Por unanimidade, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou os pedidos de uso emergencial das vacinas da Sinovac e da AstraZeneca contra a Covid-19. Apesar da aprovação, somente a CoronaVac, produzida pela chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo, estará disponível para aplicação em um primeiro momento, uma vez que houve atraso no cronograma de importação e produção da vacina da AstraZeneca e da Universidade de Oxford, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que era a principal aposta do governo federal.

O Ministério da Saúde já havia requisitado ao Instituto Butantan todo o estoque de 6 milhões de doses de CoronaVac importadas da China, já contando com a aprovação do uso emergencial. Já a vacina CoviShield, produzida pela Astrazeneca e Oxford, em parceria com a Fiocruz, ainda dependem da liberação por parte do Instituto Serum, na Índia – o voo que decolaria do Brasil na sexta-feira para trazer 2 milhões de doses foi adiado, sendo a aeronave desviada para levar oxigênio para Manaus, que sofre severamente com o agravamento da pandemia após a identificação de uma nova variante do novo coronavírus.

Em longa sessão que durou mais de cinco horas, acompanhada de forma online pelos canais oficiais do governo e por sites de notícias, em um momento de alta nas infecções e mortes por covid-19 no Brasil e de caos no sistema de saúde em cidades como Manaus, a relatora Meiruze Freitas votou a favor das solicitações em reunião extraordinária do órgão regulador neste domingo, após recomendação favorável da área técnica da agência a ambos os imunizantes. O voto condiciona, entretanto, à assinatura de termos de compromisso por parte dos fabricantes e parceiros.

Os demais diretores – Romison Rodrigues Mota, Alex Campos e Cristiane Jordão – bem como o diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, acompanharam o voto da relatoria. “A vacinação no enfrentamento à Covid-19 pode ajudar a evitar a proliferação da doença, bem como seus graves danos à saúde”, disse a relatora em seu voto, ressaltando, o caráter temporário, excepcional e emergencial da autorização até que as vacinas obtenham um registro definitivo.

O governo federal não estabeleceu uma data oficial para o início da vacinação no Brasil, mas o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, tem dito que a previsão é começar a imunização na quarta-feira (20/1), simultaneamente em todo o país – um projeto colocado em dúvida por especialistas em imunização. Em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) havia planejado iniciar a vacinação no Estado em 25 de janeiro, mas afirmou que poderia antecipar a campanha de imunização a depender do aval da Anvisa.

Primeira vacinada no Brasil é enfermeira negra

Logo após a aprovação oficial neste domingo, o Governo de São Paulo realizou uma cerimônia em que a enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos e que atua no Hospital Emílio Ribas, foi a primeira vacinada contra Covid-19 no Brasil. Mônica é negra, diabética e obesa e atua na linha de frente no combate à pandemia e atua na UTI da unidade que hoje possui 60 leitos e desde abril mantém mais de 90% de taxa de ocupação. Ela foi uma das voluntárias nos testes clínicos da CoronaVac no Brasil. A escolha para ser a primeira a receber vacina indica que ela recebeu um placebo no estudo.

Mônica Calazans, de 54 anos, enfermeira negra, diabética e obesa, é primeira a ser vacinada no Brasil (Foto: Divulgação)

Enquanto diversos países do mundo já estão vacinando contra a Covid desde o final do ano passado, o Brasil ainda não aprovou nenhuma vacina para aplicação na população, apesar de ser um dos locais mais afetados pela pandemia, com quase 210 mil mortos. O Brasil registrou no sábado mais de 1 mil mortes pelo vírus pelo quinto dia seguido.

Antes dos votos dos diretores, a área técnica da Anvisa recomendou a aprovação do uso emergencial de ambas as vacinas, condicionado ao monitoramento de incertezas observadas pelo órgão regulador na análise dos estudos dos imunizantes.

O uso emergencial de vacinas foi regulamentado pela Anvisa em dezembro do ano passado para que vacinas para Covid-19 possam ter o seu uso autorizado antes mesmo que todos os estudo e dados sejam finalizados. O uso é considerado experimental e por isso tem valor temporário, até que a vacina receba o registro definitivo no país.

Antes dos votos dos diretores, a área técnica da Anvisa recomendou a aprovação do uso emergencial de ambas as vacinas, condicionado ao monitoramento de incertezas observadas pelo órgão regulador na análise dos estudos dos imunizantes.

Em seu discurso, o diretor-presidente da Anvisa afirmou que o órgão analisou em tempo recorde – apenas 9 dias – dois protocolos, um feito inédito no mundo. Após acompanhar o voto da relatora, na íntegra, ele pediu à população que se vacine assim que estiver ao alcance. Mas até a imunização, todos devem manter o distanciamento social, higienizar as mãos e usar máscara.

Conheça os diretores da Anvisa

A decisão da Anvisa sobre a aprovação emergencial das vacinas é tomada com base nos votos dos cinco diretores da agência reguladora, por maioria simples. Todos os cinco são indicados por Jair Bolsonaro, que sempre foi contra a vacinação e, ultimamente, passou a defender até mesmo a Coronavac, na disputa com Dória. Veja abaixo os perfis dos diretores, de acordo com a Reuters.

Antônio Barra Torres foi confirmado como diretor-presidente da Anvisa em dezembro e é contra-almirante da Marinha. Na forças armadas, dirigiu o Centro de Perícias Médicas e o Centro Médico Assistencial. Amigo pessoal do presidente, o militar é formado em Medicina e foi diagnosticado com coronavírus semanas depois de aparecer sem máscara entre manifestantes ao lado de Bolsonaro.

Cristiane Rose Jourdan Gomes é endocrinologista, trabalhou como gestora de planos de saúde da Amil por 13 anos e dirigiu o Hospital Federal de Bonsucesso, no Rio de Janeiro, entre agosto de 2019 e agosto de 2020. Já defendeu publicamente a hidroxicloroquina, medicamento cujo uso no tratamento do coronavírus não é recomendado por autoridades internacionais como a Organização Mundial da Saúde.

Alex Machado Campos é formado em Direito e construiu sua carreira em cargos técnicos na Câmara dos Deputados. O principal posto antes da nomeação por Jair Bolsonaro à diretoria da Anvisa foi o de chefe de gabinete do ex-ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta. Foi indicado ao cargo pelo Centrão – grupo informal de parlamentares que costuma buscar proximidade com o governo em troca de cargos e outras benesses.

Romison Rodrigues Mota é graduado em Ciências Econômicas e especialista em Vigilância Sanitária. Ingressou na Anvisa por concurso público em 2005, onde foi Gerente de Orçamento e Finanças por cinco anos. Tornou-se Gerente Geral de Gestão Administrativa e Financeira em 2015 e foi nomeado, no ano passado, Diretor Substituto da entidade.

Meiruze Sousa Freitas é formada em Farmácia e entrou na Anvisa por concurso público em 2007, como especialista em Regulação e Vigilância Sanitária na Gerência-Geral de Medicamentos. Passou por diversos cargos, atuando como adjunta de diretor, gerente geral de Toxicologia e gerente da área de medicamentos, até ser confirmada como diretora em novembro de 2020.

Da Redação, com agências Reuters e BBC Brasil

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