O leite materno é considerado o melhor alimento nutricional para o recém-nascido e tem um importante papel na redução da mortalidade infantil. Ele contém propriedades importantes para o crescimento e desenvolvimento do bebê, fortalecendo a sua imunidade contra diversas doenças infecciosas e alérgicas.

Segundo a rBLH Brasil – Rede Global de Bancos de Leite Humanos, evidências científicas indicam que bebês prematuros e/ou com patologias, que se alimentam de leite humano no período de privação da amamentação, possuem mais chances de recuperação e de terem uma vida mais saudável.

Além de ser o alimento mais completo para os bebês nos primeiros seis meses de vida, o leite humano traz benefícios para as mães, uma vez que a prática do aleitamento ajuda na proteção contra o câncer de mama e na recuperação mais rápida do útero após parto.

Autoridades em saúde recomendam manter o aleitamento materno até os dois anos de idade ou mais, oferecendo só leite do peito até o sexto mês. O aumento das taxas de amamentação exclusiva, até o sexto mês de idade, salvam seis milhões de vidas ao ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Em 34 anos, o Ministério da Saúde registrou aumento de quase 13 vezes no índice de amamentação exclusiva em crianças menores de 4 meses e aproximadamente 16 vezes em crianças menores de seis meses.

Considerado um país modelo no aleitamento materno, o Brasil tem mais da metade (53%) das crianças amamentadas ao longo do primeiro ano de vida. Já entre os menores de seis meses o índice é de 45,7% e os menores de quatro meses, 60%. Os dados são do último Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani), do Ministério da Saúde.

Apesar dos avanços, o Brasil ainda está longe de atingir as metas estabelecidas pela OMS até 2030, que são 70% de amamentação na primeira hora de vida, 70% exclusivamente nos primeiros seis meses, 80% no primeiro ano e 60% aos dois anos. Atualmente, o Brasil registra apenas 62,4% de amamentação na primeira hora de vida; 45,8% de aleitamento exclusivo nos primeiros seis meses; 52,1% aos 12 meses; e 35,5% aos 24 meses de vida.

Falta rede de apoio à amamentação

Infelizmente a taxa de aleitamento materno no Brasil é muito baixa. Em média, são 50 dias de amamentação exclusiva, e a OMS recomenda 6 meses. Entre as causas apontadas para tal desempenho, está a falta de uma rede apoio à amamentação, como explica a pediatra e neonatologista Patricia Terrivel, coordenadora do serviço de pediatria do Hospital IGESP.

“Existe pouco apoio à amamentação, além do que, a mulher às vezes passa por intercorrências, e nem todas possuem acesso a profissionais capacitados, como pediatras pró-amamentação e consultoras de amamentação, ou mesmo o apoio familiar”, esclarece a médica.

Os números, no entanto, vêm aumentando graças a inúmeras campanhas de esclarecimento sobre a importância do aleitamento materno para bebês e também para as mães. Uma pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), divulgada em novembro de 2021, mostra que as taxas de aleitamento materno vêm crescendo no Brasil.

O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (EnaniI-2019), encomendado pelo Ministério da Saúde, aponta que metade das crianças brasileiras é amamentada por mais de 1 ano e 4 meses e que, no país, quase todas as crianças foram amamentadas alguma vez (96,2%), sendo que dois em cada três bebês são amamentados ainda na primeira hora de vida (62,4%).

Acompanhamento profissional é fundamental para evitar interrupção

Gabriela de Sena Duarte (foto), mãe do Samuel, teve o bebê na maternidade do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG-Unirio e recebeu, da pediatra Lilian Campos, as orientações sobre a importância de amamentar. Apesar de ser seu segundo filho, são dez anos de diferença entre os dois, por isso algumas orientações tiveram de ser reforçadas. “O atendimento foi ótimo, desde o parto até agora está correndo tudo bem, o Hospital é maravilhoso”, comenta a paciente.

