Em meio à iminência de uma terceira onda da pandemia do novo coronavírus, com as taxas de ocupação de leitos de UTI para Covid-19 batendo em mais de 80% em boa parte do país, como alertou esta semana a Fiocruz, começa neste domingo (13) a Copa América 2021. Cercada de muita polêmica nas redes sociais, a competição foi apelidada de ‘Cova’ América por críticos de Jair Bolsonaro, acusado de fomentar a disseminação do coronavírus ao aceitar o convite da Conmebol que outros países que lidam com a pandemia de forma mais responsável rejeitaram.
A estreia acontece com o duelo entre Brasil e Venezuela, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília. Treze jogadores venezuelanos testaram positivo para a Covid-19, e as regras do campeonato mudaram para permitir que um número ilimitado de jogadores possa ser substituído em campo. Também haverá jogos nos estados do Rio de Janeiro, Goiás e Mato Grosso.
“Copa América no Brasil. Gol contra importar um problema que não é nosso. Devemos querer ser campeões da Copa da Vacinação em Massa”, disse Antonio Carlos Costa, presidente do Rio de Paz, ONG de direitos humanos que já promoveu alguns protestos na Praia de Copacabana contra as mortes por Covid no país.
A competição deveria ter sido realizada no ano passado, mas devido ao agravamento da pandemia de Covid-19 na América do Sul, foi adiada para este ano. O local do campeonato também mudou. Colômbia e Argentina desistiram de receber as delegações dos 10 países participantes, diante dos protestos da população, mas o Brasil – leia-se Jair Bolsonaro – aceitou.
Para Mérces Nunes, advogada especializada em Direito Médico, a notícia não causaria impacto direto nas medidas de combate ao coronavírus, mas pode contribuir para reduzir a efetividade das medidas porque, de fato, a população pode acreditar que tudo está bem no país. “A realização de eventos presenciais pode trazer mais problemas porque a presença de público nos jogos pode contribuir muito para disseminar mais ainda o vírus e suas outras variantes”, explica ela.
Em tese, de acordo com a advogada, é possível questionar legalmente a decisão do Brasil de sediar a competição. “Eventual ação pode ser proposta por partidos políticos, Ministério Público, entidades com competência para defender interesse coletivo. O Judiciário poderá proibir ou não o evento”, explicou ela.
STF permite realização dos jogos
Dito e feito. O assunto foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), em meio a protestos de governadores, senadores e deputados que se manifestaram contrários à realização dos jogos neste momento da pandemia. Na CPI da Covid-19 no Senado Federal, houve um apelo para que os jogadores da Seleção Brasileira não aceitassem entrar em campo, mas após algumas manifestações contrárias, eles acabaram cedendo.
Nesta quinta (10), o STF rejeitou as ações do PT, PSDB e Confederação dos Metalúrgicos que pediam a suspensão do campeonato no país. Com isso, foi autorizada a realização dos jogos, 10 dias após o presidente anunciar que o país sediaria os jogos. Um dos principais adversários de Bolsonaro, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), chegou a declarar que aceitaria receber partidas da Copa América caso fossem acatadas as medidas preventivas estabelecidas no estado. Mas, após consultar seu comitê científico, concluiu que seria uma “má sinalização” realizar partidas no estado. “A prioridade é conter a pandemia”, disse Doria.
Aliado de Bolsonaro, governador do RJ diz aprova
No Rio de Janeiro, o assunto também dividiu opiniões. Aliado fiel de Bolsonaro, o governador do Rio, Claudio Castro, foi um dos primeiros a se manifestar a favor. Alegou que já havia outros campeonatos de futebol acontecendo, também sem torcida. E ainda disse que o estado está preparado para uma “quarta onda” da Covid.
Já há um decreto que fala dos jogos de futebol. Se a fronteira do Brasil está aberta e entram mais de mil pessoas por dia é uma incoerência não ter jogo aqui. Em qualquer campeonato, não só a Copa América, mas o Brasileiro, Libertadores e Copa do Brasil, quem segue os protocolos já está apto a jogar”, disse o governador.
Ainda segundo ele, não teve nenhuma autorização específica para a Copa América. “O que o governo do estado e a prefeitura entenderam é que como já há um decreto e as fronteiras do Brasil não estão fechadas não teria porque a gente bloquear a entrada e não ter jogo. Seria na verdade uma proibição extra e não uma autorização extra”. completou.
Logo no dia 1º, no entanto, assim que Bolsonaro anunciou a realização dos jogos e a escolha dos estados, o Governo do RJ divulgava nota afirmando que jogos de futebol, sem público, já estavam acontecendo no estado – inclusive competições sul-americanas, como a Copa Libertadores da América.
O texto dizia ainda que “a entrada e saída de estrangeiros e o funcionamento da rede hoteleira também estão autorizadas pelas autoridades sanitárias, desde que cumpridos todos os protocolos”. E concluía: “Sendo assim, se forem seguidos os mesmos protocolos sanitários das competições que já vêm acontecendo no estado, o Governo não vê problemas em ser uma das sedes da Copa América”.
‘Se a situação agravar, o decreto vai mudar, diz Paes
Já o prefeito do Rio, Eduardo Paes, chegou a afirmar que considerava “inadequado” o momento atual da pandemia no país para que seja realizada a Copa América. No entanto, ressaltou que não se pode criticar a competição, uma vez que outros torneios, como a Libertadores e o Campeonato Brasileiro, estão em andamento.
Nós não pedimos Copa América. A Prefeitura do Rio não tem absolutamente nada a ver com a decisão de realizar jogos da Copa América no Brasil. Se perguntarem minha opinião, acho que é meio inoportuno neste momento um grande campeonato desses. Agora, também eu não vou fazer uma coisa só contra a Copa América. Está tendo jogos da Libertadores e do Brasileirão em todos os estádios de futebol sem torcida”, afirmou.
O prefeito lembrou do atual decreto estabelecido, válido até segunda-feira, dia 14, que permite a realização de partidas de futebol no Rio, desde que não haja torcida nas arquibancadas. “Não vai ter ‘convescote’. Sabe aquela coisa de trazer patrocinadores e amigos do poder? Isso não está permitido. O que está permitido é colocar 22 jogadores em campo sem torcida. Eu não sei nem quando é o jogo da Copa América aqui no Rio, mas, se até lá a situação se agravar e o decreto mudar, vai mudar e acabou”, disse.
Castro diz que Rio está preparado para quarta onda
Já o governador afirmou no último dia 5 que o estado já vem se estruturando para uma possível “quarta onda de Covid”. Segundo Castro, o Governo do Estado não desmobilizou leitos, além de ter feito estoques de kit intubação e determinado a aquisição de respiradores.
A gente já tá se preparando sim, fazendo a manutenção dos leitos abertos. Entre a primeira e a segunda onda, a gente teve uma desmobilização grande de leitos, que a gente já não deixou acontecer da segunda para terceira onda e agora também mantemos os leitos abertos. A gente entende que com essa proteção e analisando os dados dia a dia como a gente está a gente vai conseguir, caso venha uma quarta onda, a gente vai ter capacidade de entrentá-la“, afirmou Castro.
O governador disse a experiência vivenciada pelo governo nas três primeiras ondas da doença fez com que o estado preparasse leitos e fizesse um estoque de kit intubação. Castro também afirma que mandou que se adquirisse respiradores “no preço e no tempo certo”.
NOTA DA EDITORA – Que rolem a bola. A conferir a nova tragédia liberada pelo genocida. Oremos!
Com Agências (atualizada em 12/6/21, às 23h)