Infelizmente, depois das tempestades, vêm as doenças típicas das chuvas. Com a chegada do verão, além da elevação das temperaturas, é comum a ocorrência de chuvas de curta duração e de forte intensidade, o que aumenta os riscos de enchentes, alagamentos, transbordamento de esgotos e rios e de deslizamentos de terra – como ocorreram neste final semana no Rio de Janeiro. Além dos transtornos causados pelas tempestades, o contato com a água contaminada também deve ser motivo de preocupação.

Com isso, crescem os números de casos de Leptospirose, doença transmitida pelo contato com a urina de ratos, Hepatite A e Doenças Diarreicas Agudas (DDA) – ou diarreias infecciosas, também conhecidas como infecção gastrointestinal -, além da dengue, doença infecciosa causada por um vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. 

Segundo infectologista Filipe Piastrelli, coordenador do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, essas doenças aparecem de forma silenciosa e por isso, as pessoas que tiveram contato com água contaminada devem procurar ajuda médica o quanto antes.

“Algumas dessas doenças ocorrem pela ingestão de alimentos e água contaminada e outras pelo contato, especialmente em alagamentos. Isso porque as bactérias e vírus que prejudicam a nossa saúde costumam se proliferar nesses locais”, afirma a médica Clara Buscarini, tutora da área de infectologia da Prevent Senior.

A infectologista também pede atenção ao aparecimento de animais peçonhentos, como serpentes, escorpiões e aranhas, comuns em eventos naturais como fortes chuvas.

Principais doenças causadas pelas chuvas

Para auxiliar nos cuidados com a saúde no período mais chuvoso do ano, o especialista orienta como se proteger.

Leptospirose

De acordo com o Ministério da Saúde, entre janeiro e novembro de 2023, o país registrou cerca de 2 mil casos de Leptospirose e mais de 180 mortes. A transmissão costuma acontecer quando as bactérias presentes na água ou lama contaminadas penetram o organismo por meio de ferimentos, como arranhões e cortes.

Os principais sintomas são dores pelo corpo, principalmente nas panturrilhas, febre,  dor de cabeça, vômito, diarreia e icterícia rubínica (coloração amarelada na pele e nos olhos, que por vezes podem ficar avermelhados). O período de incubação da doença pode chegar a até 30 dias, mas normalmente os sintomas se manifestam entre 7 e 14 dias após a exposição ao risco.

O diagnóstico da doença é feito por meio de exame de sangue. O tratamento da Leptospirose consiste no uso de antibióticos e medidas de suporte clínico, muitas vezes requer internação hospitalar.

“A qualquer sinal dos primeiros sintomas é importante procurar um médico e relatar o contato com a enchente, para que seja feita uma melhor avaliação clínica para a possibilidade de Leptospirose e o tratamento seja instituído precocemente caso seja pertinente. A Leptospirose pode evoluir com comprometimento renal, hepático e pulmonar e até mesmo levar à morte.”, explica o infectologista.

Para evitar a transmissão da doença é importante minimizar ao máximo o contato com a água suja e barrenta. Além disso, sair rapidamente do ambiente atingindo é fundamental para que as bactérias não penetrem na pele, afirma o especialista.

Hepatite A

É causada pelo vírus VHA (adquirido pelo consumo de água ou alimentos contaminados) e pode ser contraída quando há o consumo de alimentos ou líquidos contaminados. Os primeiros sintomas da doença são perda de apetite, dores abdominais, dores nos músculos e nas articulações, náusea, vômito, fadiga e perda de apetite. É importante lembrar que é possível evitar essa doença por meio da vacinação.

Infecção gastrointestinal

As Doenças Diarreicas Agudas são caracterizadas por uma infecção gastrointestinal, que pode ser causada por diferentes agentes, como bactérias, vírus ou parasitas. A doença altera a consistência das fezes, que fica aquosa ou pouco consistente, e há o aumento do número de evacuações em 24 horas, quadro que pode ser acompanhado de vômitos.

Amebíase

Mais uma infecção parasitária, comum em regiões sem saneamento, por meio da ingestão ou contato com água contaminada. Acomete principalmente o intestino, e os principais sintomas são: cólicas abdominais, fezes pastosas com sangue e muco, fadiga, gases, dor para evacuar, perda de peso, vômito e diarreia.

Dengue, Zika e Chikungunya

Por mais que não seja causada pelo contato com a água contaminada, a incidência da dengue é maior nesta época do ano, já que a combinação da chuva com a umidade e o calor propiciam o ambiente ideal para a proliferação dos mosquitos Aedes Aegypti, que são os transmissores da doença, por meio da picada.

