Depois da cloroquina, a Dexametasona, um medicamento corticosteroide usado no tratamento de diversas doenças, entre as quais reumatismo, várias doenças da pele e alergias, é a nova esperança para vencer a Covid-19. A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou na terça-feira (16) que o medicamento é um avanço científico na luta contra a pandemia. O corticoide se mostrou eficaz na redução de mortalidade em 33% dos pacientes com Covid-19 em ventilação mecânica e 20% em pacientes que não precisam ser entubados, apontaram pesquisadores da Universidade Oxford, no Reino Unido.

A Sociedade Brasileira de Infectologia divulgou uma nota comemorando a descoberta, destacando tratar-se de um “dia histórico no tratamento da Covid-19”. A nota também reforça a importância do estudo e eficácia do medicamento e aponta as medidas e condições em que o medicamento deve ser empregado no tratamento de pacientes internados com a doença causada pelo novo coronavírus.

A notícia trouxe esperança, mas é preciso esclarecer desde cedo: automedicar-se é perigoso. A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP) alerta que o uso da dexametasona deve ser feito apenas mediante prescrição e acompanhamento médico.

A autoadministração deste medicamento, assim como em outras situações de automedicação, pode ser acompanhada de graves efeitos adversos e riscos a vida, particularmente em pacientes dos grupos de risco da Covid-19, como os indivíduos com Diabetes Mellitus, hipertensão arterial e doenças cardíacas”, adverte  Sbem-SP em nota.

Ainda segundo a entidade, os dados também demonstraram que a dexametasona não se mostrou eficaz em reduzir a mortalidade em pacientes que não necessitaram de terapia com oxigênio. “Portanto, não há qualquer indicação para uso preventivo ou ambulatorial da dexametasona em pessoas assintomáticas ou com quadros leves da Covid-19″, ressalta, ao lembrar que o estudo ainda deve passar por revisão antes de ser publicado.

Ao todo, 153 remédios estão sendo testados ao redor do mundo

Levantamento feito nas principais bases de dados sobre ensaios clínicos do mundo revela que 153 fármacos estão sendo testados em 1.765 estudos com pacientes que contraíram Covid-19. O número revela a dimensão do esforço científico global em curso para combater a doença, que conta ainda com outras frentes, como a compreensão dos mecanismos moleculares da infecção, o desenvolvimento de vacinas e a geração de dados epidemiológicos sobre a pandemia, por exemplo.

Uma análise cuidadosa dos 1.765 estudos em andamento revelou algumas surpresas e curiosidades. Entre as 153 substâncias químicas registradas nos testes clínicos há antivirais, antiparasitários e medicamentos desenvolvidos para diferentes condições”, diz o responsável pelo levantamento, Adriano D. Andricopulo, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP e diretor executivo da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp).

Pela metodologia conhecida como reposicionamento de fármacos, são testadas moléculas já aprovadas para outras doenças ou que estão em fase avançada de testes clínicos. Por isso, entre as 153 moléculas que estão sendo avaliadas para a COVID-19, há uma grande diversidade de classes terapêuticas. Os antivirais aparecem na liderança, com 26 candidatos. Outros 18 são medicamentos anticâncer, 14 imunossupressores, 13 anti-hipertensivos, 12 antiparasitários e 12 anti-inflamatórios.

Entre os outros 58 candidatos estão antibióticos diversos, antiulcerosos, anticoagulantes, antidepressivos, antipsicóticos, vasodilatadores, antidiabéticos, corticosteroides e redutores de colesterol. Um dos mais promissores, até agora, é o antiviral remdesivir, desenvolvido originalmente para combater o vírus ebola. O medicamento, no entanto, tem a desvantagem de só poder ser administrado na forma injetável. Por isso, duas outras moléculas têm se destacado como alternativas superiores a ele.

A EIDD-2801 ataca a mesma enzima viral que o remdesivir, mas pode ser administrada por via oral, em comprimidos. Além disso, os testes realizados até agora mostram que ela pode ser mais eficaz contra as formas mutantes do vírus, evitando a criação de resistência ao medicamento. Outra molécula semelhante e mais simples, a EIDD-1931, atrapalha o processo de transcrição do material genético do vírus, levando à interrupção da replicação.

O pesquisador ressalta, porém, que não há vacina nem medicamento específico aprovado para a COVID-19 e que, por isso, o levantamento acende um sinal de alerta. “Ainda estamos distantes de alcançar um tratamento com 100% de eficácia e é pouco provável que isso ocorra no curto prazo. E a pouca eficácia dos medicamentos em investigação clínica sugere que o tratamento da Covid-19 deva ser feito com uma combinação de fármacos, de acordo com a avaliação do quadro e das condições de cada paciente”, diz.

