Foi na 22ª semana de gestação, durante o ultrassom morfológico do pré-natal, que a advogada Giseli Davoglio, de 31 anos, descobriu que seu bebê tinha uma malformação no coração, após um ecocardiografia fetal, o exame de ultrassom do coração ainda na gestação.

Primeiro filho de Giseli, em sua segunda tentativa, o pequeno Lucas tinha hipoplasia das cavidades esquerdas, um problema grave em que o lado esquerdo do coração é pouco desenvolvido. O bebê precisaria ser operado logo após o nascimento, correndo risco de morte, caso não tivesse tratamento correto no tempo certo. Foi assim que, com apenas seis dias de vida, ele passou pela cirurgia Norwood.

“Programamos todos os procedimentos no mesmo hospital, para não perdermos tempo. Os médicos nos deram rapidamente a solução e o acompanhamento constante, então ficamos tranquilos. Nos explicaram os preparativos para o pré e o pós-operatório e tivemos todas as informações necessárias”, conta Giseli.

Lucas passou um mês na UTI cardíaca da Perinatal. Passado o susto, Giseli agora planeja receber os tios e padrinhos do Lucas para uma festa de boas vindas, assim que sair do hospital. Ansiosos, eles sempre pedem vídeos e imagens do bebê para a mãe. “A gente mora aqui no Rio, mas viemos do Sul do país, então a família está toda esperando ele chegar em casa para pegar o avião e vir nos visitar para conhecê-lo”, conta.

Muitos casos não são diagnosticados

Lucas é o que se pode chamar de um bebê de sorte. A maioria dos pais não tem acesso às mesmas informações quando o seu bebê tem uma cardiopatia congênita, mesmo sendo essas malformações mais comuns entre recém-nascidos e a segunda maior causa de morte em crianças de até um ano, respondendo por 39,4% dos óbitos, de acordo com especialistas.

Estudos apontam que um a cada cem bebês nasce com o problema, porém, mais de 30% deles receberão alta das maternidades sem diagnóstico. “Muitos deles chegarão ao hospital já em estado grave de saúde e correm risco de morrer ou terem várias lesões e sequelas”, explica Sandra Pereira, gerente do Serviço de Cirurgia Cardíaca Pediátrica da Perinatal.

Segundo ela, malformação cardíaca é tão comum quanto a Síndrome de Down, mas pouco se fala a respeito. “Inclusive, crianças com a síndrome têm 30% mais chance de apresentarem doença do coração”, explica a médica.

Teste do coraçãozinho

O teste do coraçãozinho, obrigatório em todos os hospitais do Rio de Janeiro e no SUS, serve para identificar alguma alteração.  A doença mais comum é a Comunicação interventricular (CIV), em que há uma comunicação unindo o ventrículo esquerdo com ventrículo direito, o que leva à necessidade de cirurgia.

Dados do Ministério da Saúde apontam que 25% dos casos de cardiopatia congênita são graves e necessitam de intervenção logo no primeiro ano de vida. “Não se opera nem 40% das crianças que precisam, principalmente em regiões do interior e no nordeste”, afirma a médica.

Não há forma de prevenção para cardiopatia congênita, mas, quanto mais rápido o diagnóstico, maiores as chances de o bebê sobreviver. Em muitos casos é possível descobrir ainda no feto, na 18ª semana de gravidez, através do ecofetal, se o bebê terá ou não complicações.

Caso o bebê já tenha ido para casa, é possível perceber alguns sintomas que necessitam de análise médica. “A mãe pode verificar se a criança fica muito cansada, respira com dificuldade, fica pálida, sua, cansa nas mamadas, fica roxinha…”, orienta a médica da Perinatal.

Cirurgia de alta complexidade

A cirurgia Norwood, necessária para corrigir a hipoplasia de cavidades esquerdas – malformação identificada em Lucas – é realizada em poucos hospitais do Brasil. No Estado do Rio, apenas a Perinatal realiza operações dessa complexidade. Nesse procedimento, os bebês são cuidados por até 11 profissionais e acompanhados por mais cinco no pós-operatório. A cirurgia pode durar de 5h a 12h, segundo Jefferson Magalhães, o cirurgião- chefe da equipe.

A maternidade é a instituição que mais realiza cirurgias no Rio de Janeiro. Por mês, são realizados, em média, 25 procedimentos, totalizando 300 ao ano. As operações tendem a ser mais difíceis em bebês menores. Mais de 70% dos pacientes do hospital são muito pequenos. “Até hoje, já realizamos mais de 2.500 operações cardíacas, com sobrevida de 94%, comparável aos melhores centros internacionais”, afirma Jefferson.

Para tratar casos como os de Giseli, que teve assistência desde o diagnóstico até a correção da malformação, o hospital inaugurou o Centro de Cirurgia Fetal e Neonatal (CCFN), que integra expertises em todas essas especialidades. O objetivo é oferecer um time multidisciplinar de profissionais para dar assistência completa ao paciente desde a barriga da mãe e discutir o melhor método para tratar o paciente, antecipar-se aos problemas e, dessa forma, evitando complicações e informando aos familiares.

“Quando a gestante transita de um lugar para o outro, diversos fatores interferem na evolução da vida desses bebês, desde o estresse da mãe até a dificuldade de comunicação entre os diferentes especialistas envolvidos no processo”, explica Manoel de Carvalho, um dos diretores e fundadores da Perinatal.

Fonte: Perinatal (colaboração de Jessica Moreira)

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