Os períodos de chuvas intensas, aumenta a preocupação dos especialistas também com a proliferação dos casos de Dengue, Zika e Chikungunya, que são provocadas pelo mosquito Aedes aegypti, cuja reprodução é maior durante a estação mais quente do ano.

Os principais sintomas são indisposição, manchas avermelhadas na pele, dor de cabeça e pelo corpo – principalmente nas articulações -, dores abdominais, além de febre alta. Quem apresenta esses sintomas deve procurar atendimento médico, pois são doenças potencialmente graves.

“A principal forma de prevenção é eliminar pontos que podem acumular água parada e que provocam o surgimento de poças de água, locais propícios para a proliferação das lavas do mosquito transmissor dessas três doenças. Para isso, é importante manter caixas d´água bem tampadas, evitar o acúmulo de lixo, realizar a limpeza frequente de ralos, calhas além de eliminar pratos em vasos de plantas”, reforça Dr. Filipe.

  • O que fazer em casos de enchentes

    Caso você tenha sido vítima de uma inundação, a limpeza dos ambientes atingidos deve ser feita quando a água baixar e sempre com o uso de protetores como luvas, botas impermeáveis ou sacos plásticos duplos para pernas e braços.

    O que não puder ser recuperado deve ser descartado e o barro que permanecer nos ambientes, utensílios, móveis e outros objetos deve ser removido usando escova ou vassoura, sabão e água limpa. Para a limpeza de ambientes e superfícies deve-se utilizar produtos à base de hipoclorito de sódio (como água sanitária).

    Todos os alimentos que tiveram contato com a água das enchentes devem ser jogados fora, pois mesmo quando lavados e secos, ainda podem estar contaminados.

    Atenção com as crianças, elas não devem jamais brincar com a água suja das poças e inundações.

Vai sair de casa e precisa caminhar?

Muitas vezes, a chuva aparece quando estamos no meio do caminho, entre um compromisso e outro, mas é preciso ter atenção. A escolha de um calçado ideal é o primeiro passo, principalmente se o caminho ou a região de destino possuir risco de alagamento. Além de verificar se a sola pode ser escorregadia, dê preferência para os calçados fechados, como botas e galochas.

“Quando não existe alternativa e a pessoa precisa ter contato com a água acumulada das chuvas, orientamos o uso de botas emborrachadas de cano alto para evitar o contato da pele com a água. Especialmente nesta época do ano, é preciso ter atenção redobrada ao tipo de calçado que você usa, caso surja uma chuva no meio do caminho”, orienta a médica.

Em dias de chuva, tenha atenção!

  • Evite transitar por ruas alagadas
  • Se aventurar em correntezas durante um alagamento pode ser fatal
  • Procure não pisar em poças de água, principalmente próximas a lixeiras e bueiros
  • Fique longe da rede elétrica
  • Não se abrigue debaixo de árvores
  • Nunca reaproveite alimentos ou medicamentos que entraram em contato com a água das chuvas
  • Proteja os pés e mãos com botas e luvas de borracha, ou sacos plásticos duplos
  • Permaneça o menor tempo possível na água ou lama – Quanto maior o tempo de contato, maior será o risco de contaminação

Tive contato com a água, e agora?

Dra. Clara Buscarini também recomenda que tomar um bom banho de água quente, após o contato com a água, pode ajudar, mas é preciso atenção.

“De forma geral, após o contato prolongado com água parada de enchente, nada melhor que tomar um banho quente e se aquecer. Entretanto, a contaminação pelas nossas mucosas pode causar infecções. Então, a melhor atitude, nesta situação, é observar possíveis sinais e sintomas relacionados às doenças citadas e procurar atendimento médico na presença deles”, disse a médica.

Além do contato com a água, é muito importante não consumir, em qualquer hipótese, alimentos que tenham tido contato com a água parada, além de manter a carteira de vacinação sempre atualizada. “Algumas doenças com incidência na época das chuvas podem ser prevenidas com vacinas, como hepatite A, a diarreia por rotavírus e os agravamentos da dengue”, afirmou.

Após o contato com a água, tenha atenção aos seguintes sintomas:

  • Febre
  • Calafrios
  • Diarreia
  • Náuseas e vômitos
  • Dor de cabeça ou muscular
  • Cansaço, fraqueza e falta de apetite

Ao aparecimento destes sintomas, procure imediatamente uma unidade de saúde.

ATENÇÃO! Somente médicos devidamente habilitados podem diagnosticar doenças, recomendar tratamentos e receitar medicamentos. Em caso de suspeita de sintomas, procure um médico.

Com assessorias

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