Segundo o ginecologista Antônio Leonardo Rosa, coordenador do Banco de Leite do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (HU-UFMA), esse acompanhamento precisa ser feito pelos profissionais a fim de evitar a interrupção do aleitamento. “A orientação e a avaliação para todas as mulheres e, especialmente, o acompanhamento para aquelas com dificuldades de diversas causas, pode diminuir significativamente o abandono precoce da amamentação”, ressalta.

Esse abandono pode ser causado por diferentes fatores, como a falta de conhecimentos sobre a importância do leite para o bebê, a interrupção por conta do retorno ao trabalho, dor ao amamentar ou, até mesmo, crenças que podem levar a mãe ao uso de mamadeiras desde muito cedo. No entanto, o uso de mamadeiras pode causar riscos ao bebê e à mãe.

“O estímulo para a produção do leite é a sucção. Quando o bebê mama menos, o organismo da mulher entende que ele precisa produzir menos e vai diminuindo a produção do leite. No peito, o bebê precisa fazer uma força maior para poder mamar e isso é muito importante para o desenvolvimento da musculatura da face, dos dentes, para a fala, para a introdução alimentar posteriormente. O uso de chupetas e de mamadeiras pode atrapalhar esse processo”, orienta a pediatra Lilian Campos.

Incentivo deve começar já na sala de parto

Mas por que esse alimento é considerado “padrão ouro” para crianças de até dois anos? Especialistas da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) explicam os benefícios da amamentação.

Segundo a pediatra Lilian Campos, do HUGG-Unirio, é fundamental incentivar que o aleitamento seja iniciado logo após o nascimento, ainda na sala de parto. O leite que é produzido nos primeiros dias, o colostro, pode ser considerado como a “primeira vacina do bebê”.

“O colostro tem uma quantidade maior de anticorpos e fatores de proteção. Existem vários trabalhos mostrando a importância do aleitamento materno para a prevenção de diversas doenças e, principalmente, doenças infecciosas e alergias”, explica a médica.

Criada em 1992, pela Aliança Mundial de Ação Pró-Amamentação, a Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM) que vai de 1 a 7 de agosto, ressalta a relevância do tema. No Brasil o oitavo mês do ano é dedicado à conscientização da importância do aleitamento materno para o pleno desenvolvimento das crianças. O Agosto Dourado simboliza a luta pelo incentivo à amamentação – a cor dourada está relacionada ao padrão ouro de qualidade do leite materno.

“O leite materno tem propriedades únicas, pois é fundamental e o bastante para nutrir e hidratar os bebês até os seis meses de idade e para protegê-los de doenças, através da transferência de anticorpos que estão em sua composição”, afirma o médico Antônio Leonardo Pereira Rosa.

O aleitamento também traz benefícios para a mãe, pois é um importante fator de diminuição de hemorragias no puerpério, na prevenção de cânceres e como fator que contribui para a perda de peso no pós-parto, destaca o médico Antônio Leonardo. Ele afirma, ainda, que o ato de amamentar cria um vínculo de afeto, carinho e segurança entre a mãe e seu bebê.

Existe uma técnica para amamentar?

O ginecologista e obstetra do HU-UFMA, Antônio Leonardo, explica que a amamentação é um ato instintivo e natural. Segundo ele, existem condições gerais e posicionamentos do corpo da mãe e do bebê que facilitam o contato da boca da criança com o mamilo e a aréola, facilitando a pega e a sucção de forma eficaz, o que, também, evita ferimentos nos mamilos e o esvaziamento mais fácil das mamas.

“O principal no processo de amamentação é ter muita tranquilidade e a orientação profissional gabaritada desde a primeira mamada. Este profissional deve estar habilitado a observar a mãe e a orientar nas melhores práticas para a amamentação mais tranquila e com posturas que produzam conforto e tranquilidade para que tanto o bebê quanto a mãe tenham um momento de relaxamento e dedicação unicamente à amamentação”, conclui Antônio Leonardo.

Mães que não produzem leite: o que fazer?

As mães que não produzem leite precisam buscar a orientação de um especialista. “É essencial manter a calma e buscar apoio do pediatra e de uma consultora de amamentação, caso todas as tentativas sejam falhas, existem fórmulas infantis no mercado para suprir a demanda do bebê”, afirma Luisa.

