Em 26 de junho, o mundo celebra o Dia Internacional de Combate às Drogas, uma data estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) para aumentar a conscientização sobre o problema global do uso de substâncias e a necessidade de ações preventivas. A data é um chamado à ação, à prevenção e ao cuidado com aqueles que enfrentam os efeitos devastadores da dependência química.

Segundo a mais recente edição do Relatório Mundial sobre Drogas, divulgado pela ONU, mais de 292 milhões de pessoas consumiram alguma substância psicoativa, um aumento de 20% em dez anos. Estes números reforçam a urgência de iniciativas voltadas para prevenir e tratar a dependência de drogas.

Embora cerca de 64 milhões de pessoas em todo o mundo sofram de transtornos associados ao uso de drogas, apenas uma em cada 11 pessoas recebeu tratamento”, afirmam os responsáveis pela publicação.

As mulheres sofrem mais com a negligência. “Apenas uma em cada 18 mulheres com transtornos associados ao uso de drogas recebeu tratamento, em comparação com um em cada sete homens”, diz o documento. Em meio aos desafios do tratamento convencional contra a dependência química, uma aliada poderosa ganha cada vez mais destaque: a Educação Física.

Muito além dos muros das academias e quadras esportivas, o exercício físico vem sendo reconhecido pela ciência como um recurso terapêutico de alto impacto, com resultados comprovados na recuperação de pessoas que sofrem com o uso abusivo de álcool, tabaco e outras substâncias psicoativas“, diz Fernanda Martins, profissional de Educação Física especialista em Saúde Pública com foco em dependência química.

Movimento que transforma

Estudos científicos recentes mostram que a atividade física é capaz de reduzir significativamente sintomas como ansiedade, depressão, insônia e impulsividade — fatores diretamente ligados às recaídas. Uma meta-análise publicada em 2025 pela revista Applied Sciences apontou que programas estruturados de exercício aeróbico, com duração mínima de 12 semanas, provocam melhorias consistentes na saúde mental, no controle do desejo pelo uso e até na cognição dos pacientes.

Já uma revisão publicada pela PLOS ONE, com dados de 43 estudos e mais de 3 mil participantes, revelou que 75% dos programas que incluíam atividades físicas tiveram resultados positivos na redução ou abandono do consumo de substâncias. Os exercícios mais eficazes incluíram caminhadas, corrida, musculação, yoga e tai chi, além do condicionamento físico, promovem relaxamento, foco e sensação de bem-estar.

A explicação dos benefícios está nos efeitos neurobiológicos do exercício. Praticar atividades físicas regula neurotransmissores como a dopamina e a serotonina — os mesmos afetados pelo uso de substâncias psicoativas. Ou seja, o exercício não apenas fortalece o corpo, mas também ajuda a reconstruir o cérebro”, afirma a especialista.

Do ponto de vista comportamental, a prática esportiva cria uma nova rotina, ocupando o tempo antes consumido pelo uso, promovendo a sociabilidade e reforçando o sentimento de pertencimento. E os benefícios não se restringem ao tratamento: a Educação Física também é uma poderosa ferramenta de prevenção.

Não a toa, vem ganhando cada vez mais espaços nas equipes multiprofissionais atuantes nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), centros de recuperação, clínicas e programas de reabilitação, o que é um avanço significativo, mas ainda há um longo caminho a ser explorado.

Neste 26 de junho, mais do que reforçar alertas, é tempo de propor soluções. “Valorizar o movimento como parte da recuperação é ampliar horizontes, devolver autonomia e criar oportunidades reais de transformação. Porque, em muitos casos, movimentar o corpo pode ser o primeiro passo para salvar uma vida”, diz a professora de Educação Física.

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Números sobre o uso de drogas no Brasil

Paulo Leme Filho, advogado e voluntário na luta contra a dependência química, datas que se dedicam a falar sobre vícios nos convidam a refletir sobre os impactos devastadores da dependência e a importância da conscientização e prevenção. Para ele, esta é uma oportunidade para reforçar a mensagem de que a prevenção salva vidas. Essa reflexão é fundamental diante de dados alarmantes.

Paulo Leme Filho ressalta a importância do Dia Internacional de Combate às Drogas. (Divulgação/Paulo Leme Filho)

Cocaína

No Brasil, o uso de cocaína e derivados é uma preocupação crescente, com aproximadamente 2,5 milhões de usuários, segundo o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). A maconha continua sendo a droga mais consumida, com cerca de 4% da população brasileira relatando uso recente.

Cigarro

tabagismo mata mais de 8 milhões de pessoas anualmente e causa danos ambientais severos, com 600 milhões de árvores cortadas e 84 milhões de toneladas de CO2 liberadas para a produção de cigarros, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Além disso, o cigarro contém cerca de 4.700 substâncias tóxicas, sem que haja uma forma segura de consumo.

Álcool

alcoolismo, por sua vez, afeta aproximadamente 10% da população global. No Brasil, a pesquisa Vigitel 2021 revela que 18,4% da população é bebedora abusiva, e o consumo médio de álcool é de 8,7 litros por pessoa por ano, superando a média mundial. O uso abusivo de álcool está associado a mais de 200 doenças e é responsável por 100 mil mortes anuais no país, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Com Assessorias

 

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