Apesar dos avanços nos últimos anos na prevenção, diagnóstico e tratamento, as hepatites virais ainda representam uma ameaça significativa à saúde pública global. Segundo o Relatório Global sobre Hepatites de 2024, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), essas infecções são responsáveis por mais de 3 mil mortes por dia, totalizando 1,3 milhão de óbitos por ano no mundo.
No Brasil, os dados recentes do Ministério da Saúde revelam uma tendência inesperada: enquanto os casos de hepatites B e C seguem em queda no país, a hepatite A registrou um expressivo aumento de 2.080 casos, dos quais 90% ocorreram em adultos, sendo quase 70% homens. Os dados se referem a 2023, último ano com informações consolidadas; os números de 2024 ainda são preliminares e não permitem comparações confiáveis.
Em São Paulo, o número de casos de hepatite A em 2025 já representa mais da metade de todos os registros do ano anterior. Na capital paulista, os casos saltaram de 143 em 2022 para 399 em 2023 — quase o triplo em apenas um ano. A taxa de incidência passou de 1,2 para 3,2 casos por 100 mil habitantes. No estado, os números subiram de 276 para 892, elevando a taxa de 0,6 para 1,9 por 100 mil habitantes.
Enquanto, isso, em Belo Horizonte (MG), os casos triplicaram em relação a 2024, Um novo surto registrado em Curitiba (PR) em 2024 somou mais 315 casos e cinco óbitos, mostrando que o vírus está em circulação e exige atenção, principalmente entre adultos não vacinados.
Aumento da hepatite A reacende alerta para infecções silenciosas
De acordo com o infectologista Renato Grinbaum, professor do curso de Medicina da Unicid, o cenário exige atenção redobrada. No passado, a hepatite A era mais comum na infância, sendo transmitida principalmente por água e alimentos contaminados ou pela falta de higienização das mãos.
Com a introdução da vacina, os casos diminuíram drasticamente. Contudo, recentemente, observamos um aumento significativo — com uma mudança importante na via de transmissão. Hoje, a forma predominante é a sexual, especialmente em práticas desprotegidas”, explica.
O aumento expressivo de casos de hepatite A em adultos no Brasil reacende o alerta para a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e da vigilância ativa para evitar complicações graves, como cirrose e câncer de fígado. A campanha Julho Amarelo reforça a vacinação e a testagem para hepatites virais.
A identificação de surtos e a resposta institucional seguem protocolos rigorosos. “Os alertas coletivos são emitidos pela vigilância sanitária com base nas notificações compulsórias. O monitoramento contínuo é essencial para conter avanços e orientar estratégias de saúde pública”, afirma Grinbaum.
Além da transmissão por sangue e relações sexuais sem preservativo, a hepatite A é transmitida pela via fecal-oral, ou seja, pelo consumo de água e alimentos contaminados ou por práticas de higiene inadequadas, reforçando a importância de hábitos simples como lavar bem as mãos e os alimentos, utilizar preservativos e não compartilhar objetos pessoais.
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Hepatites B e C em queda
Já a hepatite B, apesar de não ter cura, pode ser controlada com medicamentos antivirais, evitando a progressão da doença, enquanto a hepatite A é prevenível por meio da vacinação, fundamental principalmente para adultos não imunizados.
Se, por um lado, a hepatite A cresce, por outro as hepatites B e C apresentam uma tendência de queda nos últimos anos, conforme dados disponíveis no Painel de Indicadores de Hepatites Virais do Ministério da Saúde. A explicação está principalmente na vacinação em massa e nos avanços no tratamento.
A vacina contra a hepatite B está presente no calendário vacinal há décadas, o que reduziu de forma significativa os casos. Já a hepatite C, que não tem vacina, passou a ser tratada com medicamentos altamente eficazes. Com a cura de milhares de portadores crônicos, reduziu-se também o número de transmissores da doença”, afirma o professor.
Ele destaca ainda o papel do controle rigoroso em bancos de sangue e a redução do uso de drogas injetáveis como fatores decisivos. A campanha Julho Amarelo deste ano também destaca os avanços no tratamento da hepatite C, que atualmente pode ser curada em mais de 95% dos casos com medicamentos orais, disponíveis gratuitamente no SUS e com poucos efeitos adversos.
A recomendação para o mês de conscientização é clara: manter a vacinação em dia, praticar sexo seguro, evitar o compartilhamento de objetos cortantes e realizar testagens periódicas. “Julho Amarelo é um convite à responsabilidade coletiva. Testar, prevenir e tratar salva vidas e pode mudar o curso de uma epidemia silenciosa que ainda persiste”, conclui Grinbaum.
Cirrose, insuficiência hepática e câncer
A hepatologista Patrícia Almeida, do Hospital Israelita Albert Einstein, alerta que as hepatites são doenças silenciosas que podem evoluir para cirrose, insuficiência hepática e câncer, quando não diagnosticadas e tratadas a tempo.
Por isso, o diagnóstico precoce é fundamental, já que muitas pessoas não apresentam sintomas ou os percebem de forma tardia, sendo que sinais como cansaço, febre, dor abdominal, urina escura, fezes claras e icterícia podem indicar a infecção.
Para grupos de risco, como pessoas acima de 40 anos, profissionais de saúde, integrantes da comunidade LGBTQIA+ e quem recebeu transfusão antes de 1993, o teste rápido gratuito oferecido pelo SUS é essencial para detectar a doença precocemente e evitar complicações.
O Julho Amarelo é uma oportunidade para que a população verifique sua carteira de vacinação, realize a testagem gratuita, adote hábitos saudáveis, reduza o consumo de álcool e pratique atividade física, cuidando do fígado que trabalha diariamente pela saúde de todo o organismo.
Com prevenção, diagnóstico precoce e tratamento, podemos evitar complicações graves e garantir mais qualidade de vida. Este é o momento de cuidar do seu fígado e de reforçar a importância da saúde hepática”, conclui a Dra. Patrícia Almeida.
Com Assessorias