Esse foi o caso da advogada Marcela Pastuch Fava Borges, mãe de uma bebê de 38 dias. Ela conta que nos primeiros cinco dias teve muita dificuldade para amamentar e precisou do auxílio de uma especialista.

“Não foi fácil para mim, não acertei a pega correta e minha bebê chorava de fome, o que me deixava muito nervosa. Pedi ajuda para uma consultora de amamentação e as coisas começaram a melhorar, iniciamos uma linda conexão entre mãe e filha, ela ganhou peso, começou a dormir mais e chorar menos. Amamentar é cansativo e dolorido, mas saber que eu sou responsável pela saúde, alimento e crescimento dela não tem preço”.

Já a educadora física Débora de Araujo Zenoni, mãe de um bebê de 1 ano e 5 meses, conta que tinha receio de não conseguir amamentar devido a uma cirurgia que fez antes da gestação. “Eu sempre quis muito fazer o aleitamento e tive muito leite, não enfrentei desafios, sempre foi muito tranquilo e criei uma linda conexão entre mãe e filho, considero muito importante para o bebê por ser uma fonte de nutrientes e é um momento muito especial”, ressalta.

amamentação exige o envolvimento da sociedade e de toda uma rede de apoio para que ocorra de forma adequada. “É importante salientar que a responsabilidade da manutenção da amamentação não é só da mãe, mas também dos companheiros, cuidadores, familiares, comunidade, empregadores, colegas de trabalho, instituições de ensino infantil, profissionais de saúde e do Estado”, ressalta Sarina.

Sobre a Ebserh – Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.

‘Meu leite é fraco’ ou ‘meu bebê não quis mais’

No Brasil o engajamento ao aleitamento materno se deve às diversas campanhas do SUS, porém, ainda existem alguns mitos como “meu leite é fraco”, não tenho leite , ou “meu bebé não quis mais”.

“Tudo isso pode ser mudado com uma uma pega correta por parte do bebé , que leva a maior liberação de hormônios responsáveis pela produção de leite”, explica a médica Maria Raris.

Ela destaca a importância do aleitamento materno e seus benefícios tanto para a criança, quanto para mãe que amamenta – e funciona como prevenção para alguns problemas futuros.

“Os benefícios da amamentação natural são inúmeros , e se estendem também à mãe. A amamentação natural leva ao fortalecimento da musculatura da face , a construção do laço mãe/bebe , reduzindo assim a chance de desenvolver transtornos de ansiedade”, explica.

Segundo ela, o ato da sucção faz com o que o bebé não adote hábitos deletérios como uso de chupeta ou dedo , leva ao alinhamento da mordida, desenvolvimento de uma vida intestinal saudável, o que diminui a incidência de alergias respiratórias, gastroenterites, alergias alimentares.

“Por ser o leite materno a maior fonte de ferro biodisponível, os bebés nutridos exclusivamente por ele têm menor chance de desenvolver anemia e, consequentemente, as patologias a ela relacionadas como a  redução da incidência de diabetes, osteoporose, e obesidade na idade adulta”, destaca.

Quanto à mãe, foi constatado números menores de casos de depressão pós parto devido a conexão criada entre a mãe e o bebé , liberação de ocitocina (hormônio produzido no cérebro, que tem papel importante para facilitar o parto e a amamentação) levando à sensação de bem-estar , retorno mais rápido ao peso pré-gestacional, ação contraceptiva da lactação (LAM – métodos de amenorreia lactacional), retorno à vida sexual mais precoce , entre outros.

Os benefícios da amamentação para as crianças incluem desde a diminuição dos riscos de infecções respiratórias e intestinais, de obesidade e de distúrbios psiquiátricos, até o aumento do QI.

“E para a mãe, assim que o aleitamento inicia, acontece a diminuição das chances de sangramento uterino, de depressão pós-parto e, a longo prazo, ela conta com a diminuição do risco de desenvolver câncer de útero, ovário e mama”, informa a pediatra do Hospital Igesp.

Com Assessorias

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