O Dia Mundial do Coração (29 de setembro) acende o alerta vermelho em tempos de covid-19: a cada um minuto e meio no Brasil, uma pessoa morre de complicações causadas pelas doenças cardiovasculares. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), são mais de 1.100 mortes por dia – em torno de 46 por hora, ou uma morte a cada 1,5 minuto (90 segundos).
Dados apresentados pelo Cardiômetro, ferramenta da SBC que exibe em tempo real o número de óbitos por doenças do coração no país, revelam que em 2021, até o momento, o Brasil já registra mais de 270 mil mortes. As estatísticas se baseiam nas Declarações de Óbito (DO) registradas nos cartórios,  em uma parceria com a Arpen-Brasil (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Brasil) – veja em detalhes abaixo.
A campanha Setembro Vermelho é destinada à conscientização, prevenção e tratamento das doenças cardiovasculares. Em 2021, a importância dos cuidados com o coração para pessoas diagnosticadas com Covid-19 segue em alta e os efeitos da doença nesses pacientes ainda geram muitas dúvidas.
O médico cardiologista Gustavo Gouvêa, coordenador da Unidade Coronariana da Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro,  esclarece algumas das principais questões relacionadas ao assunto.

• Covid-19 pode afetar, além do pulmão, o coração? 

Segundo o cardiologista, essa é uma dúvida frequente no consultório. Ele explica que sim, a Covid-19 pode afetar diretamente o coração, causando uma inflamação chamada miocardite. Isso pode gerar uma arritmia e até manifestações parecidas com um infarto.

Estudos de um grupo de cardiologistas do Hospital San Raffaele, em Milão/ Itália, referência para complicações cardiovasculares da Covid-19, avaliaram 138 pacientes internados pela doença. Nesse grupo, 16,7% desenvolveram arritmia e 7,2% apresentaram lesão cardíaca aguda.

Nesses casos, a orientação é que os pacientes com Covid-19 que tenham sintomas de doenças cardiovasculares, como dor no peito, palpitações e desmaios, procurem uma emergência ou um cardiologista para fazer exames específicos, como eletrocardiograma, ecocardiograma e dosagem de enzimas.

Depois da fase aguda da doença, é preciso seguir com o acompanhamento médico para verificar se a inflamação foi revertida e se houve alguma sequela”, alerta.

• Covid-19 pode causar trombose? 

De acordo com Gouvêa, se o paciente apresentar sintomas como cansaço, dor no peito e falta de ar, é preciso procurar um médico para investigar se há algo além disso, já que existe sim a possibilidade de trombose.

“O paciente pode desenvolver trombose em qualquer veia do corpo, sendo mais comum nas pernas. Esse coágulo pode se deslocar, ir para o pulmão e, como consequência, desenvolver um quadro de embolia pulmonar. Também pode ocorrer trombose nas artérias, como nas coronárias ou nas artérias do cérebro, causando infarto ou AVC. Esse é um medo dos pacientes e é algo que devemos observar com cuidado. Pessoas mais sintomáticas devem procurar um hospital para fazer essa pesquisa”, aponta.

• Quem já teve trombose pode se vacinar? 

Sim, pode e deve. Gouvêa afirma que trombose é uma complicação relativamente frequente para pacientes com Covid-19, portanto a vacina é um fator importante para reduzir as chances de contaminação.

De acordo com o Ministério da Saúde, a incidência de trombose relacionada à vacina nos países europeus, onde os casos foram descritos, é de 1 a 8 casos por milhão de indivíduos vacinados (menos de 0,008%). Agora, se esse mesmo milhão pegasse Covid-19 no Brasil, teríamos 2 278 mortes a mais.

Além da vacina para Covid-19, estudo publicado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia aponta a importância da atualização das demais vacinas, incluindo a pneumocócica, devido ao risco aumentado de infecção bacteriana secundária pela Covid-19, e a vacina contra influenza”, destaca o médico.

• Como fica o coração pós-covid? 

O médico explica que 85% dos casos dos pacientes com Covid-19 são leves, de pessoas tratadas em casa e sem gravidade. Para esse grupo, após o período de 10 a 14 dias, é possível retomar a rotina, inclusive as atividades físicas. Para os 15% que tiveram um quadro clínico mais grave, com hospitalização, é preciso fazer uma avaliação clínica ou cardiológica para ter certeza que não há nenhuma sequela, especialmente para voltar a fazer exercício.

Entre as sequelas mais comuns para os pacientes sintomáticos estão fraqueza muscular e cansaço prolongado após a alta, por isso a importância de uma avaliação detalhada das funções pulmonar e cardíaca para verificar se a pessoa ficou com algum problema de saúde, como inflamação, trombose, anemia ou alteração hematológica.

“Uma parcela desses pacientes vai precisar passar por uma reabilitação cardíaca para voltar a praticar exercícios, com supervisão. Muitos perderam massa muscular, pois ficaram dias acamados. Para retomar as atividades, devem passar por um programa específico para recuperar, lentamente, sua saúde e vigor físico”, completa.

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As causas mais conhecidas

Hipertensão arterial, doença coronariana (doença isquêmica do coração), doença cerebrovascular, doença arterial periférica; doença cardíaca reumática e cardiopatia congênita são as causas de problemas cardíacos mais conhecidas.

Entre os principais fatores de risco para a ocorrência dessas doenças estão: diabetes, hipertensão, tabagismo, estresse, obesidade, doenças da tireóide, colesterol alto e histórico familiar.

“Pessoas com sobrepeso/obesas, com dieta inadequada, tabagistas e sedentárias estão mais propensas a desenvolver algum problema cardíaco”, alerta Pedro Rubens Pereira Junior, cardiologista e coordenador médico do PS, enfermaria e UTI do HSCG.

Dentre os principais sintomas de que há algo errado com o coração está dor no peito, náuseas, vômitos, sudorese e falta de ar. “Caso sinta alguns desses sintomas é fundamental procurar um cardiologista o mais prontamente possível para que receba o tratamento adequado ao diagnóstico”, orienta.

Dicas para ter um coração saudável

A boa notícia é que a prevenção e o tratamento adequado dos fatores de risco e das doenças cardiovasculares podem reverter essa grave situação. Segundo o especialista, para se ter uma saúde cardíaca em dia é fundamental tomar alguns cuidados:

• Praticar exercícios físicos com regularidade;

• Manter uma alimentação equilibrada com frutas, verduras, legumes e evitando o excesso de sal, açúcar, frituras e gorduras saturadas;

• Manter o controle do colesterol, diabetes e pressão arterial;

• Não fumar e moderar o uso de álcool;

“Vale lembrar que para um coração saudável o controle das comorbidades acompanhado por um especialista é essencial, sempre levando em consideração que dieta, exercício e emagrecimento ajudam nesse gerenciamento” , finaliza o cardiologista.

 

Cardiômetro

2.019 2.020 Variação 2021 – até 31/08
Mortes TOTAIS por doenças cardiovasculares 273.579 292.100 6,77% 211.197
Mortes filtradas apenas por AVC 101.779 102.613 0,82% 48.393
Mortes filtradas apenas por infarto 99.896 95.385 -4,52% 61.917
Mortes filtradas apenas  – Inespecíficas cardio 71.904 94.102 30,87% 73.515
Mortes em domicílio 60.969 78.535 28,81% 69.372

*Os dados estão sujeitos a eventuais retardos no recebimento.

Com Assessorias

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