Condenado na última quinta-feira (11) a 27 anos e três meses de prisão como líder da organização criminosa que tramou um golpe contra a democracia brasileira, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou ao Hospital DF Star, em Brasília, neste domingo (14), desta vez para realizar a retirada cirúrgica de lesões na pele.
Segundo o pedido médico, Bolsonaro deveria tratar lesões de “nevo melanocítico do tronco” e de “neoplasia de comportamento incerto ou desconhecido da pele” – ou seja, suspeita de câncer de pele. Já o boletim médico divulgado pelo hospital não falou expressamente da doença.
O procedimento cirúrgico foi realizado sob anestesia local e sedação, e transcorreu sem intercorrências. Foi realizada a exerése marginal de oito lesões de pele, localizadas no tronco e no membro superior direito”, diz o boletim.
Além disso, segundo o hospital, será realizada uma biópsia das lesões da pele, retiradas neste domingo, e uma avaliação do tratamento complementar para Bolsonaro.
Segundo exames laboratoriais, o ex-presidente foi diagnosticado com anemia e recebeu reposição de ferro por via endovenosa. Já uma tomografia do tórax mostrou “imagem residual de pneumonia recente por broncoaspiração“.
Ainda de acordo com o boletim médico, ele deve “seguir com o tratamento da hipertensão arterial, do refluxo gastro-esofágico e medidas preventivas de broncoaspiração“.
Atestado médico em 48 anos ao STF
Especialistas acreditam que o novo boletim médico deverá ser usado como argumento para a defesa solicitar a manutenção da prisão domiciliar de Bolsonaro – ele foi condenado a 24 anos no regime fechado.
Aos 70 anos, Bolsonaro está em prisão domiciliar desde 4 de agosto e só deve ser transferido para uma penitenciária ou prisão militar após esgotados os recursos no STF, o que deve ocorrer em dezembro deste ano.
A ida de Bolsonaro para o hospital – que fica a cerca de 20 minutos da residência do ex-presidente – foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Após o procedimento, o ex-presidente deverá apresentar um atestado de saúde em até 48 horas ao STF.
O ex-presidente chegou por volta de 8h deste domingo (14) à unidade de saúde particular, onde permaneceu até por volta das 14h30. Um pequeno, mas barulhento grupo de manifestantes se concentrou na entrada para saudar o seu ‘mito’ e pedir novamente anistia – o que a Suprema Corte já descartou.
Suspeita de câncer de pele vem desde 2019, mas não é grave
A suspeita de câncer de pele não é novidade. Em 2019, Bolsonaro também retirou lesões no rosto e na orelha para investigar a possibilidade da doença, que é considerada o câncer mais comum e frequente no Brasil, na grande maioria das vezes, totalmente curável.
Na época, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) informou que seria uma reavaliação de um atendimento feito meses antes. O presidente divulgou dias depois que havia sido descartada a suspeita de câncer de pele. Na época, uma das razões citadas para a suspeita da doença foi sua pele clara.
Tem um possível câncer de pele. Tenho pele clara, pesquei muito na minha vida, fiz muita atividade. Então, a possibilidade existe”, afirmou Bolsonaro, dando a entender que pode estar com a doença por ter se exposto muito ao sol ao longo da vida.
Na ocasião, o então presidente revelou estar investigando a doença após ser questionado por jornalistas sobre um curativo que tinha na orelha, depois de passar por um exame no Hospital da Força Área Brasileira. Na ocasião, o cirurgião Antônio Luiz Macedo, do Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, que acompanhava a saúde de Bolsonaro, afirmou que a causa das marcas é a desproteção.
As manchas não indicam nada sério. Pelo contrário. Ele está com a saúde perfeita e vem fazendo o acompanhamento médico regular. Caso ele passe a cuidar melhor da pele, utilizando regularmente o protetor solar e hidratantes, as manchas vão sumir”, disse o especialista, à epoca.
O médico explicou que é comum que pessoas com pele clara e sensível e que fiquem expostas ao sol apresentem manchas vermelhas na pele. “É resultado do que chamamos de vasodilatação, quando ocorre o alargamento dos vasos sanguíneos da superfície da pele devido, nesse caso, ao forte calor em que a pessoa fica submetida”.
