Apenas pela glicemia de jejum é dificil dizer sobre chance de diabetes. Mas por ela ser nova, é bom reavaliar estilo de vida quanto à atividade física e dieta”, recomendou a endocrinologista Juliana Garcia Dias.
Um dado que chama a atenção é o alto índice de crianças e adolescentes que estão se descobrindo diabéticos. “Embora esta doença seja largamente diagnosticada em adultos, sua frequência tem aumentado de modo significativo na faixa pediátrica desde o fim do século 20, sendo o diabetes tipo 2 responsável por cerca de um terço dos casos de diabetes em crianças e adolescentes”, alerta a endocrinologista Patrícia Peixoto.
Membro da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), da Abeso (Associação Brasileira para Estudos da Obesidade) e da Endocrine Society, Patricia explica que a doença em crianças é semelhante à do adulto, com destaque para a resistência à insulina e para o risco elevado associado à obesidade.
De instalação lenta e insidiosa, a diabetes tipo 2 é mais comum em pacientes com sobrepeso ou obesidade, com sinais de resistência à insulina e forte história familiar de diabetes tipo 2. Hábitos de vida na família que levam à obesidade podem estar presentes, bem como história familiar de doenças cardiovasculares e síndrome metabólica.
Quando investigar diabetes em uma criança?
Pelos atuais consensos de endocrinologia, isso deve acontecer quando temos um jovem com sobrepeso e que tenha dois dos fatores:
– História familiar de diabetes tipo 2 em parentes de primeiro ou segundo grau.
– Sinais de resistência a insulina ou condições associadas a ela: acantose nigricans, hipertensão arterial, colesterol elevado e síndrome de ovários policísticos.
Fatores de risco para o diabetes juvenil
Sedentarismo
Faixa de idade dos 12-16 anos, quando se intensifica a resistência à insulina devido ao desenvolvimento puberal
Crianças com baixo peso ao nascer ou que tenham nascido com mais de quatro quilos
Filhos de mães com diabetes gestacional ou diabetes tipo 2
Crianças que não receberam aleitamento materno
Uso de antipsicóticos, antidepressivos e lítio
Avaliação deve começar aos 10 anos
Para investigar o problema, recomenda-se fazer uma avaliação inicial aos dez anos ou no momento da puberdade, caso ela ocorre mais cedo. “Vale ainda repetir essa avaliação a cada 2 anos e começar a investigação com a glicemia de jejum no sangue. Se há suspeita forte mas o resultado é normal (< 100 mg/dL), um teste de tolerância a glicose deve ser considerado”, alerta a endocrinologista.
Segundo ela, estes exames devem ser avaliados pelo médico endocrinologista e, se for feito o diagnóstico, outros serão necessários, para ajudar a excluir que seja diabetes tipo 1. “Também é preciso avaliar níveis de colesterol após se obter controle da glicose com o tratamento, além de avaliar se já há alterações renais e outras complicações”, explica Dra. Patrícia.
Os alvos de tratamento em crianças e adolescentes são um pouco diferentes dos de adultos. “É sempre importante tratar também o sobrepeso ou obesidade que pode estar presente”, acrescenta.
Envolvimento da família é fundamental
Segundo a especialista, o envolvimento da família no tratamento é ainda mais importante. “A educação em diabetes e mudanças de estilo de vida são prioridade. O tratamento medicamentoso é mais restrito, pois somente alguns têm estudos de segurança para este grupo”, destaca.
Patrícia lembra que, embora ainda não se saiba tanto sobre como evolui o diabetes tipo 2 em crianças, a experiência acumulada no tratamento dos adultos é importante para se evitar as complicações para estes pacientes.
Tem chamado a atenção o risco aumentado de doença cardiovascular nesta faixa etária, quando eles chegam à idade de adulto jovem. Isso sugere que o diabetes tipo 2 de instalação precoce pode ter um comportamento mais agressivo para o coração e vasos sanguíneos”, afirma.
O TODAY(Treatment Options for Type 2 Diabetes in Adolescents and Youth), um estudo que acompanhou um grupo de jovens com diabetes tipo 2, com objetivo de comparar eficácia de tratamentos, mostrou altas taxas de complicações e doenças associadas, como hipertensão arterial, dislipidemia, retinopatia e problemas renais, já no nos primeiros meses após o diagnóstico.
Isso reforça que nesta faixa etária o diabetes possa evoluir de modo mais acelerado e que medidas de prevenção e diagnóstico precoce se fazem necessários, para proteger essas crianças do surgimento de problemas mais graves, principalmente renais e cardiovasculares ao atingirem a terceira ou quarta décadas de vida”, destaca a endocrinologista.
Pré-diabetes: quando o risco é iminente
Hoje o diabetes atinge cerca de 415 milhões de pessoas em todo o mundo e continua a aumentar em todos os países, estimando-se que em 2040 haja um aumento para 642 milhões de pessoas atingidas pela doença.
Muitos acham que o pré–diabetes é uma pré doença e por isso não tem tanta importância. Ledo Engano”, alerta ela que é membro titular da Sbem e da Endocrine Society.
A médica explica que valores um pouco acima do normal da glicose são capazes de deixar uma memória metabólica ruim, o que, ao longo dos anos, aumenta a chance de problema de coração, nos olhos e nos rins. “Isso mostra que quem tem pré–diabetes tem risco maior de mortalidade por problema cardiovascular do que a população em geral”, destaca a endocrinologista.
“Costumo dizer que esse aumento de valores no exame é o corpo mostrando o sinal amarelo para o seu estilo de vida. Iniciar atividade física e rever a alimentação é essencial”, alerta a especialista.
Ainda segundo ele, é possível controlar esse aumento de glicose sem medicamentos, mas em alguns casos pode ser necessário o uso de medicamentos para controle da glicose assim como para perda de peso”, finaliza a médica.
Pré–diabetes é assintomático: como definir?
Por não apresentar sintomas, a fase que pode anteceder a diabetes exige atenção especial. Dra Juliana indica ser necessário realizar exames de sangue para definir:
Glicemia de jejum entre 100-125mg/dl
Hemoglobina Glicosilada entre 5,7- 6,5 mmol/L
Teste tolerância oral a glicose 140-199mg/dl
Perfil de quem tem mais risco de desenvolver a doença
Pessoas com histórico de diabetes na família ou na gestação
Obesos ou pessoas com excesso de peso
Quem tem gordura no fígado
Sedentários
Pessoas acima dos 40 anos
Da Redação, com Assessorias