Ministério da Saúde coloca que a dieta vegetariana bem planejada pode ser seguida na infância, visto todos os beneficios que esse padrão alimentar pode proporcionar para a saúde dos indivíduos, inclusive, crianças. Neste contexto, a alimentação vegetariana na infância, pode estimular a melhora de hábitos alimentares e auxiliar na prevenção de doenças crônicas não transmissíveis.

A redução do consumo de alimentos de origem animal, como a carne e embutidos (presunto, mortadela, salame) é uma excelente ferramenta para isso, e está em harmonia com as diretrizes preconizadas pelo Ministério da Saúde, com os princípios do Guia Alimentar da População Brasileira (2014) e do Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 Anos (2019).

No parecer do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) a respeito alimentação vegetariana são feitos os seguintes esclarecimentos aos nutricionistas:

“Considerando o avanço do conhecimento científico sobre alimentação vegetariana, o crescente número de interessados por esse estilo de vida e a necessidade de informar o nutricionista e a sociedade sobre o tema, o CFN esclarece e orienta que:

É possível atingir o equilíbrio e as necessidades nutricionais individuais com uma alimentação ovolactovegetariana, lactovegetariana, ovovegetariana e vegetariana estrita em todos os ciclos da vida […]. “ 

Portanto, o respaldo do vegetarianismo por parte da ciência e de organizações internacionais e a incorporação das diretrizes do Ministério da Saúde brasileiro evidenciam um reconhecimento crescente da viabilidade e dos potenciais benefícios desse padrão alimentar. Sendo crucial que as famílias que optam por essa abordagem alimentar sejam não apenas respeitadas em suas escolhas, mas também apoiadas por meio de medidas que garantam o acesso a uma alimentação equilibrada e culturalmente diversificada, em diversos contextos sociais. Garantindo assim uma abordagem mais inclusiva e que promova saúde para as crianças.

Guia inédito para escolas e pais de filhos vegetarianos

Crianças vegetarianas e veganas na escola enfrentam desafios que vão além da lancheira. A busca por refeições saudáveis e inclusivas, alinhadas a uma dieta sem produtos de origem animal, exige planejamento e diálogo entre famílias e instituições de ensino. Foi pensando nisso que a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) lançou o guia “Criança Vegetariana na Escola: Alimentação saudável e inclusiva no ambiente escolar”, um material técnico, inédito e gratuito, desenvolvido em parceria com as nutricionistas Thaisa Navolar e Tatiana Consoli, e a médica Laura Ohana.

O guia traz conteúdos práticos e inspiradores para famílias e escolas:

  • Orientações técnicas sobre a alimentação vegetariana e vegana em todas as idades.
  • Receitas saborosas e fáceis para refeições e lanches escolares.
  • Dicas de como promover uma alimentação inclusiva no ambiente escolar.

Para Thaisa Navolar, mãe, vegana e diretora da área materno-infantil da SVB, o guia é mais do que um material técnico: é um convite ao acolhimento. “Lembro de uma mãe que me procurou no consultório, entusiasmada porque a escola adaptou o cardápio para seus filhos vegetarianos, de 2 e 5 anos, respeitando suas escolhas alimentares e culturais. É essa acolhida que queremos inspirar em todas as escolas.”

Além de ser uma ferramenta prática, o material reforça os benefícios da alimentação à base de plantas em todas as fases da vida. Estudos científicos comprovam que dietas vegetarianas bem planejadas são adequadas desde a infância e promovem benefícios à saúde, além de contribuírem significativamente para a redução do impacto ambiental.

Segundo a nutricionista Tatiana Consoli, “este guia é uma resposta direta aos inúmeros pedidos que recebemos de pais e mães em busca de informações seguras e práticas para incluir o vegetarianismo no dia a dia escolar. É um material único, que supre uma lacuna importante no Brasil.”

A médica Laura Ohana destaca a importância do material para escolas e profissionais de saúde. “A alimentação vegetariana é saudável e viável, mas exige planejamento e conhecimento. Este guia foi desenvolvido para oferecer tudo isso de forma acessível, auxiliando famílias, profissionais de saúde, professores e merendeiras.”

Além dos benefícios para a saúde, o guia reforça o impacto ambiental positivo da alimentação à base de plantas, tema cada vez mais relevante em um mundo em busca de sustentabilidade.

O material já está disponível gratuitamente no site da SVB (www.svb.org.br/lancheira) e promete ser uma ferramenta essencial para transformar o ambiente escolar em um espaço mais inclusivo e acolhedor para as famílias vegetarianas e veganas.

Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) é uma organização sem fins lucrativos que promove, através de campanhas e programas, uma alimentação mais ética, saudável e sustentável.

Com Assessorias

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