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Ida autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes
É a segunda vez que, autorizado pelo STF, Bolsonaro deixa sua residência, em um bairro nobre de Brasília, para acompanhamento médico. O ex-mandatário chegou escoltado por um comboio da Polícia Penal, que permaneceu na unidade até a saída dele.
A decisão do ministro Alexandre de Moraes previa que o ex-presidente permanecesse na unidade de saúde apenas pelo tempo necessário ao atendimento médico e retornasse em seguida à sua residência, localizada no Lago Sul.
Defiro o deslocamento de Jair Messias Bolsonaro, mediante escolta policial a ser realizada pela Polícia Penal do Distrito Federal, para que o requerente possa realizar o procedimento médico requerido”, decidiu o ministro.
‘Querem matar Jair Bolsonaro’, protesta seu filho
Durante a ida ao hospital, Bolsonaro estava acompanhado por dois de seus cinco filhos – os vereadores Carlos Bolsonaro (PL do Rio) e Jair Renan (PL em Balneário Camboriú (SC). Carlos divulgou em suas redes sociais um protesto contra o que considerou ser um cerco policial e midiático em torno da figura de seu pai.
Estou com meu pai e presencio a continuidade do maior circo armado da história do Brasil. Um comboio com mais de 20 homens armados de fuzis ostensivamente acompanhados de mais de 10 batedores, reduzindo a velocidade bem abaixo da permitida na via, apenas para promover a humilhação de um homem honesto”, protestou.
O vereador questionou o fato de, já no hospital, homens fardados e armados vigiarem um homem com 70 a nos de idade, como se ele pudesse fugir pela janela do prédio. “Fica claro: o objetivo é fragilizá-lo , expô-lo e ofendê-lo, em nome da tal ‘missão dada, missão cumprida’ – até mesmo durante uma cirurgia! Isso é um método de abate!”.
Para o filho ‘zero dois’, o cerco é uma forma de debilitar ainda mais a saúde do pai. “No fundo, o que não conseguiram em 2018, tentam agora, a qualquer custo, concluir – não há como não se indignar! Querem matar Jair Bolsonaro de um jeito ou de outro!”, escreveu o vereador.
Prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica
No dia 4 de agosto, Moraes decretou a prisão domiciliar do ex-presidente e restringiu visitas à casa de Bolsonaro, que também é monitorado por tornozeleira eletrônica. A decisão foi tomada após o ministro entender que Bolsonaro usou redes sociais de seus filhos para burlar a proibição de acessar as redes, inclusive por intermédio de terceiros.
Atualmente, o ex-presidente precisa pedir autorização para receber visitas. Além disso, todos os carros que entram ou saem da residência do presidente precisam ser revistados pela Polícia Penal do Distrito Federal – que monitora porta da casa de Bolsonaro, sem uniforme e sem armas à mostra, por decisão de Moraes.
As medidas cautelares foram determinadas no inquérito no qual o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, é investigado pela sua atuação junto ao governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para promover medidas de retaliação contra o governo brasileiro e ministros do Supremo.
Em março deste ano, Eduardo pediu licença do mandato parlamentar e foi morar nos Estados Unidos, sob a alegação de perseguição política. Nesse processo, o ex-presidente é investigado por mandar recursos, via Pix, para bancar a estadia de seu filho no exterior.
Condenação por trama golpista
Na última quinta-feira (11), a Primeira Turma do STF condenou Jair Bolsonaro a 27 anos e 3 meses de prisão por participação em uma trama golpista. Foi a primeira vez na história do país que um ex-presidente recebeu pena por golpe de Estado.
A condenação ainda cabe recurso, mas, pela pena fixada, o cumprimento inicial deverá ser em regime fechado. Por quatro votos a um, os ministros entenderam que Bolsonaro cometeu cinco crimes:
- golpe de Estado;
- tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito;
- organização criminosa armada;
- dano qualificado contra patrimônio da União; e
- deterioração de patrimônio tombado.
Com informações da Agência Brasil, Veja e G1