Foram analisados dados das quatro principais bases on-line de estudos clínicos do mundo: Clinical Trials, mantida pelos National Institutes of Health (NIH) dos Estados Unidos (1.001 registros); EU Clinical Trials Register, da União Europeia (51 registros); ISRCTN, que segue diretrizes da Plataforma Internacional de Registro de Ensaios Clínicos (ICTRP), da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas ICMJE (39 registros), e Chinese Clinical Trial Registry, da China (674 registros). Estudos brasileiros e de outros continentes são registrados em algumas dessas bases.

Andricopulo é pesquisador e coordenador de transferência de tecnologia do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar), um CEPID apoiado pela Fapesp no IFSC-USP. O centro busca atualmente potenciais antivirais para o tratamento de Covid-19 entre compostos sintéticos e produtos naturais da biodiversidade brasileira, além de realizar estudos voltados ao reposicionamento de fármacos já existentes (leia mais em: agencia.fapesp.br/33270/) .

Nota da Sociedade de Infectologia

“Temos o primeiro tratamento farmacológico para COVID-19 que mostrou impacto em reduzir a mortalidade! Finalmente temos uma “boa nova”! Como temos insistido desde o início da pandemia de COVID-19, os estudos clínicos RANDOMIZADOS e COM GRUPO CONTROLE é que devem nortear nossa conduta de “como tratar COVID-19”.

O estudo RECOVERY da Universidade de Oxford acaba de publicar os resultados preliminares de estudo randomizado com grupo controle que comparou dexametasona x grupo controle que demonstrou que a dose de 6mg de dexametasona por via oral ou por via endovenosa 1x/dia por 10 dias que demonstrou: 1) redução de mortalidade (em 28 dias) de 1/3 (33,3%) nos pacientes com Covid-19 em ventilação mecânica (VM); 2) redução de mortalidade (em 28 dias) de 1/5 (20%) nos pacientes necessitando de oxigênio e que não estão em VM; 3) não houve diferença nos pacientes que não necessitam de oxigênio.

Conclusão prática: todo paciente com COVID-19 em ventilação mecânica e os que necessitam de oxigênio fora da UTI devem receber dexametasona via oral ou endovenosa 6mg 1x/dia por 10 dias. Medicação barata e de acesso universal. 

Dia histórico no tratamento da COVID-19!

Nota da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia

“A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) vem acompanhando atentamente todas as pesquisas e notícias relacionadas à evolução da pandemia pelo novo coronavírus. Dentre as publicações recentes sobre o tema, os resultados do Estudo Recovery (Randomised Evaluation of COVID-19 Therapy), chamam a atenção.

Os responsáveis pelo estudo publicaram uma breve nota com os principais resultados, ressaltando que o artigo com os dados completos está em fase final de redação. O estudo foi conduzido em 175 centros no Reino Unido e envolveu mais de 11.500 pacientes. Foi observado que a dexametasona na dose de 6,0 mg/dia utilizada por 10 dias demonstrou uma redução de mortalidade da ordem de 20 a 35% em pacientes hospitalizados por Covid-19 que necessitaram de terapia com oxigênio.

Os dados também demonstraram que a mesma terapia com dexametasona não se mostrou eficaz em reduzir a mortalidade em pacientes que não necessitaram de terapia com oxigênio. Portanto, não há qualquer indicação para uso preventivo ou ambulatorial da dexametasona em pessoas assintomáticas ou com quadros leves da Covid-19.

Deve-se enfatizar que o referido trabalho até o momento não foi submetido à revisão e, consequentemente, ainda não foi publicado. Porém, em função de sua ampla repercussão nos meios de comunicação, a SBEM presta os seguintes esclarecimentos sobre a medicação estudada.

dexametasona é um medicamento do grupo dos glicocorticoides. Sua aplicação clínica é frequente, principalmente pelos efeitos anti-inflamatórios. Porém, além destes, sua ação glicocorticoide pode provocar vários efeitos colaterais, sendo os mais comuns a elevação da glicose do sangue (“diabetes”), elevação da pressão arterial, ganho de peso, edema (“inchaço”) e, com uso prolongado, osteoporose e insuficiência adrenal.

A SBEM alerta que o uso da dexametasona deve ser feito apenas mediante prescrição e acompanhamento médico pois, a depender do tempo de uso, também a sua retirada deve ser feita sob supervisão. Essa medida tem como finalidade permitir a adequada aplicação da medicação, considerando seus potenciais benefícios, mas não desprezando seus potenciais riscos. A autoadministração deste medicamento, assim como em outras situações de automedicação, pode ser acompanhada de graves efeitos adversos e riscos a vida, particularmente em pacientes dos grupos de risco da Covid-19, como os indivíduos com Diabetes Mellitus, hipertensão arterial e doenças cardíacas.

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